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07/01/2014
07/01/2014
As enchentes e a esquerda
Uma vez mais, terminamos e começamos um ano com enchentes causando perdas de vidas e destruição, desta feita nos estados do Espírito Santo e Minas Gerais.
“Choveu, choveu...
A chuva jogou meu barraco no chão
Nem foi possível salvar violão
Que acompanhou morro abaixo a canção
Das coisas todas que a chuva levou
Pedaços tristes do seu coração”
Zelão, Sérgio Ricardo (http://youtu.be/Y1EnktUCpA0)
Carta Maior - 7/1/2014
por Beto Almeida
Uma
vez mais, terminamos e começamos um ano com enchentes causando perdas
de vidas e muita destruição, desta feita nos estados do Espírito Santo e
Minas Gerais. Ainda estamos traumatizados pelas enchentes e
desmoronamentos causados na virada de 2010 para 2011, quando milhares de
pessoas perderam a vida na região serrana do Rio de Janeiro. Muitos
seres simplesmente nem foram mais encontrados. Quantos brasileiros estão
enterrados para sempre no Morro do Bumba, em Niterói, misturados com o
lixo e a lama? Como na canção, a tristeza de violões que continuam a
acompanhar morro abaixo a canção...E muitos Zelões. Quantos Cartolas
soterrados?
Mais traumatizados ainda ficamos, naquela oportunidade, em razão da divulgação dos criminosos desvios de recursos públicos no âmbito da prefeitura, recursos que haviam sido destinados a obras de auxílio, reparação e reconstrução. Tem gente que embolsa até a solidariedade civil e os recursos públicos, indicando ser necessário implantar mecanismos de controle popular, apoiados em uma legislação enxuta e direta, para coibir esta prática nefasta e punir os malfeitores que lucram com a desgraça coletiva.
Os governos andam tentando superar seus evidentes déficits nas obras de prevenção - dado o volume de experiências dolorosas, já deveríamos ter avançado nisto - sendo evidente que nem mesmo os recursos destinados para este fim são aplicados no ritmo, na adequação e com a responsabilidade que se espera. Dilma até que liberou recursos financeiros imediatamente e mobilizou o Exército com seus dispositivos especializados para situações de calamidades. Ainda assim, fica a sensação de que a esquerda está a dever um bom debate sobre o que fazer diante destas situações que se repetem periodicamente, no ritmo das chuvas torrenciais.
O exemplo dos Médicos Cubanos no Espírito Santo
Mesmo sob a cobertura sensacionalista da grande mídia, com pouca sensibilidade para estas situações, foi possível colher exemplos de solidariedade desprendida, de generosidade radical, de coragem infinita e senso coletivo. Vimos uma senhora mineira que cancelou os festejos de final de ano para cozinhar para todos os que haviam perdido suas casas e se sentia feliz e feliz. Escutei no rádio o depoimento de um garoto de 10 anos que dizia que mais importante que jogar um saco de roupas na montanha da solidariedade, era ir lá diretamente, porque, segundo disse “ é importante que as pessoas necessitadas recebam amor, carinho e atenção de todos os que podem ajudar, e elas vão se sentir melhor sabendo que alguém sente amor por elas”.
É uma mostra de um estado de consciência social solidária que se eleva e pode ser desenvolvida, se houver uma política adequada para isto. E vimos também o exemplo dos médicos cubanos, que atuam no Programa Mais Médicos no Brasil, e que trabalharam intensamente na ajuda às vítimas às inundações seja em Minas e no Espírito Santo, proporcionando uma mostra de que levam ao extremo sua função de salvar vidas. Muitas vezes, salvar vidas é pegar numa pá, é carregar um ancião num colchão no meio da enxurrada, é serenar um desesperado e também é ministrar novos medicamentos aos doentes que perderam seus remédios na fúria das águas. Para tudo isto, é preciso estar ali, presente, solidário. Lá estavam os médicos cubanos. Muitos estiveram lutando e derrotando, com bisturis e metralhadoras, o Exército da África do Sul em Angola, quando Mandela ainda estava preso pelo Apartheid. Derrotado o Apartheid, libertado Mandela e a África do Sul, agora os médicos estão aqui, lutando contra as enchentes, e, como na África, sempre salvando vidas....
