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09/05/2015
República do Paraná tenta cartada final
Do Cafezinho - 09/05/15
Miguel do Rosário

Delações premiadas devem ser mantidas em segredo até serem provadas, por razões óbvias: para não permitir que uma pessoa sob suspeita manipule as investigações. No caso de um processo altamente político, para que não manipule a opinião pública.
Aqui não apenas as delações são vazadas, sempre seletivamente, como agora até mesmo aquelas que ainda não foram assinadas pelo delator chegam à imprensa, e sempre no momento certo!
Entretanto, no caso em questão, a manipulação vem da própria Procuradoria, de um núcleo conspirador, fortemente partidário, que vem operando politicamente desde a Ação Penal 470.
A “delação” do presidente da UTC, Ricardo Pessoa, sequer foi confirmada em juízo, visto que ele não celebrou nenhum acordo com a Procuradoria. Ou seja, a Procuradoria delatou o próprio (suposto) delator!
Mas o estrago já está feito, como era o objetivo. Provando ou não provando, a condenação política está dada.
Se você ler com atenção, verá a inconsistência da delação (que sequer foi confirmada pelo próprio empresário):
“Pessoa descreveu de forma vaga sua conversa com Edinho, mas afirmou que havia vinculação entre as doações eleitorais e seus negócios na Petrobras.”
Descreveu de forma vaga? Havia vinculação entre doações eleitorais e negócios na Petrobrás? Claro que havia!
Pode-se ver tudo pelo lado criminal, ou pode-se entender, como fazem inclusive os que defendem as doações empresariais (como a Globo, por exemplo) que os empresários querem apostar em governos/partidos dispostos a fazer os investimentos públicos que interessam a seus negócios.
Nos governos tucanos, os investimentos em construção civil e na indústria do petróleo eram pequenos, e nos governos petistas se multiplicaram.
Os investimentos da Petrobrás passaram da ordem de alguns bilhões, para centenas de bilhões de reais ao ano, e foi isso que a levou a descobrir o pré-sal e se tornar uma das maiores produtoras de petróleo do mundo.
Qualquer empresário faz doação pensando em seus negócios no futuro, e exatamente por isso a OAB entrou com uma ação de inconstitucionalidade contra doações empresariais; votação esta que foi interrompida autocraticamente por Gilmar Mandes, o ministro tucano, que pediu vistas há um ano e enterrou o assunto, com apoio da grande mídia.
Este era, desde o início, o objetivo da República do Paraná, forçar os empreiteiros a falar que doaram para a campanha do PT, em especial a da Dilma, não porque sempre doaram para partidos políticos, mas por “temer prejuízos em seus negócios”.
Os procuradores já deixaram claro: na falta de elementos para criminalizar o PT, querem transformar doações legais em crimes. E assim dariam xeque-mate no PT.
O PT comete crime quando faz caixa 2, como aconteceu no mensalão. E também comete crime quando faz caixa 1.
Ou seja, é melhor o PT desistir de fazer política.
O jogo mudou bastante. Com a soltura dos empresários, a mudança do depoimento de Paulo Roberto Costa, e a delação que ainda não houve de Ricardo Pessoa, da UTC, o peso político do crime sai das costas dos empresários para ser jogado inteiramente nas costas do PT.
Na matéria de hoje, é interessante como a Folha e os procuradores, e estes não escondem sua intimidade com o jornal, tentam derrubar, com uma só paulada, todos os símbolos e trunfos do PT: a delação pega Dilma, reenergizando o impeachment; pega Haddad, criando dificuldades para sua campanha de reeleição em 2016; pega Lula, para detonar sua candidatura em 2018; e pega o PT como um todo, através de seus dois tesoureiros, o do partido e o da campanha.
Pegar Edinho Silva, hoje o homem com a chave do cofre da publicidade oficial, tem uma função duplamente especial. Intimida-o, para continuar dando dinheiro à grande mídia, e envolve a campanha da presidenta Dilma.
Ah, e ainda põe Dirceu na roda novamente, como convém. Sempre tem que ter o Dirceu na história!
É um saladão para todos os gostos! Nunca se viu uma reportagem tão curta ser tão eficaz!
E pode ser também uma espécie de golpe de misericórdia num PT e num governo que ainda não aprenderam a se defender; que, apesar da experiência do julgamento do mensalão, não construíram uma estratégia política conjunta e eficiente para combater as conspirações judiciais, hoje a principal arma da direita para destruir seus adversários.
Mas pode ser também a última bala no cartucho do golpe da Lava Jato. Depois disso, não terão mais muito o que vazar, e as ilegalidades e arbítrios estarão mais expostos do nunca.
