03/12/2014
Tática fiscalista e estratégia social-desenvolvimentista, por Fernando N. da Costa
Artigo do Brasil Debate
Por Fernando Nogueira da Costa
Uma
velha tática política é a que, nos Congressos do PCCh, durante a
Revolução Cultural chinesa, denominava-se “brandir as bandeiras
vermelhas do adversário”.
Significava
se apropriar de uma bandeira de luta da oposição, radicalizá-la no
curto prazo, esvaziando o discurso oposicionista, e adequando-a à
estratégia de se manter no poder no longo prazo.
É
risível a reação de surpresa da oposição, seja do seu líder, que ainda
não desceu do palanque no Senado, seja de seus representantes na
“grande” imprensa brasileira.
Cobram
coerência com as teses que se difundiu durante a campanha. Mas campanha
é desconstrução do adversário, governo é construção da Nação. Logo, não
há contradição.
A
presidenta Dilma Rousseff sabe que a oposição está surpreendida com
suas primeiras decisões para exercer o segundo mandato, mas não está nem
aí. Quem sacou, entendeu; quem não compreendeu, sacasse…
Se
ela não tem paciência para explicar, didaticamente, e seus ministros
não têm nem a autonomia nem o dom da comunicação para tal, cabe aos
intelectuais do Partido dos Trabalhadores enfrentar o debate.
Eles
têm de, simplesmente, mostrar que a política econômica em curto prazo é
batalha tática para manter a baixa taxa de desemprego e a taxa de
inflação sob controle, além de, em médio prazo, diminuir o déficit do
balanço de transações correntes de 3,7% do PIB, ou seja, dos US$ 83
bilhões atuais, para cerca de US$ 65 bilhões financiáveis pela média do
Investimento Direto Estrangeiro (IDE) dos últimos anos.
Em
longo prazo, isto é, oito anos até 2022, a guerra estratégica
social-desenvolvimentista é dar continuidade às políticas sociais
ativas, que levam à inclusão social de consumidores no quinto maior
mercado interno nacional na economia mundial, e aos investimentos de R$
920 bilhões nos próximos cinco anos.
Óleo
e gás é o setor que responde pela maior parte com programas de R$ 543,4
bilhões, ou quase 60% do total. É seguido por Transportes (R$ 200
bilhões), Energia (R$ 162,4 bilhões) e Saneamento (R$ 15 bilhões).
A
divisão dos R$ 200 bilhões investidos no segmento de Transportes será
28% em Ferrovias, 27% em Portos, 20% em Rodovias, 20% em Mobilidade
Urbana e 5% em Aeroportos. A formação bruta de capital fixo — medida do
PIB que considera aplicações em construção e máquinas e indica o nível
de investimentos produtivos no País — chegará, brevemente, a cerca de
22% do PIB.
Nesse
período de transição, composto pelo segundo mandato da Dilma e pelo
terceiro mandato do Lula (2019-2022), o País terá preparado as
precondições em infraestrutura e logística para ascender ao posto de
quinta maior economia no mundo, ultrapassando o PIB da Alemanha.
Será
consistente com o que tem a quinta maior população e o quinto maior
território com abundância de recursos naturais, além de uma das
economias mais diversificadas entre as dos países emergentes que tiram o
atraso histórico em relação aos países de capitalismo maduro.
Em
2035, o Brasil será o sexto maior produtor de petróleo do mundo. A
Petrobras produzirá 4 milhões de barris de petróleo por dia no período
2020-2030. O País estará produzindo mais que 5 milhões de barris por
dia, o dobro do que consome hoje.
Com
a exportação do excedente, capitalizará o Fundo Social de Riqueza
Soberana (FSRS) e terá condições de sanar os problemas na Educação e
Saúde, melhorando a qualidade de vida de seu povo.
A
presidenta social-desenvolvimentista sabe que, sendo ela a condutora do
governo, levará todos ministros a se entenderem em torno das táticas
transitórias para se alcançar essa meta estratégica.
Dilma
desmanchou, na prática, a ideia anacrônica de Banco Central
independente. Cobrará a coordenação entre Joaquim Levy (política
fiscal), Alexandre Tombini (política monetário-cambial), Nelson Barbosa
(política de investimentos e concessões), e a política de crédito dos
bancos públicos.
Em uma primeira etapa, a prioridade será atingir metas fiscais graduais, definidas até 2017, passando a utilizar a dívida bruta,
que inclui as transferências do Tesouro Nacional para os bancos
públicos, como principal indicador dos resultados das contas públicas.
O
objetivo inicial é a estabilização e, depois, o declínio da relação
dívida bruta do governo geral como percentual do PIB de 70% (incluindo
títulos em poder do Banco Central) para 50%. As duas políticas de
controle da demanda agregada, a fiscal e a monetária, coordenadamente,
farão com que a inflação volte ao centro da meta de 4,5% ao ano em 2016.
Para
tanto, a política fiscal buscará um superávit primário de 1,2% do PIB
para o setor público consolidado em 2015 e de 2% do PIB em 2016 e 2017.
Não haverá aumento no estoque de recursos de R$ 507 bilhões que o
Tesouro Nacional já injetou nos bancos públicos.
Porém,
com a queda da taxa de inflação e consequente diminuição da Selic para
nível inferior a 8,5% aa, os depósitos de poupança voltaram a ficar
bastantes competitivos face aos fundos. E o desenho institucional de
captação de funding para financiamento em longo prazo, reformado no primeiro mandato da Dilma, voltará a funcionar.
Grandes
empresas não-financeiras emitirão títulos de dívida direta (debêntures)
com longo prazo de vencimento, cujos lançamentos serão operações
estruturadas por bancos que oferecerão “garantia firme” de colocação
junto aos investidores e/ou na própria carteira de ativos.
Bancos
emitirão Letras Financeiras, com dois ou cinco anos para vencimento,
que segregarão em “administração de recursos de terceiros”, isto é, nos
fundos de investimentos.
Os
investidores desses fundos, quando abaixar a taxa de juros de
referência, em termos reais, ficarão dispostos a assumir maior risco,
diversificando entre o risco privado e o risco soberano, com a
finalidade de aumentar o retorno financeiro.
Essa
busca de estabilidade econômica não implicará renunciar às conquistas
sociais recentes, apenas adequar a velocidade de transição ao cenário macroeconômico dos próximos anos para se alcançar a meta estratégica
social-desenvolvimentista. Esta continuará sendo a prioridade
governamental..
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