terça-feira, 23 de setembro de 2014

Contraponto 14.855 - "Treze Razões para Votar Contra a Independência do Banco Central"

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23/09/2014


Treze Razões para Votar Contra a Independência do Banco Central

 

Causa-me espécie  - terça-feira, 23 de setembro de 2014

 

Treze Razões para Votar Contra a Independência do Banco Central. Conceder independência ao Banco Central é: “colocar raposa para tomar conta de galinheiro”; “dar o apito para o treinador do time adversário”...



A segunda razão para votar contra a Independência do Banco Central é Cívica, isto é, referente aos direitos cívicos do cidadão como elemento integrante do Estado. A civilidade relaciona-se também ao dever de observar as formalidades que os cidadãos adotam entre si para demonstrar mútuo respeito e consideração. Cabe evitar o corporativismo dos funcionários do Banco Central. Eles não podem ser servidores públicos autônomos sem prestar contas e voltados para seus próprios interesses particulares.
A terceira razão para votar contra a Independência do Banco Central é a Separação entre os PoderesÉ essencial para a manutenção da liberdade política que o Estado seja dividido em apenas três poderes: o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. Em regime democrático, os representantes do povo são eleitos para legislar e fiscalizar, assim como é eleito o(a) presidente(a) da República. Não há como comparar as exigências das carreiras dos magistrados do Poder Judiciário com as das carreiras de economistas que compõem o COPOM – Comitê de Política Monetária.
A quarta razão para votar contra a Independência do Banco Central é o Critério de Escolha da Diretoria. O verdadeiro objetivo dos assessores econômicos que fazem a cabeça para uma candidata defender o anacronismo dessa independência é escolher colegas de pensamento econômico ultraliberal para o dominar esse Quarto Poder.
A quinta razão para votar contra a Independência do Banco Central é o Viés da Validação Ilusória. Os membros de sua Diretoria buscariam só dados que corroborassem suas projeções como fosse um pensamento único coletivo. Sem pluralismo, falariam só com analistas que pensam da mesma maneira, selecionariam apenas informações que apoiassem sua decisão. O correto seria ter contatos com pessoas com pensamentos distintos ou fontes que questionassem suas hipóteses, fazendo-os refletir, procurar por pontos que não seriam capazes de prever.
A sexta razão para votar contra a Independência do Banco Central é a Rejeição da TecnocraciaDemocracia é governo no qual o povo, direta ou indiretamente, toma as decisões importantes a respeito das políticas públicas, não de forma ocasional ou circunstancial, mas segundo princípios permanentes de legalidade. Não se confunde com Tecnocracia, isto é, o sistema de organização política e social fundado na supremacia dos técnicos, e/ou com Meritocracia, quando há predomínio social daqueles que supostamente têm mais méritos intelectuais segundo o julgamento com o viés de auto validação de seus próprios pares de pensamento similar. Independência do Banco Central é um Golpe Tecnocrata!
A sétima razão para votar contra a Independência do Banco Central é Histórica. Ser cidadão brasileiro representou conquistar direitos civis, como ter direito à vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade perante à lei, com um século de atraso, apenas com a extinção da escravidão e a proclamação da República, em 1888-89, em relação às conquistas inglesas, norte-americanas e francesas no Século XVII-XVIII. Somente um século depois, com a Constituinte de 1988, após 1/3 do período republicano com ditaduras (1930-1945 e 1964-1984), quando predominou o Poder Tecnocrático, conquistamos plenamente os direitos políticos de eleger a direção da sociedade, votar, ser votado, associar-se em sindicatos e partidos, liberdade de expressão, etc. Na transição do Século XX para o XXI, começamos a conquistardireitos sociais à educação, à saúde, à aposentadoria, à segurança pública. No Século XXI, nosso grande desafio está sendo conquistar direitos econômicos: ao trabalho, ao salário justo, a uma renda mínima, acesso aos bancos, isto é, a crédito e produtos financeiros. Não podemos permitir o retrocesso à autonomia dos tecnocratas na colocação de obstáculos a essas conquistas!