Mas, e a esquerda? Será que nestes momentos, para além dos governos, com seus instrumentos específicos, os militares, os bombeiros, as equipes de saúde, assistentes sociais, também não seria indispensável que os partidos de esquerda, os sindicatos, a Cut e as demais centrais, o movimento estudantil, a UNE à cabeça, também estivessem mobilizados, ombro a ombro com os militares, para desenvolver uma outra consciência e de fato construir uma solidariedade específica e prática para estas situações?
Provavelmente, este será um tema para denso debate, mas aqui vão alguns exemplos notáveis para argumentar em favor da formação de brigadas de solidariedade dos partidos, dos sindicatos, dos estudantes, para atuarem nestas situações calamitosas, enriquecendo, sem dúvida, a experiência política e humana do campo popular para uma atuação concreta e material nestas ocasiões dolorosas e de muitas perdas.
Uma brigada de médicos cubanos para os EUA
Um exemplo fascinante vem de Cuba. Quando o furacão Katrina devastou Nova Orleans, nos Estados Unidos, e embora houvesse possibilidade de previsão da tempestade, havendo a chance de uma evacuação organizada, ordenada, com o apoio de uma apropriada campanha de comunicação de massas, a população, majoritariamente negra, foi abandonada à sua própria sorte pelo governo Bush.
Certamente, as perdas de vidas teriam sido muito inferiores. Mas, coerente com sua política de estado mínimo, o estado norte-americano não atuou, não mobilizou, não preveniu. Mas, sendo tudo isto terrível, fez muito pior: não autorizou a entrada, nos EUA, de uma brigada de 1200 médicos que Cuba colocou à disposição do governo Bush, para trabalhar no salvamento de muitas vidas que se perderam, imediatamente após a passagem da tempestade! Os milhares de médicos, com seus jalecos brancos, suas mochilas com equipamentos, esperaram durante horas na pista do Aeroporto de Havana pela autorização do governo para viajar diretamente para Nova Orleans.
Mesmo ante o bloqueio dos Eua, a hostilidade permanente de todos os governos em mais de meio século, inclusive o intervencionista John Kennedy, dos atentados e agressões sofridas pela ilha, Cuba sente-se na obrigação prestar solidariedade ao povo norte-americano, gratuitamente. Isto não é novidade, em se tratando da consciência construída pela Revolução Cubana.
Haiti
Muito antes do terremoto que arrasou o Haiti, já eram praticamente os profissionais de saúde cubanos que conformavam a espinha dorsal do sistema de saúde haitiano. Com o terremoto, a ajuda cubana ampliou-se. Inclusive, em parceria com médicos militares brasileiros e com o Brasil financiando parte importante da construção de instalações de saúde lá. Além disso, pedagogos cubanos desenvolveram um método de alfabetização em dialeto creole, adaptado e transmitido por emissoras de rádio cubanas para o Haiti, para erradicar esta outra mazela social que esmaga o povo haitiano, o primeiro a destruir a escravidão nas Américas. Cuba, um país que sequer tem analfabetos, desenvolve métodos de alfabetização no dialeto mais falado pelo povo haitiano e compartilha seus recursos radiofônicos para o progresso de outro povo!
Furacões e mobilização popular
Esta qualidade da cidadania cubana - seu internacionalismo solidário - foi desenvolvida pela Revolução. A mesma Revolução que desenvolveu uma política de mobilização gigantesca de massas ante a passagem de um ou outro furacão.
Quando os sensores indicam a chegada de mais um furacão, o Partido Comunista, o governo, a Central Sindical, as organizações de massa, as Forças Armadas, os Comitês de Defesa da Revolução de cada bairro, todo o sistema de comunicação, se colocam de pé para evacuações gigantescas, por vezes de mais de um milhão de pessoas, quase 10 por cento da população, de tal forma que a perda de vidas se reduz ao mínimo. E isto é feito em poucas horas! E nestas evacuações, em transporte fornecido pelos militares, até mesmo os anciãos são transportados acompanhados de seus médicos de família, com seus animais de estimação, para que não haja interrupção no uso de medicamentos, nem depressão psíquica. É uma consciência revolucionária. Depois da tempestade é hora da reconstrução.
Mais traumatizados ainda ficamos, naquela oportunidade, em razão da divulgação dos criminosos desvios de recursos públicos no âmbito da prefeitura, recursos que haviam sido destinados a obras de auxílio, reparação e reconstrução. Tem gente que embolsa até a solidariedade civil e os recursos públicos, indicando ser necessário implantar mecanismos de controle popular, apoiados em uma legislação enxuta e direta, para coibir esta prática nefasta e punir os malfeitores que lucram com a desgraça coletiva.
