quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Contraponto 13.052 - "América Latina, polo anti-imperialista "

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08/01/2014

 

América Latina, polo anti-imperialista 

 

Do Vermelho - quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

 

 

Editorial do sítio Vermelho:


O ano de 2014 mal começou e alguns críticos alertam para “o perigo vermelho”. Foi o que afirmou Arnaldo Jabor em sua coluna semanal no jornal O Globo, na qual se referiu aos governos progressistas da América Latina como “eixo do mal”. Também o ex-presidente FHC defendeu em artigo publicado no último final de semana que o Brasil precisa afastar-se do “bolivarianismo”. Contudo, o apelo ao leitor para que resista às “tentações de esquerda” é inútil e não vai evitar que a região siga avançando nas mudanças. Neste ano, cidadãos de sete países vão às urnas eleger ou reeleger seus presidentes e a perspectiva é de continuidade aos processos já iniciados.

Em 2013, apesar das articulações da direita, os resultados das eleições no Equador, Chile, Venezuela e Argentina demonstraram a força política de seus governantes progressistas. Em 2014 não deve ser diferente. Não vai ser fácil, mas Brasil e Bolívia devem reeleger seus atuais presidentes: Dilma Rousseff e Evo Morales, respectivamente. No Uruguai, o candidato favorito é o ex-presidente Tabaré Vasquez, da Frente Ampla, mesmo partido do atual mandatário José Mujica. Todos progressistas. Em El Salvador, a situação ainda é incerta, bem como na Costa Rica. No Panamá, a disputa se dará entre dois conservadores. Outro processo que merece destaque são as eleições municipais do Equador, que devem consolidar a liderança de Rafael Correa – reeleito no primeiro turno do pleito passado. Há ainda a eleição presidencial na Colômbia, que será muito influenciada pelos diálogos de paz entre o governo e as Farc.

Uma vez confirmadas as expectativas, somente os governos de Peru, Colômbia e Paraguai não serão progressistas na América do Sul. Desta forma, a região caminha com as próprias pernas e se distancia da orientação neoliberal. Enquanto a direita busca se aninhar sob a liderança política norte-americana, os chefes de Estado que lutam pela construção de um novo mundo com políticas externas soberanas se destacam como exemplos a serem seguidos.

Para desespero daqueles que defendem os tratados de livre comércio e relações mercantis de subordinação aos interesses das transnacionais, a integração regional segue sendo a principal bandeira da política exterior da região e se afigura como um processo de integração solidária.

Desta forma, a Aliança do Pacífico encontra condições mais desfavoráveis para ser vista como uma alternativa. Com viés neoliberalizante, a iniciativa formada por Chile, México, Peru e Colômbia (principais governos conservadores) pode perder a pouca força que tem após a ascensão da presidenta progressista Michele Bachelet no Chile. Outro duro golpe para o bloco que busca favorecer o comércio com os EUA e não com os países da região foi o passo atrás dado pelo mandatário do Paraguai, o neoliberal Horácio Cartes que, após especular, preferiu voltar ao Mercosul, deixando a aliança em segundo plano.

Assim, o Mercosul se fortalece com a incorporação de novos países - primeiro a Venezuela, e agora Bolívia e Equador - como membros de pleno direito do bloco.

As principais economias da América Latina resistem às crises externas como a enfrentada pelos países da União Europeia. A perspectiva é que os governos progressistas da América Latina consigam não só evitar a recessão, mas manter o crescimento do PIB. Isso ao passo em que diminuem significativamente seus índices de desigualdade, pobreza e miséria e aumentam os índices de desenvolvimento humano.

Não se trata de uma virada repentina à esquerda, mas de um processo histórico de acumulação de forças em um continente explorado e que serviu de laboratório para todo tipo de experimento neoliberal. Diferentemente do passado, quando a América Latina só falava quando lhe davam permissão, hoje ela tem voz própria, o que causa inquietação naqueles que detinham o controle da situação.

Seguindo o ritmo de 2013, movimentos sociais devem continuar nas ruas para exigir mais conquistas e a defesa de direitos, como é o caso do México que, governado por um presidente neoliberal e alinhado aos Estados Unidos, vive um momento de forte descontentamento popular após a aprovação de reformas privatizantes. Na mesma linha, a cidadania paraguaia deverá permanecer nas ruas não só contra o aumento da passagem de ônibus, como contra os abusos e desmandos de políticos pouco ou nada comprometidos com a melhoria de vida da população. Em outra frente, após mobilizar todo o Chile e chamar a atenção mundial para a problemática da educação do país, o movimento estudantil chileno terá que enfrentar o desafio de, com representantes no parlamento e um governo simpático à sua causa, seguir a luta por uma educação pública, gratuita e de qualidade.

Questões ambientais permanecem na ordem do dia e revelam outra faceta da disputa entre o imperialismo e os países que buscam autonomia e soberania, como se vê explicitado na contenda envolvendo a petroleira Chevron e o governo do Equador, que seguirá em 2014.

Outra bandeira histórica dos movimentos sociais que se cristaliza em 2014 é a da democratização da comunicação. A partir dos debates já realizados sobretudo devido à Lei de Meios argentina, a questão avança para temáticas como a discussão de um marco regulatório na internet e a solução para a privacidade e a proteção dos dados que circulam na rede, questões estas que tendem a ocupar mais o debate a partir da aprovação da lei do software livre e acesso à informação que está sendo debatida no Uruguai.

As forças progressistas e os movimentos sociais saberão conduzir suas lutas com discernimento político, buscando fortalecer cada vez mais os governos progressistas latino-americanos, que integram o campo anti-imperialista no plano mundial, um bloco que se opõe às políticas imperialistas e neoliberais. 
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