Intelectual, ex-ministro e ex-tesoureiro de
Fernando Henrique Cardoso, Luiz Carlos Bresser Pereira publica, nesta
segunda, um artigo antológico; no texto, ele protesta contra o "ataque
moralista da direita" no Brasil; segundo ele, Lula superou o medo dos
mercados, recuperou o crescimento e distribuiu renda, deixando a direita
sem discurso; com Dilma, a "direita recuperou a voz, mas uma voz vazia,
liberal e moralista"; Bresser fez também uma defesa enfática de José
Genoino, um dia depois de FHC ter cobrado pressa do STF e a prisão dos
réus da Ação Penal 470
247 - Intelectual
respeitado, que foi ministro de FHC e tesoureiro do PSDB, o cientista
político Luiz Carlos Bresser Pereira parece cada vez mais desapontado
com os rumos tomados por ex-aliados. Ontem, no Estado de S. Paulo, FHC
publicou um artigo em que cobrava pressa do Supremo Tribunal Federal e
exigia a prisão dos réus da Ação Penal 470 (leia aqui).
Hoje, no que talvez seja uma resposta a FHC, Bresser condena o "ataque
moralista da direita" no Brasil. Segundo o cientista político, a direita
brasileira adota um discurso vazio, que passa pelo moralismo e pela
negação da própria política, sem que tenha uma agenda para o
desenvolvimento. Leia abaixo:
O ataque moralista da direita
Durante o governo Dilma, a direita recuperou a voz, mas vazia, de condenação de todos os políticos
Nestes últimos meses vimos a direita
recuperar o dom da palavra. Em 2002 ela se apavorara com a perspectiva
da eleição de um presidente socialista. O medo foi tanto e contaminou de
tal forma os mercados financeiros internacionais que levou o governo
FHC a uma segunda crise de balanço de pagamentos.O novo presidente, entretanto, logo afastou os medos dos ricos que então perceberam que não seriam expropriados. Pelo contrário, viram um governo procurando fazer um pacto político com os empresários industriais e que não hostilizava a coalizão política de grandes e médios rentistas e dos financistas.
Por outro lado, o novo governo de esquerda pareceu haver logrado retomar o crescimento econômico, ao mesmo tempo que adotava uma politica firme de distribuição de renda. Na verdade, beneficiava-se de um grande aumento nos preços das commodities exportadas pelo país, e da possibilidade (que aproveitou de forma equivocada) de apreciar a moeda nacional que se depreciara na crise de 2002.
Lula terminou seu governo com aprovação popular recorde, e com a direita brasileira sem discurso. Deixou, porém, para sua sucessora, a presidente Dilma, uma taxa de câmbio incrivelmente sobreapreciada, que, depois de haver roubado das empresas brasileiras o mercado externo, agora (desde 2011) negava-lhes acesso ao próprio mercado interno.
Sem surpresa, os resultados econômicos dos dois primeiros anos de governo foram decepcionantes. E, no seu segundo ano, foram combinados com o julgamento do mensalão pelo STF, transformado em grande evento político e midiático.
Com isto o governo se enfraqueceu, e a direita brasileira recuperou a voz. Mas uma voz vazia, liberal e moralista. Liberal porque pretende que a solução dos problemas é liberalizar os mercados ainda mais, não obstante os maus resultados que geraram. Moralista porque adotou um discurso de condenação moral de todos os políticos, tratando-os de forma desrespeitosa, ao mesmo tempo que continuava a apoiar em voz baixa os partidos de direita.
Quando, devido às manifestações de junho, os índices de aprovação da presidente caíram, a direita comemorou. Não percebeu que caíam também os índices de aprovação de todos os governadores. Nem se deu conta de que a presidente logo recuperaria parte do apoio perdido.
Quando o STF afinal garantiu a doze dos condenados do mensalão um novo julgamento de alguns pontos, essa direita novamente se indignou. Agora era a justiça que também era corrupta.
Quando o deputado José Genoino (condenado nesse processo porque era presidente do PT quando as irregularidades aconteceram) manifestou o quanto vinha sofrendo com tudo isso --ele que, de fato, sempre dedicou a sua vida ao país, e hoje é um homem pobre--, essa direita limitou-se a gritar que o Brasil era o reino da impunidade, em vez de perceber que o castigo que Genoino já teve foi provavelmente maior do que sua culpa.
Os países democráticos precisam de uma direita conservadora e de uma esquerda progressista. Mas cada uma deve ter um discurso que faça sentido, em vez do mero moralismo que a direita vem exibindo.
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