Os governos andam tentando superar seus evidentes déficits nas obras de prevenção - dado o volume de experiências dolorosas, já deveríamos ter avançado nisto - sendo evidente que nem mesmo os recursos destinados para este fim são aplicados no ritmo, na adequação e com a responsabilidade que se espera. Dilma até que liberou recursos financeiros imediatamente e mobilizou o Exército com seus dispositivos especializados para situações de calamidades. Ainda assim, fica a sensação de que a esquerda está a dever um bom debate sobre o que fazer diante destas situações que se repetem periodicamente, no ritmo das chuvas torrenciais.
O exemplo dos Médicos Cubanos no Espírito Santo
Mesmo sob a cobertura sensacionalista da grande mídia, com pouca sensibilidade para estas situações, foi possível colher exemplos de solidariedade desprendida, de generosidade radical, de coragem infinita e senso coletivo. Vimos uma senhora mineira que cancelou os festejos de final de ano para cozinhar para todos os que haviam perdido suas casas e se sentia feliz e feliz. Escutei no rádio o depoimento de um garoto de 10 anos que dizia que mais importante que jogar um saco de roupas na montanha da solidariedade, era ir lá diretamente, porque, segundo disse “ é importante que as pessoas necessitadas recebam amor, carinho e atenção de todos os que podem ajudar, e elas vão se sentir melhor sabendo que alguém sente amor por elas”.
É uma mostra de um estado de consciência social solidária que se eleva e pode ser desenvolvida, se houver uma política adequada para isto. E vimos também o exemplo dos médicos cubanos, que atuam no Programa Mais Médicos no Brasil, e que trabalharam intensamente na ajuda às vítimas às inundações seja em Minas e no Espírito Santo, proporcionando uma mostra de que levam ao extremo sua função de salvar vidas. Muitas vezes, salvar vidas é pegar numa pá, é carregar um ancião num colchão no meio da enxurrada, é serenar um desesperado e também é ministrar novos medicamentos aos doentes que perderam seus remédios na fúria das águas. Para tudo isto, é preciso estar ali, presente, solidário. Lá estavam os médicos cubanos. Muitos estiveram lutando e derrotando, com bisturis e metralhadoras, o Exército da África do Sul em Angola, quando Mandela ainda estava preso pelo Apartheid. Derrotado o Apartheid, libertado Mandela e a África do Sul, agora os médicos estão aqui, lutando contra as enchentes, e, como na África, sempre salvando vidas....
Mas, e a esquerda? Será que nestes momentos, para além dos governos, com seus instrumentos específicos, os militares, os bombeiros, as equipes de saúde, assistentes sociais, também não seria indispensável que os partidos de esquerda, os sindicatos, a Cut e as demais centrais, o movimento estudantil, a UNE à cabeça, também estivessem mobilizados, ombro a ombro com os militares, para desenvolver uma outra consciência e de fato construir uma solidariedade específica e prática para estas situações?
Provavelmente, este será um tema para denso debate, mas aqui vão alguns exemplos notáveis para argumentar em favor da formação de brigadas de solidariedade dos partidos, dos sindicatos, dos estudantes, para atuarem nestas situações calamitosas, enriquecendo, sem dúvida, a experiência política e humana do campo popular para uma atuação concreta e material nestas ocasiões dolorosas e de muitas perdas.
Uma brigada de médicos cubanos para os EUA
Um exemplo fascinante vem de Cuba. Quando o furacão Katrina devastou Nova Orleans, nos Estados Unidos, e embora houvesse possibilidade de previsão da tempestade, havendo a chance de uma evacuação organizada, ordenada, com o apoio de uma apropriada campanha de comunicação de massas, a população, majoritariamente negra, foi abandonada à sua própria sorte pelo governo Bush.
Certamente, as perdas de vidas teriam sido muito inferiores. Mas, coerente com sua política de estado mínimo, o estado norte-americano não atuou, não mobilizou, não preveniu. Mas, sendo tudo isto terrível, fez muito pior: não autorizou a entrada, nos EUA, de uma brigada de 1200 médicos que Cuba colocou à disposição do governo Bush, para trabalhar no salvamento de muitas vidas que se perderam, imediatamente após a passagem da tempestade! Os milhares de médicos, com seus jalecos brancos, suas mochilas com equipamentos, esperaram durante horas na pista do Aeroporto de Havana pela autorização do governo para viajar diretamente para Nova Orleans.
