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30/09/2014
Como a bicicleta pode salvar a economia
É só prestar atenção às capas dos principais jornais e sites de notícias dos últimos meses para perceber que a velha e, outrora, esquecida bicicleta virou manchete. Até mesmo os candidatos às eleições incluíram as magrelas em suas campanhas de governo.
A presidenciável Marina Silva, por exemplo, acaba de assinar em Brasília uma carta-compromisso pela mobilidade urbana ciclística no país e pela redução dos impostos para a produção de bikes.
Dilma também pegou carona nas duas rodas e disse que vê com muita simpatia a campanha pelo IPI zero para bicicletas.
Já o senador tucano Aloysio Nunes, vice na chapa de Aécio Neves à presidência, num arroubo de elitismo e uma asquerosa dose de arrogância, vociferou em enxutos 122 caracteres no Twitter o que acha dos novos caminhos abertos nas ruas paulistanas: “Delírio autoritário de Haddad: esparrama ciclofaixas a torto e a direito, provocando revolta nos moradores de Higienópolis”. Ui…
Para quem não sabe, Higienópolis é um bairro nobre de São Paulo, onde parcela considerável de seus ilustres moradores diferenciados recentemente torceu o nariz para a construção de uma estação de metrô. Agora também não querem ver suas ruas manchadas com o vermelho das ciclovias.
O fato é que, a despeito da elite enclausurada em seus SUVs pretos blindados – ou os nem tão favorecidos economicamente, mas felizes proprietários de automóveis financiados e de vidros escuros –, mais de 80% dos cidadãos paulistanos aprovam a abertura de ciclovias na cidade. É o que mostra um estudo recente da organização não governamental Rede Nossa São Paulo.
Diante dessa discussão – saudável para uns, exagerada e inoportuna para outros – um livro chama a atenção para o fenômeno das bicicletas nas grandes cidades mundo afora: Bikenomics, How bicycling can save the economy (“Como andar de bicicleta pode salvar a economia”). Escrito pela cicloativista e blogueira norte-americana Eleanor Blue, ou simplesmente Elly Blue, a publicação ainda não traduzida para o português é uma ode ao movimento em prol das magrelas.
A autora mostra em teorias próprias ou por meio de estatísticas e depoimentos porque a bicicleta pode nos salvar, não somente de problemas econômicos, mas também sociais, ambientais, de saúde.
A publicação faz foco, em particular, em dados e exemplos de norte-americanos que aderiram ao uso das bicicletas como meio de transporte barato e saudável. Mas indica também como, do ponto de vista econômico, o ciclismo precisa receber mais atenção de governantes, economistas e planejadores urbanísticos em qualquer parte do planeta.
Elly Blue considera que, dando mais atenção ao tema, esse impacto pode ter dimensões favoráveis para as finanças pessoais dos cidadãos. E até para a economia de cidades, estados e países onde pedalar pode ser uma atividade viável. Como sugere o título, para a autora, conquistar mais e mais adeptos do ciclismo como transporte usual diário pode até tirar países da crise.
Seria exagero? Então por que países europeus como França e Inglaterra têm cada vez mais investido dinheiro para incentivar o uso da bicicleta, inclusive com bônus financeiros a quem se dispõe a esquecer o carro em casa para ir ao trabalho e à escola pedalando?
Óbvio: mais ciclistas e menos carros nas ruas significa menos despesas com as consequências do trânsito, desde internações em hospitais por acidentes, até a perda de vidas economicamente ativas. Sem contar a diminuição de gastos com doenças causadas pela poluição atmosférica e a melhoria da qualidade da saúde pública.
Até mesmo paraísos do sonho americano de ver a vida por trás do para-brisas de um automóvel, como Nova York e Detroit, quedaram-se ao uso das bicicletas.
Detroit foi meca da indústria automobilística norte-americana, décadas atrás. Falida e à mercê de gangues perigosas a cidade hoje tenta reerguer-se com a abertura de centenas de quilômetros de ciclovias, já que é privilegiada por ser plana e extensa.
Semana passada, quase oito mil ciclistas ocuparam as ruas de Detroit para um passeio que arrecadou dinheiro para a abertura de novas ciclovias. Quem diria, o músico e ciclista David Byrne, autor do livro Diários de Bicicleta, elegeu Detroit como uma das oito melhores cidades do mundo para pedalar.
Parece indiscutível que a bicicleta, esse veículo simples, inofensivo e simpático – um dos mais antigos já inventados pelo homem (Leonardo da Vinci a teria desenhado pela primeira vez no século 16) – está tomando uma dimensão inegavelmente crucial, em termos globais, nestes tempos de caos no trânsito das metrópoles.
É isso o que discute o livro de Elly Blue. Ela, aliás, esteve no Brasil em fevereiro para participar do 3º Fórum Mundial da Bicicleta, em Curitiba. Visitou também São Paulo e Rio de janeiro. Achou o trânsito das três capitais assustador.
Elly pedalou no Rio de Janeiro e elogiou as ciclovias, mas confessou que andar de bicicleta nas ruas da cidade onde elas não existem é uma experiência horrível.
No geral, se disse encantada com o movimento pelo ciclismo no Brasil. Confessou que em suas palestras de divulgação do seu Bikenomics mundo afora tem sempre citado o bom exemplo brasileiro em favor da popularização do uso das bicicletas.
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