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Na Folha.
Empreiteiro diz que doou a Dilma por temer represália
FLÁVIO FERREIRA
DE ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA
ESTELITA HASS CARAZZAI
DE CURITIBA
O empresário Ricardo Pessoa, dono da empreiteira UTC, disse a procuradores da Operação Lava Jato que doou R$ 7,5 milhões à campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff por temer prejuízos em seus negócios na Petrobras se não ajudasse o PT.
Segundo Pessoa, a contribuição da empresa foi tratada diretamente com o tesoureiro da campanha de Dilma, o atual ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Edinho Silva.
Preso desde novembro do ano passado e hoje em regime de prisão domiciliar, o empresário negocia desde janeiro com o Ministério Público Federal um acordo para colaborar com as investigações em troca de uma pena reduzida.
Nos contatos com os procuradores e no documento em que indicou as revelações que está disposto a fazer caso feche o acordo, Pessoa descreveu de forma vaga sua conversa com Edinho, mas afirmou que havia vinculação entre as doações eleitorais e seus negócios na Petrobras.
O empreiteiro contou ter se reunido com Edinho a pedido do então tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, apontado como o principal operador do partido no esquema de corrupção descoberto na Petrobras e hoje preso em Curitiba.
As doações à campanha de Dilma foram feitas legalmente. Segundo os registros do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), foram três: duas em agosto e outra em outubro de 2014, dias antes do segundo turno da eleição.
Se Pessoa fechar o acordo de delação premiada com os procuradores, ele terá então que fornecer provas e detalhar suas denúncias em depoimentos ao Ministério Público e à Polícia Federal.
Em janeiro, Pessoa já havia indicado sua disposição de falar sobre a campanha de Dilma Rousseff em documento escrito na cadeia e publicado pela revista “Veja”. “Edinho Silva está preocupadíssimo”, escreveu o empresário.
CAIXA DOIS
Pessoa também afirmou aos procuradores que fez contribuições clandestinas para a campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à reeleição, em 2006, e a do prefeito petista de São Paulo, Fernando Haddad, em 2012.
O empreiteiro disse que deu R$ 2,4 milhões à campanha de Lula, via caixa dois. O dinheiro teria sido trazido do exterior por um fornecedor de um consórcio formado pela UTC com as empresas Queiroz Galvão e Iesa e entregue em espécie no comitê petista.
Pessoa afirmou também que, a pedido de Vaccari, pagou outros R$ 2,4 milhões para quitar dívida que a campanha de Haddad teria deixado com uma gráfica em 2012. O doleiro Alberto Youssef, outro operador do esquema de corrupção na Petrobras, teria viabilizado o pagamento.
Segundo o empreiteiro, o valor foi descontado de uma espécie de conta corrente que ele diz ter mantido com Vaccari para controlar o pagamento de propinas associadas a seus contratos na Petrobras.
Pessoa também promete revelar às autoridades detalhes sobre seus negócios com o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, que hoje cumpre prisão domiciliar por seu envolvimento com o mensalão.
O empreiteiro, que pagou R$ 3,1 milhões à empresa de consultoria de Dirceu entre 2012 e 2014, diz que o contratou para prospectar negócios no Peru, mas afirmou aos procuradores que a maior parte dos repasses foi feita após a prisão do ex-ministro, para atender a um pedido de ajuda financeira da sua família, em razão de sua influência no PT.
OUTRO LADO
O PT rejeitou as acusações do empresário Ricardo Pessoa e afirmou em nota que todas as doações à campanha da presidente Dilma Rousseff em 2014 foram feitas de acordo com a legislação eleitoral.
O partido ressaltou que as contas da campanha de Dilma foram aprovadas por unanimidade na Justiça Eleitoral.
A assessoria do ministro Edinho Silva, chefe da Secretaria de Comunicação Social, que foi o tesoureiro da campanha presidenical, informou que a nota do PT deveria ser considerada sua reposta às alegações do empreiteiro.
A Presidência da República e a assessoria do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disseram que não fariam comentários sobre o assunto.
O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, afirmou que as doações à sua campanha foram todas feitas de acordo com a lei, e que as dívidas foram absorvidas e quitadas posteriormente pelo PT.
O advogado Luiz Flávio Borges D’Urso, que defende o ex-tesoureiro petista João Vaccari Neto, disse que ele só captou doações legais para o partido e não participou do esquema de corrupção descoberto na Petrobras.
O advogado do ex-ministro José Dirceu, Roberto Podval, informou que seu contrato de consultoria com a UTC tinha como objetivo prospectar negócios no Peru, sem qualquer relação com a Petrobras.
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