quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Contraponto 15.715 - "Bonner reafirmou 'soberba' da Globo com troféu, diz jornalista "

Depois que a filha do ator que empresta o nome ao prêmio, jornalista Graça Lago, descarregou críticas à premiação, que classificou como "armação" para "abafar as críticas que a partidarização do JN e de seu editor/apresentador vêm recebendo", agora o jornalista Washington Araújo, colunista do 247, escreve artigo detonando a premiação.

O jornalista criticou a condução por William Bonner das polêmicas entrevistas com os candidatos a presidente da República durante a campanha eleitoral. "A verdade é que as entrevistas foram duras aulas de antijornalismo. (...) Cada presidenciável parecia convocado para receber carga de pelotão de fuzilamento (...). Ficou patente que a carga de chumbo grosso era mais grosso para um que para outro dos entrevistados", afirma.

A declaração de Bonner durante a premiação, de que "robôs" estariam a serviço de partidos para insultar o trabalho da imprensa, também não passou ilesa pelo colunista. "Será que é tão difícil assim para a Globo conviver em um mundo em que exista diversidade de pensamento? Não seriam robôs exatamente os que se portam de forma contrária, aqueles que aplaudem sem qualquer senso crítico a grade alienante da TV Globo, corretamente designados  pelo próprio Bonner como uma massa composta por Homer Simpsons?", escreve.

Leia na íntegra o artigo de Washington Araújo:

William Blade Runner Bonner - O caçador de andróides

Nada mais desagradável que ver uma pessoa que você admira pisando na bola distraída e descaradamente, né?

Pois bem, foi grande meu mal estar com a performance de Fernanda Montenegro em seu último papel na TV Globo – o de louvaminheira das qualidades de William Bonner como jornalista e merecedor do Prêmio Mario Lago, entregue naquele cenário fake do Domingão do Faustão no último domingo, 21/12/2014.

Fernanda Montenegro, sem dúvida alguma a segunda melhor atriz do país (sim, a melhor mesmo é a Bibi Ferreira) não precisava se prestar àquele triste papel, o de alguém que - aparentemente livre de qualquer suspeita – teria o condão de conceder legitimidade à concessão do Mário Lago 2014 ao jornalista-ator do Jornal Nacional.

Também não deve passar em branco o fato de que na Globo só ganha prêmio quem é da própria Globo. E, com pouquíssimas exceções, só concorre ao premio quem é da Globo. Em 13 edições do Prêmio Mário Lago a Globo foi bem cabotina e se autopromoveu em 11: Laura Cardoso (2002), Paulo José (2003), Tarcísio Meira e Glória Menezes (2004), Tony Ramos (2005), Lima Duarte (2006), Gloria Pires (2007Antônio Fagundes (2009), Regina Duarte (2011), Roberto Carlos (2012), Fernanda Montenegro (2013), William Bonner (2014).

Apenas em duas edições foram premiadas pessoas que não constavam de sua folha de pagamento - Gilberto Gil, em 2008 e Hebe Camargo, em 2010, no ano de seu falecimento.

Nesse quesito o Prêmio Sinceridade fica com a concorrente SBT. É que Silvio Santos vetou que seu nome concorresse a qualquer premiação promovida por sua própria emissora. Chama também a atenção o fato que dos 13 ganhadores, 12 são atores, atrizes ou cantores e apenas um é jornalista, no caso, Bonner.

A dama do teatro foi bastante infeliz quando considerou o homenageado um “ícone do jornalismo” e respaldou o merecimento a uma série de entrevistas feitas no JN com os presidenciáveis Aécio Neves, Dilma Rousseff, Eduardo Campos e Marina Silva.

Para quem tem espaço na memória destinado a manter material jornalístico inútil deve, certamente, revisitar essas entrevistas que tanta admiração fizeram brotar na estima de, aí sim, um ícone de nossa dramaturgia - Fernanda Montenegro.

A verdade é que as entrevistas foram duras aulas de antijornalismo. A começar que não foram feitas apenas pelo Bonner. Sim, contou com a participação de Patrícia Poeta em alguns momentos igualmente deploráveis, como aquele dedo em riste no rosto da presidente Dilma Rousseff e na indisfarçável contrariedade com as respostas da mandatária sobre economia, corrupção, fisiologismo. 

Nas entrevistas, cada presidenciável parecia convocado para receber carga de pelotão de fuzilamento – perguntas imensas, recheadas de sub-perguntas, permeadas de insinuações, muitas vezes ocupando mais tempo que aquele destinado à resposta.

Ficou patente que a carga de chumbo grosso era mais grosso para um que para outro dos entrevistados.

Ao agradecer o prêmio William Bonner resolveu passar recibo à enxurrada de críticas que recebeu – e continua recebendo – pela condução das citadas entrevistas. E passou a ter suas opiniões cada vez mais contraditadas, uma vez que deixou de lado o papel de bom moço com as Organizações Globo costumam blindar os âncoras e locutores de seu principal e mais antigo telejornal, o JN.
E o que disse o ganhador do Mário Lago?