A oitava razão para votar contra a Independência do Banco Central é a Descoordenação entre Instrumentos de Política EconômicaÉ necessário obter consistência no uso dos dois instrumentos de política de controle da demanda agregada (política fiscal e política monetária), dois regimes de câmbio (estabilizado e flexível) e quatro graus de mobilidade de capital. A Diretoria do Banco Central e a equipe econômica do Ministério da Fazenda não podem atuar de maneira descoordenada, uma tomando decisões que prejudicam a outra***.
A nona razão para votar contra a Independência do Banco Central é o Argumento de Autoridade. Milton Friedman afirma que “a proposta do Banco Central independente não é a proposta monetarista”. Ele é contra o arbítrio colocado à disposição da diretoria de Banco Central independente. Joseph Stiglitz, economista keynesiano ganhador do prêmio Nobel de Economia, em 2001, e ex-vice-presidente do Banco Mundial, se opõe à autonomia dos bancos centrais porque esses “tomam decisões que afetam todos os aspectos da sociedade, incluindo as taxas de crescimento econômico e do desemprego. Porque existem trade-offs, essas decisões só podem ser feitas como parte de um processo político”. Ele assinala que os “trabalhadores, que têm muito a perder se o Banco Central persegue uma política monetária excessivamente rígida, não têm um lugar na mesa. Mas os mercados financeiros – que não têm muito a perder com o desemprego, mas são afetados pela inflação [devido à “eutanásia dos rentistas” que aplicam em títulos de renda fixa] – são tipicamente bem representados”. Por fim, observa que “China, Índia e Brasil enfrentaram com mais êxito que diversos países centrais a crise econômica internacional porque evitaram conceder autonomia a seus bancos centrais”.
A décima razão para votar contra a Independência do Banco Central é que Correlação não é Causalidade. Eventual correlação entre grau de autonomia do Banco Central e baixa taxa de inflação significa apenas que esta é resultante de outros fatores como abertura comercial, finanças públicas saudáveis, taxa de câmbio estável, etc., existentes em países com ou sem Banco Central independente, indicando espuriedade.
A décima-primeira razão para votar contra a Independência do Banco Central é a Tropicalização Antropofágica Miscigenada. Ao longo da história econômica brasileira se impuseram duas sabedorias. Primeira, “independentemente dos homens e de suas intenções, sempre que o Banco Central se entrega à austeridade financeira, os Bancos Públicosescancaram os cofres, com a inevitabilidade quase de uma lei natural”. Segunda, “o comportamento dos Bancos Públicos é, por definição, o desejado pelo Governo da Ocasião, seja ele monetarista, seja desenvolvimentista, ou, quase sempre, apenas pragmático”. A dosagem de suas operações é instrumento básico de política monetária. O direcionamento setorialdo crédito dá-lhe flexibilidade. Em outras palavras, cada país tem suas próprias instituições ou costumes. Não são intercambiáveis, pois são construções coletivas de cada povo.
A décima-segunda razão para votar contra a Independência do Banco Central é o Anacronismo da Ideia. É uma atitude que não está de acordo com nossa época de inflação estável. A experiência brasileira de estabilização inflacionária demonstra que ter Banco Central independente não é nem condição necessária nem suficiente, para combater a inflação. Para o sucesso dessa política, há sim necessidade de adotar política macroeconômica abrangente e coordenada, envolvendo política de abertura comercial, política fiscal, política de rendas, política cambial e política de juros, em condições internacionais propícias ao acúmulo de reservas internacionais e à sobrevalorização da taxa de câmbio. A independência do Banco Central também não consegue controlar a oferta de moeda endógena, ou seja, a remonetização determinada pela nova demanda por moeda dos agentes econômicos nas condições de estabilidade inflacionária. Sempre são as forças de mercado que efetivam a oferta de moeda.
A décima-terceira razão para votar contra a independência do Banco Central é a Dependência em Relação a O Mercado. O risco de sua autonomia absoluta em relação ao governo é seus diretores tornarem-se dependentes de apoio de O Mercado para a nomeação e, depois, contratação após a demissão ou a aposentadoria.
Vote 13!
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