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18/10/2013
Paulo Nogueira: novo na política seria aumentar imposto dos ricos
Enviado por João Paulo Caldeira, sex, 18/10/2013 - 11:33
Sugerido por Webster Franklin
Carta Maior
Novo mesmo, na política nacional, seria alguém falar, como o Nobel
de Economia, Robert Schiller, em aumentar o imposto dos ricos.
Paulo Nogueira
No mundo inteiro se consolida a ideia
de que o maior desafio para os próximos anos, em escala planetária, é o
combate à desigualdade social.
Nos últimos 30 anos, sob o impulso de
Reagan num lado do Atlântico e Thatcher no outro, o chamado “1%”, para
usar a expressão consagrada pelo movimento Ocupe Wall St, foi objeto de
um favorecimento amplo, abjeto e descarado.
Os protestos que se espalharam globo
afora nos últimos anos foram um potente, severo, claro sinal de que os
“99%” chegaram ao limite da paciência. Não há iniquidade que possa
perdurar indefinidamente sem choques sociais ao fim dos quais – para
lembrarmos um caso exemplar, o da França de 1789 – cabeças privilegiadas
podem terminar de olhos esbugalhados num cesto.
O Nobel da Economia de 2013, Robert
Schiller, falou disso recentemente. Schiller disse temer pela escalada
mundial da desigualdade no futuro, e afirmou esperar que os governos
ajam quanto antes para evitar isso. Basicamente, aumentando o imposto
dos ricos. “Não para que os ricos não fiquem ricos”, disse ele, “mas
para que as coisas não se tornem malucas demais.”
Bem, enquanto isso, no Brasil, onde
este tema – o da desigualdade – deveria estar no topo do topo da agenda
nacional, dada a magnitude da iniquidade nacional, os pretensos
candidatos à presidência em 2014 passam ao largo do debate como se
vivessem na Escandinávia.
É desanimador, visto que falar, falar e
ainda falar no horror da desigualdade é vital para que se firme um
consenso na sociedade de que é preciso dar um basta – e rápido – a ela.
Recentemente, Serra listou num artigo
oito desafios para o futuro presidente, ou presidenta. E conseguiu não
incluir a desigualdade entre eles. Vê-se, por aí, a formidável
desconexão entre Serra – e o PSSB – e a realidade como ela é.
Considere agora Marina. Quantas vezes,
desde que foi anunciada a aliança com Eduardo Campos, ela usou o jogo
de palavra “programático e pragmático” – algo que, a rigor, não
significa nada? E na questão da iniquidade, quanto ela tocou? E em
aumentar o imposto dos ricos?
Não adianta falar em “nova política”,
como Marina vem fazendo, à base de embalagens e frases feitas – mas sem
conteúdo, sem ideias que façam pensar.
Recentemente, passou pelo Brasil um
ex-prefeito inovador de Bogotá, Enrique Peñalosa. Você ouve Peñalosa e
diz: “Esse cara tem ideias”. No campo da mobilidade urbana, por exemplo,
Peñalosa tem a seguinte definição: “Um ônibus com 100 pessoas que passe
por um carro engarrafado é democracia.” Um conceito simples como este
pode promover uma revolução em mobilidade urbana – o que de fato
aconteceu sob Peñalosa em Bogotá.
O novo não é novo porque alguém diz
que é novo. Não basta falar. O novo é novo porque, no campo das coisas
concretas, rompe com o velho.
Os protestos de junho mostraram que os
brasileiros querem algo novo na política, capaz de transformar o Brasil
numa sociedade justa em regime de urgência.
Houve avanços nos últimos dez anos,
sob o PT? Claro. Mas a baixa velocidade desses avanços está
dramaticamente exposta em coisas como o tratamento dispensado aos
índios, a forma como casas de pobres foram removidas para obras da Copa e
o desaparecimento de tantos Amarildos.
Novo mesmo, na política nacional,
seria alguém falar, como o Nobel Schiller, em aumentar o imposto dos
ricos – tanto mais num país em que a Globo é flagrada numa sonegação
documentada e bilionária, relativa à compra dos direitos da Copa de
2002, e nada acontece.
Enquanto alguém não disser isso,
teremos a velha política, e com ela velhos privilégios – mesmo que os
candidatos a chamem, numa jogada de marketing, de nova política.
(*) Paulo Nogueira é editor do site Diário do Centro do Mundo.
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