Essas pérolas de autocrítica rasa e ressentimento:
“O jornalismo da Globo amadureceu muito com a própria democracia brasileira. Desde a campanha eleitoral de 2002 que nós realizamos essas entrevistas. É curioso, porque desde 2002 todos os candidatos foram tratados, assim, de uma forma rigorosa. O que eu posso observar aqui é que, com as redes sociais, também embutem outro problema em si: os partidos políticos instrumentalizaram com robôs que estão ali para insultar outros partidos e insultar a imprensa, que faz apenas o seu trabalho. A intolerância política e ideológica que nós experimentamos neste ano foi muito ruim e ela esteve muito presente em redes sociais”.

O homenageado bem poderia ter aproveitado a oportunidade para fazer uma autocrítica, mostrar 0,001% de humanidade, deixar claro que é falível porque é humano, mas ao contrário optou por reafirmar a soberba da empresa que representa, discursando para a plateia e para o patrão.

Aliás, neste aspecto, mostrou-se coerente para alguém que em declarou no JN que anunciar a morte de Roberto Marinho foi a notícia mais triste que dissera daquela bancada. Claro, noticiar as intifadas palestinas, a guerra do Golfo em Bagdá, a guerra civil na Bósnia Herzegovina e na Croácia, a tsunami no sudeste asiático com centenas milhares de vidas cruelmente interrompidas não foram tão tristes quanto anunciar com ar compungindo – “O presidente das Organizações Globo, jornalista Roberto Marinho, morreu às 22h30 desta quarta-feira no Rio de Janeiro. Tinha 98 anos.”

Em 1964 a Globo apoiou ostensivamente o Golpe militar, expressou sua satisfação em editoriais, repercutiu em horário nobre de seus telejornais as façanhas dos governos militares, sufocou a resistência da população civil e só engrossou a luta pelas “Diretas Já” quando o movimento estava bem consolidado nas ruas de todo o país e ficava muito feio ser contra ou se omitir. Depois, em 1989, nas primeiras eleições democráticas para presidente, a Globo voltou a aprontar das sua: quem não recorda daquela famigerada edição do debate entre Fernando Collor de Melo e Luiz Inácio Lula da Silva? E deu no que deu. (A atuação da Globo nos pleitos de 1994, 1998, 2002, 2006, 2010 e 2014 também mereceria pesados reparos, mas este espaço não permitiria, sob pena de perdermos o foco.)

Assim com toda essa candura sabemos que o editor-chefe do Jornal Nacional considera que a tal “forma rigorosa” com que os candidatos foram tratados teve início em 2002. Não é sintomático que os pleitos presidenciais anteriores – 1989, 1994, 1998 – tenham seguido uma forma, digamos, “mais frouxa”, com pouco ou nenhum rigor? E que nesses pleitos quando o jornalismo da Globo deixou de ser rigoroso tenham sido eleitos dois Fernandos – Collor de Mello e Henrique Cardoso I e II?

Em um momento em que toda a imprensa – tanto escrita quanto televisiva – corre para conquistar corações e mentes dos que interagem diariamente, minuto a minuto nas redes sociais chega a ser cruel a derrapada de William Bonner abrindo guerra contra esses que a Globo costuma chamar de “amigo internauta”. 

Será que é tão difícil assim para a Globo conviver em um mundo em que exista diversidade de pensamento?

Será correto considerar robô todos os que discordem das pautas manipuladas da imprensa, de sua visão distorcida e partidarizada da realidade? 

Não seriam robôs exatamente os que se portam de forma contrária, aqueles que aplaudem sem qualquer senso crítico a grade alienante da TV Globo, corretamente designados  pelo próprio Bonner como uma massa composta por Homer Simpsons?

Este discurso do âncora-chefe do JN é bem próprio de jornalista acomodado, acostumado com aquela época em que não existia qualquer voz discordante, e onde o monopólio da informação e da notícia era total, sem a existência de qualquer contraponto, sem a consideração adequada a qualquer outro ponto de vista.

Com sua larga experiência na bancada do Jornal Nacional o tarimbado Bonner bem poderia entender que o mundo mudou muito de 1964 para 2014.

E poderia perceber que quem antes era dono da estilingue virou vidraça de uma hora para outra.
Ninguém mais, em sã consciência ao menos, pode se sentir "proprietário" de uma critica unidirecional. Os robôs, neste caso tão subapreciados por Bonner, são de carne e osso, possuem corações batendo no peito e nas veias correm o mesmo sangue velho de seus ancestrais.

Por essa fala, pode-se inferir que no dicionário de William Bonner o vocábulo robô tenha a seguinte esta definição: “ROBÔ. s.m. 1. Alguém que discorda de mim. 2. Alguém que deseja bem mais que o direito de falar, mas antes, o direito de ser ouvido.”

As redes sociais não foram feitas apenas para a publicação de ‘selfies’, com todo mundo sorrindo.
Não sei se Bonner chamaria Graça Lago de intolerante: a verdade é que a filha de Mário Lago mostrou estar bastante revoltada por Bonner ter recebido o Prêmio que leva o nome de seu pai, o Prêmio Mário Lago. O nome do Prêmio era um conhecido comunista, deses de carteirinha que já não existem mais, enquanto a Globo representa muitas ideologias, mas nunca qualquer ideologia que atenda pelo nome de esquerda.

.

Nenhum comentário :

Postar um comentário

Veja aqui o que não aparece no PIG - Partido da Imprensa Golpista