Mesmo ante o bloqueio dos Eua, a hostilidade permanente de todos os governos em mais de meio século, inclusive o intervencionista John Kennedy, dos atentados e agressões sofridas pela ilha, Cuba sente-se na obrigação prestar solidariedade ao povo norte-americano, gratuitamente. Isto não é novidade, em se tratando da consciência construída pela Revolução Cubana.
Haiti
Muito antes do terremoto que arrasou o Haiti, já eram praticamente os profissionais de saúde cubanos que conformavam a espinha dorsal do sistema de saúde haitiano. Com o terremoto, a ajuda cubana ampliou-se. Inclusive, em parceria com médicos militares brasileiros e com o Brasil financiando parte importante da construção de instalações de saúde lá. Além disso, pedagogos cubanos desenvolveram um método de alfabetização em dialeto creole, adaptado e transmitido por emissoras de rádio cubanas para o Haiti, para erradicar esta outra mazela social que esmaga o povo haitiano, o primeiro a destruir a escravidão nas Américas. Cuba, um país que sequer tem analfabetos, desenvolve métodos de alfabetização no dialeto mais falado pelo povo haitiano e compartilha seus recursos radiofônicos para o progresso de outro povo!
Furacões e mobilização popular
Esta qualidade da cidadania cubana - seu internacionalismo solidário - foi desenvolvida pela Revolução. A mesma Revolução que desenvolveu uma política de mobilização gigantesca de massas ante a passagem de um ou outro furacão.
Quando os sensores indicam a chegada de mais um furacão, o Partido Comunista, o governo, a Central Sindical, as organizações de massa, as Forças Armadas, os Comitês de Defesa da Revolução de cada bairro, todo o sistema de comunicação, se colocam de pé para evacuações gigantescas, por vezes de mais de um milhão de pessoas, quase 10 por cento da população, de tal forma que a perda de vidas se reduz ao mínimo. E isto é feito em poucas horas! E nestas evacuações, em transporte fornecido pelos militares, até mesmo os anciãos são transportados acompanhados de seus médicos de família, com seus animais de estimação, para que não haja interrupção no uso de medicamentos, nem depressão psíquica. É uma consciência revolucionária. Depois da tempestade é hora da reconstrução.
O
último furacão, que atingiu a região de Santiago de Cuba, em outubro de
2012, destruindo milhares de casas, comprovou o êxito da mobilização
política consciente preventiva. Perdas materiais imensas, mas,
proporcionalmente, o número de perdas humanas, é relativamente baixo,
embora cada vida perdida seja uma grande perda. E a reconstrução, em
2012, contou com uma forte solidariedade do governo da Venezuela, com
Chávez à frente, ainda, quando constatou-se que as Petro-casas,
residências fornecidas pela estatal petroleira venezuelana a Cuba, a
partir de materiais da indústria petroquímica, foram as que mais e
melhor resistiram à tempestade. “Compartilhamos o que temos, não o que
nos sobra”, declarou Chávez, um pensamento que aprendeu dos próprios
cubanos. Não temos que meditar e aprender com estas experiências?
Operativo Dorrego
Um outro exemplo, também notável, vem da Argentina, e ganhou o nome de Operativo Dorrego, aplicado quando, em 1973, a Província de Buenos Aires foi atingida por fortíssimas inundações. Houve muitas perdas de vidas, destruição de residências, de hospitais, escolas, pontes, galerias de águas pluviais, estradas etc.
A inundação foi de tamanha magnitude, que o Comandante Geral do Exército no governo de Hector Câmpora, general Carcagno, que havia sido indicado pelo próprio ex-presidente Juan Domingos Perón, já de volta do exílio de 18 anos, aprovou uma proposta apresentada por um grupo de oficiais numa reunião que discutira a situação: realizar uma grande mobilização civil-militar, pela qual soldados se juntariam a militantes da Juventude Peronista para, munidos de pás, picaretas, enxadas e outros instrumentos, realizarem obras de reparação, reconstrução, etc.
Operativo Dorrego
Um outro exemplo, também notável, vem da Argentina, e ganhou o nome de Operativo Dorrego, aplicado quando, em 1973, a Província de Buenos Aires foi atingida por fortíssimas inundações. Houve muitas perdas de vidas, destruição de residências, de hospitais, escolas, pontes, galerias de águas pluviais, estradas etc.
