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09/10/2013
EUA preparam lei marcial pós-colapso de Wall Street?
Do Viomundo - publicado em 9 de outubro de 2013 às 18:02
7 de outubro de 2013
O Departamento de Segurança Interna está se preparando para o colapso de Wall Street?
Por Ellen Brown*, no Counterpunch
Relatos dão conta de que o Departamento de Segurança Interna (DHS) está empenhado na preparação de uma operação militar massiva e secreta.
Um artigo da Associated Press em fevereiro confirmou a compra de U$ 1,6 bilhão em munição por parte do Departamento de Segurança Interna.
De acordo com um artigo publicado na Forbes, essa quantidade é suficiente para sustentar uma guerra do tamanho da guerra do Iraque por um período de vinte anos.
O DHS também comprou tanques fortemente armados que foram vistos circulando nas ruas. Evidentemente, alguém no governo está prevendo distúrbios civis sérios. A pergunta é: por que?
Declarações do primeiro ministro britânico Gordon Brown no auge da crise bancária de 2008, reveladas recentemente, oferecem esclarecimentos sobre essa questão.
Um artigo na BBC News, no dia 21 de setembro de 2013, baseado na autobiografia explosiva “Power Trip”, de Damian McBride, o marqueteiro do Brown, diz que o primeiro ministro estava preocupado que a lei e a ordem poderiam desmoronar durante a crise financeira. McBride cita Brown:
– Se os bancos fecharem as portas e os caixas não estiverem funcionando, e as pessoas forem ao Tesco (uma cadeia de mercadinhos) e os cartões delas não forem aceitos, vai tudo explodir. Se não for possível comprar comida ou gasolina, ou remédio para os filhos, as pessoas vão começar a quebrar as janelas para se servir. E assim que as pessoas virem isso na TV será o fim porque todo mundo vai pensar que agora isso é o que todos devem fazer. Será a anarquia. É o que pode acontecer amanhã.
Como lidar com essa ameaça? Brown disse: “Nós teremos que pensar: recorremos ao toque de recolher, colocamos o exército nas ruas, como restauramos a ordem?”.
McBride escreveu no livro “Power Trip”:
– Foi incrível ver Gordon totalmente tomado pelo perigo do que estava prestes a fazer, mas igualmente convencido de que era preciso tomar uma atitude decisiva imediatamente.
Ele comparou a ameaça à crise dos mísseis em Cuba.
O medo dessa ameaça foi ecoado em setembro de 2008 pelo secretário do Tesouro norte-americano Hank Paulson, que supostamente alertou que o governo norte-americano poderia ter de recorrer à lei marcial se Wall Street não recebesse socorro para o colapso do crédito.
Nos dois países o uso da lei marcial foi evitado quando os políticos se dobraram à pressão e salvaram os bancos. Mas muitos arautos estão dizendo que um novo colapso é iminente; e dessa vez muitos governos podem não estar dispostos a oferecer socorro.
Da próxima vez será diferente
O que detonou a crise de 2008 foi uma corrida, não a tradicional ao sistema bancário, mas no chamado sistema financeiro “das sombras”, uma coletânea de intermediários financeiros não-bancários que fornecem serviços semelhantes aos dos bancos comerciais tradicionais, mas não são regulamentados.
Entre eles, fundos hedge, fundos money market, fundos de investimento em crédito, fundos de exchange-trade, fundos de private equity, corretores de securities, empresas de securitização e finanças. Bancos de investimento e bancos comerciais também podem conduzir boa parte de seus negócios neste sistema das sombras, não regulamentado.
O casino financeiro das sombras só cresceu desde 2008, e no próximo colapso do estilo Lehman, os socorros financeiros do governo talvez não estejam disponíveis.
De acordo com as declarações do presidente Obama na assinatura da Lei Dodd-Frank, no dia 15 de julho de 2010, “por causa dessa reforma… não haverá outro socorro com dinheiro do contribuinte – ponto”.
Governos na Europa também estão se distanciando desses socorros financeiros. O Conselho de Estabilidade Financeira (FSB) na Suíça exigiu dos bancos mais expostos ao risco que criem “testamentos em vida”, esclarecendo o que farão em caso de insolvência.
O modelo estabelecido pelo FSB exige que eles socorram seus credores, e os depositantes, ao fim e ao cabo, formam o maior grupo de credores de um banco.
Quando os depositantes não conseguirem ter acesso a suas contas bancárias para tirar dinheiro e comprar comida para seus filhos, podem muito bem começar a quebrar as janelas para se servir.
Pior ainda, eles podem tramar a derrubada do governo controlado pelos financistas. Observem a Grécia, onde a desilusão crescente com a habilidade governamental de socorrer os cidadãos na maior depressão desde 1929 precipitou protestos e ameaças violentas de derrubada do governo.
O medo de um resultado semelhante pode explicar a espionagem massiva dos cidadãos norte-americanos autorizada pelo governo, o uso domésticos de drones e a eliminação do direito ao processo e ao “posse comitatus” (lei federal que proíbe as forças armadas de imporem a lei e a ordem em propriedades que não são do governo federal). As proteções constitucionais estão sendo jogadas pela janela em favor da proteção à elite no poder.
