skip to main
|
skip to sidebar
.
30/06/2013
O plebiscito do povo
Rodolpho Motta Lima
As manifestações populares prosseguem e, com elas, as mais variadas
interpretações. Fato inegável, porém, é que, apesar da notória motivação
de alguns grupos que, no início, pretenderam canalizar o movimento
para um golpe institucional, os resultados já obtidos revelam o
indiscutível: é o povo que deve encaminhar o seu destino e só tem
sentido a existência da chamada classe política se ela de fato exercer o
papel que a democracia representativa lhe confere.
Não cabe desconsiderar, nesse momento, as consequências para o
próprio Governo Federal, materializadas na queda da popularidade de
Dilma (de 57% para 30% de “bom” ´”otimo” para o Governo), mesmo sabendo
que não é fato novo esse declínio em momentos de crise, principalmente
quando amplificada pela mídia. Ele foi experimentada por Lula (28%) e,
muito mais, por FHC (13%). Além disso, é bem fácil imaginar que, se
houvesse também pesquisas sobre outros políticos governantes
(governadores, prefeitos, etc), os números registrariam quedas iguais,
ou maiores. Há um divórcio entre o mundo dos políticos no geral e o
mundo das pessoas que eles dizem representar. O divórcio é maior para
uns, menor para outros, mas exige mesmo reflexões.
Em muitos lugares do planeta em que também ocorreram manifestações
populares, a ausência de sensibilidade por parte dos entes
governamentais só fez aumentar o clamor das ruas e praças,
radicalizando posições, levando ao impasse. Mas não está sendo assim
aqui no Brasil. Aqui, a Presidenta Dilma – que muitos acusam de não ter
jogo de cintura para conduzir a política em meio a tantas raposas e
cobras criadas – soube colocar-se, em resposta ao movimento, não apenas
reconhecendo, em verdadeira autocrítica, a necessidade de dar ouvidos
às reivindicações, mas elencando, como consequência desse
reconhecimento, algumas metas a serem perseguidas de imediato . (Os grifos em verde negritado são do ContrapontoPIG)
Em um passe de mágica, o quase sempre inoperante e fisiológico
Congresso brasileiro apressou-se em votar a destinação dos recursos do
pré-sal para a educação (e para a saúde), medida que sempre fora
defendida por Dilma e que ela recolocou no centro dos debates.
Os legisladores, acuados pela força dos movimentos populares,
colocaram rapidinho abaixo a PEC 37 e votaram a caracterização da
corrupção como crime hediondo.
Prefeitos e governadores dos mais
variados partidos promoveram a revisão das tarifas de transporte, um
passo inicial para o desenvolvimento da discussão sobre esses serviços,
conforme proposto pela Presidenta.
Já que estamos em momento futebolístico, creio que, a partir de
agora, vai começar o segundo tempo da manifestação popular. E, sem
dúvida, a maior vitória a obter-se das marchas nas ruas será, se
concretizada, a realização do plebiscito sugerido por Dilma, para
definir a reforma política de que carece o país. Como sempre, tenta-se
desqualificar a proposta, acusando a Presidência de ter voltado atrás de
sua proposta original , que falava em uma Constituinte exclusiva. Mas a
política é, muitas vezes, a arte do possível, e o que Dilma fez, para
manter sustentável sua tese de delegar decisões diretas ao povo, foi
encampar a posição que uniu a maioria dos seus apoiadores e mesmo de
outros segmentos da sociedade, como a OAB e o STF.
Não podendo mais vociferar contra a Constituinte, não mais colocada
em discussão, a Oposição – cujo único programa é ser Oposição – bate-se
agora contra o plebiscito e se diz defensora do referendo.
Como afirmei no artigo anterior, e reafirmo agora, quem não sabe
brincar nem deve entrar na brincadeira. A exaltação das manifestações
populares, aplaudida como um despertar, não pode ser – porque nunca foi –
uma palavra de ordem da direita. As ruas pertencem a todos. Agora, as
coisas estão colocadas como devem ser. Os golpistas de sempre querem que
a única “missão” do movimento seja a punição dos inimigos que
consideram corruptos. Quanto aos “amigos”, silêncio total... Acusam o
governo de “desfocar” esse objetivo, que é, aliás a bandeira mais fácil
de carregar, porque mesmo os corruptos a defendem... Você conhece alguém
que defenda a corrupção? A corrupção deve , sim, ser combatida, como
vem sendo. Aliás, vem aí o outro mensalão, o da terra do Aécio, que
terá como relator o novo ministro empossado no STF. E que tal um
movimento para redescobrir a verdade já revelada no livro “Privataria
Tucana”, de Amauri Ribeiro Jr? E o Cachoeira, por onde anda?
A corrupção não tem um dono, como insiste em querer fazer crer a
oposição e a mídia manipuladora. Ela transcende partidos, é endêmica,
fruto de um sistema apodrecido que passa pelos “sagrados” valores
capitalistas e contamina a política.
E aqui voltamos ao plebiscito. Chega a ser irônica a alegação de que
ele é inoportuno, inexequível, e que o bom é o referendo. Essa
distinção marca mesmo as posições, agora claras, de quem acredita na
força do povo e de quem apenas quer manipulá-la. O plebiscito nasce do
povo e impõe uma decisão aos seus representantes. O referendo é
articulado pelos políticos e sutilmente submetido ao povo. O plebiscito é
a morte das raposas. O referendo perpetua a situação em que as raposas
tomam conta – e se alimentam – das galinhas.
Há, por parte da turma antipovo - que pulula por aí com discurso
demagógico - um grande receio de que a moda pegue. Já pensou, por
exemplo, o povo decidindo diretamente a taxação das grandes fortunas, a
pauta da Comissão de Direitos Humanos do deputado homofóbico, a
realização de uma Lei dos Meios, etc etc etc?
Há quem diga, hipocritamente, que o povo não entenderia a
“complexidade” de uma reforma política. Essa turma precisa se definir:
afinal, o povo é ou não é soberano?
Nos recentes episódios, ele foi à
rua contra a PEC 37, porque foi esclarecido a respeito. Um plebiscito
pressupõe debate prévio, esclarecimentos... Mas é isso justamente que a
“raposada” não quer... Então, que venha o plebiscito.
Rodolpho Motta Lima. Advogado
formado pela UFRJ-RJ (antiga Universidade de Brasil)
e professor de Língua Portuguesa do Rio de Janeiro, formado
pela UERJ , com atividade em diversas instituições do Rio de
Janeiro. Com militância política nos anos da ditadura, particularmente
no movimento estudantil. Funcionário aposentado do Banco do Brasil.
__________________
PITACO DO ContrapontoPIG
Por que será que só a palavra plebiscito deixa a direita em pânico?
Direitistas fogem de consulta popular como o diabo da cruz
__________________
.
Nenhum comentário :
Postar um comentário
Veja aqui o que não aparece no PIG - Partido da Imprensa Golpista