A inundação foi de tamanha magnitude, que o Comandante Geral do Exército no governo de Hector Câmpora, general Carcagno, que havia sido indicado pelo próprio ex-presidente Juan Domingos Perón, já de volta do exílio de 18 anos, aprovou uma proposta apresentada por um grupo de oficiais numa reunião que discutira a situação: realizar uma grande mobilização civil-militar, pela qual soldados se juntariam a militantes da Juventude Peronista para, munidos de pás, picaretas, enxadas e outros instrumentos, realizarem obras de reparação, reconstrução, etc.
Foi
necessário vencer os preconceitos de parte a parte, e durante semanas
cerca 2994 soldados, juntamente com 800 militantes da Juventude
Peronista, convivendo num mesmo acampamento, dedicaram-se exclusivamente
ao atendimento das famílias flageladas, à reconstrução de suas casas,
seus móveis, escolas, hospitais. Diariamente, cantava-se no acampamento
tanto o Hino Nacional como a Marcha Peronista, então ainda oficialmente
proscrita. Foi uma experiência de conhecimento, de politização, na qual
os militares puseram-se em contato direto com os debates realizados pela
Juventude Peronista e constataram as condições de vida das grandes
massas naquela região.
Chávez
O Operativo Dorrego foi uma operação estatal, indicando que há que mobilizar todos os recursos possíveis, em caráter de urgência, ficando comprovado, também, que a esquerda não deve desconsiderar estas situações calamitosas como um momento duro mas muitos especial para expressar sua solidariedade para com a população afetada. Normalmente, são os bairros mais humildes, mais precários, com menor presença de infra-estruturas adequadas, os mais afetados; E é exatamente aí onde deve ser manifestada, de forma organizada e consciente, uma solidariedade humana, prática e política. É um raro momento em que os militares podem entrar em contato direto com as massas, suas condições de vida, tornando-os mais sensíveis para uma função social e é uma oportunidade em que a esquerda organizada também possa discutir com os militares, ombro a ombro no trabalho solidário, uma nova função para as Forças Armadas, sob um programa democrático e progressista, sintonizado com um outro projeto soberano de nação.
Como o realizado por Hugo Chávez, na Venezuela, onde os militares estavam e estão sempre mobilizados para tarefas sociais, mas também para a construção de uma nova sociedade, não somente em épocas de calamidades, mas imersos permanentemente nos debates políticos de toda a sociedade, para o que já contam agora com a TV das Forças Armadas! Ou alguém argumentará que televisão é coisa apenas para empresários e magnatas?
Pianos flutuando, mas a música voltou
No ano passado, a região argentina de La Plata, foi novamente atingida por inundações de grande porte. Muitas escolas, moradias, postos de saúde foram danificados. Entre os danificados, o principal Conservatório Público de Música da cidade. Uma cena muito dolorosa ficou gravada na memória da população: pianos flutuavam e eram arrastados pelas águas, pelas ruas! Diante disso, um dos movimentos de identificação peronista, denominado “Unidos e Organizados”, deu-se como tarefa ajudar a reparar as escolas, as moradias, e também as salas de aula do Conservatório, recuperando inclusive os pianos e outros instrumentos musicais.
Chávez
O Operativo Dorrego foi uma operação estatal, indicando que há que mobilizar todos os recursos possíveis, em caráter de urgência, ficando comprovado, também, que a esquerda não deve desconsiderar estas situações calamitosas como um momento duro mas muitos especial para expressar sua solidariedade para com a população afetada. Normalmente, são os bairros mais humildes, mais precários, com menor presença de infra-estruturas adequadas, os mais afetados; E é exatamente aí onde deve ser manifestada, de forma organizada e consciente, uma solidariedade humana, prática e política. É um raro momento em que os militares podem entrar em contato direto com as massas, suas condições de vida, tornando-os mais sensíveis para uma função social e é uma oportunidade em que a esquerda organizada também possa discutir com os militares, ombro a ombro no trabalho solidário, uma nova função para as Forças Armadas, sob um programa democrático e progressista, sintonizado com um outro projeto soberano de nação.