A crise do teto da dívida se aproxima
A crise do momento parece ser o prazo de 17 de outubro para um acordo sobre o orçamento federal ou o risco de calote nas dívidas do governo. Pode ser apenas coincidência, mas dois exercícios de larga escala foram marcados para este mesmo dia, o “Exercício para o grande terremoto” e o “Exercício para a aurora quântica do ataque cibernético aos bancos”.
De acordo com uma coletânea de artigos da Bloomberg sobre o exercício bancário, os preparativos são para ataques de hackers, espionagem patrocinada por governos e crime organizado (fraude financeira).
Uma entrevista começa: “seu banco online pode ficar fora do ar… Você pode se dar conta que não consegue acessar o sistema”. Soa como um ensaio para o Grande Socorro Bancário Americano.
Nefasto como é, isso tem um lado positivo. Socorro bancário e lei marcial podem ser vistos como os espamos finais de um dinossauro.
O golpe financeiro e explorador, que deixou milhões de pessoas sem emprego e sem moradia, chegou ao fundo do poço.
Crises na situação corrente significam oportunidades para soluções mais sustentáveis, que aguardam nos bastidores.
Outros países que enfrentaram o colapso de suas dívidas baseadas em moedas emprestadas sobreviveram imprimindo a própria moeda.
Quando a moeda equiparada ao dólar despencou na Argentina, em 2001, o governo voltou a imprimir seus próprios pesos; governos municipais pagaram compromissos com “títulos de cancelamento de dívida” que circularam como moeda; e vizinhos fizeram trocas com moedas comunitárias.
Depois do colapso da moeda alemã nos anos 20, o governo recuperou a economia nos anos 30 com o lançamento dos “MEFO”, títulos que circulavam como moeda.
Quando a Inglaterra ficou sem ouro, em 1914, o governo lançou os “Bradbury pounds”, similares aos Greenbacks lançados por Abraham Lincoln durante a Guerra Civil norte-americana.
Hoje nosso governo poderia evitar a crise do teto da dívida fazendo algo semelhante:
poderia simplesmente imprimir uns trilhões de dólares e depositar em uma conta.
Essa alternativa poderia ser perseguida pelo governo imediatamente, sem pedir autorização do Congresso ou mudar a lei, como discuti em artigo anterior. Não seria uma medida necessariamente inflacionária, já que o Congresso poderia autorizar o gasto apenas do que já estava previsto no orçamento.
E se o Congresso expandisse o orçamento para investir em infraestrutura e na criação de empregos, isso seria na verdade bom para a economia, já que acumular dinheiro vivo e pagar dívidas reduz significativamente a oferta de dinheiro em circulação.
Trocas diretas entre pessoas e bancos públicos
Em nível local, precisamos estabelecer sistemas alternativos que ofereçam segurança aos correntistas, financiem pequenos e médios negócios e atendam às necessidades da comunidade.
Já houve muito progresso nessa área das trocas diretas na economia.
Em um artigo do dia 27 de setembro, intitulado “A economia direta floresce enquanto os ativistas esvaziam o sistema”, Eric Blair contou que o movimento Occupy está engajado em uma revolução pacífica na qual as pessoas estão abandonando o sistema estabelecido em favor de uma “economia compartilhada”.
As trocas acontecem entre indivíduos, sem impostos, regras ou licenças, e em alguns casos, sem dinheiro impresso pelo governo.
As trocas diretas acontecem em grande parte na internet, onde a vigilância dos clientes mantém a honestidade dos vendedores — não os regulamentos.
Isso começou com o eBay e o Craigslist e desde então cresceu exponencialmente.
O Bitcoin é a moeda privada que vive longe dos olhos predadores das autoridades. Alguns programas de computador estão sendo desenvolvidos para escapar da espionagem da NSA.
Os empréstimos bancários estão sendo evitados em favor do crowdfundig. Cooperativas locais de comida também são uma forma de ficar fora do sistema corporação-governo.
Trocas diretas funcionam localmente, mas nós também precisamos proteger nossos dólares, tanto públicos quanto particulares.
Precisamos de dólares para pagar ao menos parte de nossas contas, e as empresas precisam deles para adquirir matéria-prima. Também precisamos de uma forma de proteger a receita pública que atualmente está depositada e investida nos bancos de Wall Street, que têm uma forte exposição aos derivativos.
Para atender a estas necessidades podemos criar bancos estatais seguindo o modelo do Banco de Dakota do Norte (BND), atualmente nosso único banco estatal.
O BND é obrigado, por lei, a receber todos os depósitos do estado e servir aos interesses do público.
Idealmente, todo estado deveria ter um desses “mini-Feds”. Condados e cidades poderiam ter seus bancos também. Para maiores informações, veja http://PublicBankingInstitute.
Os preparativos para a lei marcial tem sido mencionados há décadas, mas ainda não aconteceram. Talvez possamos evitar esse perigo adotando um sistema mais são e sustentável, que torne desnecessária a ação militar contra os cidadãos norte-americanos.
*Ellen Brown é advogada, presidente do Public Banking Institute, autora de 12 livros, entre eles os best-seller Web of Debt. Em The Public Bank Solution, seu último livro, ela explora modelos de bancos estatais bem sucedidos histórica e globalmente.
Tradução Heloisa Villela
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