Como o realizado por Hugo Chávez, na Venezuela, onde os militares estavam e estão sempre mobilizados para tarefas sociais, mas também para a construção de uma nova sociedade, não somente em épocas de calamidades, mas imersos permanentemente nos debates políticos de toda a sociedade, para o que já contam agora com a TV das Forças Armadas! Ou alguém argumentará que televisão é coisa apenas para empresários e magnatas?
Pianos flutuando, mas a música voltou
No ano passado, a região argentina de La Plata, foi novamente atingida por inundações de grande porte. Muitas escolas, moradias, postos de saúde foram danificados. Entre os danificados, o principal Conservatório Público de Música da cidade. Uma cena muito dolorosa ficou gravada na memória da população: pianos flutuavam e eram arrastados pelas águas, pelas ruas! Diante disso, um dos movimentos de identificação peronista, denominado “Unidos e Organizados”, deu-se como tarefa ajudar a reparar as escolas, as moradias, e também as salas de aula do Conservatório, recuperando inclusive os pianos e outros instrumentos musicais.
Para
isto, mobilizaram, além de centenas deles próprios, a sociedade
platense, os professores de música, engenheiros, lutiers,
percussionistas, que expressaram sua solidariedade à população, aos
alunos e ao Conservatório, na reconstrução e reparação dos
instrumentos. Pouco a pouco, onde tudo era tristeza e silêncio pela
suspensão das aulas que, diariamente, colocam milhares de alunos no
planeta da música, os caríssimos pianos, alguns bastante raros, segundo
relato da reportagem do jornal El Tiempo Argentino - um dos que apóiam o
processo de mudanças liderado por Cristina Kirchner - agora
recuperados, voltaram a encher a atmosfera de sons e sensibilidade
musical, afinados na harmonia da solidariedade, movida pela consciência
política dos militantes de “Unidos e Organizados”. Será que não temos
nada a aprender com isto?
O terremoto e a canção
Um outro exemplo - muita gente se lembrará de outros - vem da China, quando um terremoto arrasou uma cidade, especialmente um bairro com muitas escolas infantis. Havia muitas crianças presas sob os escombros, ainda vivas. Nesta situação, apresentaram-se cantores, corais e professores de música que entoaram, dia e noite, canções infantis, com o sentido de manter elevada a moral das crianças presas, para que se acalmassem , para não se apavorassem, até a chegada do resgate dos bombeiros. Nestas circunstâncias, a canção pode ser decisiva para manter a serenidade, o ânimo, espantar o medo, reforçar a vontade de viver, são momentos em que por questão de minutos ou horas, vidas podem ser salvas, Mas, era indispensável a mobilização política dos cantores e o seu canto para a vida!
Tsunami: o alerta que não veio
No tsunami que há alguns anos devastou vários países no Oceano Índico, uma informação dava conta de que os animais, especialmente elefantes, cachorros e serpentes, prevendo a força destrutiva das águas que estava por chegar, fugiram para regiões mais altas. Em alguns casos, registrou-se que entre a detonação das movimentações tectônicas no fundo do mar, a formação das ondas e a chegada das ondas devastando as cidades litorâneas, houve um intervalo de até 7 horas.
Tempo suficiente para uma evacuação de grande porte, com o uso de transporte militar, com o uso sistemático e exclusivo dos meios de comunicação. Como se faz em Cuba! Mas isto não aconteceu. Se fosse uma crise financeira, em segundos a comunicação é feita em escala internacional para evitar as perdas de capitalistas.
Mas, como era para salvar vidas, não houve o interesse em avisar, prevenir, alertar, organizar a retirada. Mais de 300 mil vidas se perderam! Os equipamentos eletrônicos instalados nos EUA detectaram imediatamente o tremor inicial e previram, por sua magnitude, que haveria o tsunami. Tanto é assim que na Base Militar dos EUA na Ilha de Diego Garcia, no Oceano ìndico, os aviões e outros maquinários foram deslocados para regiões mais protegidas. Mas, por que não foi possível proteger milhares de seres humanos da fúria das ondas mar se até mesmo os animais, sem satélites, sem sensores eletrônicos, sem radares conseguiram se salvar? Não houve interesse. Uma operação comunicativa gigante, com uso intensivo de rádio e tv, teria, certamente, salvo milhares e milhares de vidas. Será que este não é um debate a ser desenvolvido no seio da esquerda e dos movimentos sindical e estudantil?
Que podemos aprender com estas experiências?
Será que os partidos de esquerda, a Cut e as centrais sindicais, a UNE e os movimentos sociais, não deveriam, em situações de enchentes e calamidades, como agora, organizar e mobilizar brigadas para atuarem junto com os dispositivos do Exército e dos bombeiros em apoio às operações de salvamento, de organização do socorro, na ajuda possível e adequada aos flagelados? Será que estudantes de medicina, ou os próprios sindicatos de médicos, os Conselhos de Medicina não deveriam meditar sobre o exemplo dado pelos s médicos cubanos que trabalham no Programa Mais Médicos, que foram muito mais além do simples e burocrático cumprimento de sua carga horária? Os sindicatos de engenheiros não poderiam também formar brigadas para apresentar soluções práticas possíveis para estes casos, para evitar maiores perdas, mais destruição, para discutirem as políticas de obras de infra-estrutura?
O terremoto e a canção
Um outro exemplo - muita gente se lembrará de outros - vem da China, quando um terremoto arrasou uma cidade, especialmente um bairro com muitas escolas infantis. Havia muitas crianças presas sob os escombros, ainda vivas. Nesta situação, apresentaram-se cantores, corais e professores de música que entoaram, dia e noite, canções infantis, com o sentido de manter elevada a moral das crianças presas, para que se acalmassem , para não se apavorassem, até a chegada do resgate dos bombeiros. Nestas circunstâncias, a canção pode ser decisiva para manter a serenidade, o ânimo, espantar o medo, reforçar a vontade de viver, são momentos em que por questão de minutos ou horas, vidas podem ser salvas, Mas, era indispensável a mobilização política dos cantores e o seu canto para a vida!
Tsunami: o alerta que não veio
No tsunami que há alguns anos devastou vários países no Oceano Índico, uma informação dava conta de que os animais, especialmente elefantes, cachorros e serpentes, prevendo a força destrutiva das águas que estava por chegar, fugiram para regiões mais altas. Em alguns casos, registrou-se que entre a detonação das movimentações tectônicas no fundo do mar, a formação das ondas e a chegada das ondas devastando as cidades litorâneas, houve um intervalo de até 7 horas.
Tempo suficiente para uma evacuação de grande porte, com o uso de transporte militar, com o uso sistemático e exclusivo dos meios de comunicação. Como se faz em Cuba! Mas isto não aconteceu. Se fosse uma crise financeira, em segundos a comunicação é feita em escala internacional para evitar as perdas de capitalistas.
Mas, como era para salvar vidas, não houve o interesse em avisar, prevenir, alertar, organizar a retirada. Mais de 300 mil vidas se perderam! Os equipamentos eletrônicos instalados nos EUA detectaram imediatamente o tremor inicial e previram, por sua magnitude, que haveria o tsunami. Tanto é assim que na Base Militar dos EUA na Ilha de Diego Garcia, no Oceano ìndico, os aviões e outros maquinários foram deslocados para regiões mais protegidas. Mas, por que não foi possível proteger milhares de seres humanos da fúria das ondas mar se até mesmo os animais, sem satélites, sem sensores eletrônicos, sem radares conseguiram se salvar? Não houve interesse. Uma operação comunicativa gigante, com uso intensivo de rádio e tv, teria, certamente, salvo milhares e milhares de vidas. Será que este não é um debate a ser desenvolvido no seio da esquerda e dos movimentos sindical e estudantil?
Que podemos aprender com estas experiências?
Será que os partidos de esquerda, a Cut e as centrais sindicais, a UNE e os movimentos sociais, não deveriam, em situações de enchentes e calamidades, como agora, organizar e mobilizar brigadas para atuarem junto com os dispositivos do Exército e dos bombeiros em apoio às operações de salvamento, de organização do socorro, na ajuda possível e adequada aos flagelados? Será que estudantes de medicina, ou os próprios sindicatos de médicos, os Conselhos de Medicina não deveriam meditar sobre o exemplo dado pelos s médicos cubanos que trabalham no Programa Mais Médicos, que foram muito mais além do simples e burocrático cumprimento de sua carga horária? Os sindicatos de engenheiros não poderiam também formar brigadas para apresentar soluções práticas possíveis para estes casos, para evitar maiores perdas, mais destruição, para discutirem as políticas de obras de infra-estrutura?
Ou seja, o que a esquerda deve e pode fazer em situações de catástrofes?
(*) Beto Almeida - Diretor da Telesur
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