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26/05/2015
26/05/2015
O SUS dos Huck, vaias a Padilha e Mantega - Lições da vida
Palavra Livre - 25/05/2015
foto. mdemulher.abril.com |
Davis Sena Filho
Apesar do grande susto, a família Huck passa bem, de acordo com as notícias veiculadas e publicadas pela imprensa familiar e empresarial, pois teve acesso aos profissionais de saúde, que socorreram as celebridades globais, bem como o piloto e as testemunhas que viram o acidente eletromecânico do avião, que sobrevoava os arredores da cidade de Miranda, no interior do Mato Grosso do Sul.
Luciano e Angélica se tornaram ícones do capitalismo brasileiro, porque contumazes garotos propaganda de empresas poderosas do mercado, como as de telefonia, bancos, automóveis, produtos de beleza e alimentícios, dentre uma infinidade de ofertas que estão à venda, além de serem empresários de grande porte, até porque o casal tem como principais produtos suas imagens, que lhes dão retorno em forma de publicidade, em associação com a TV Globo, da poderosa família Marinho — magnata bilionária de todas as mídias cruzadas.
Contudo, o que me chamou a atenção sobre o acidente aéreo dos Huck foi exatamente o poder público, que socorreu tais figuras famosas e ricas, que te remetem, sobretudo, ao privatismo, à iniciativa privada, ao mundo dos grandes negócios e ao glamour do high society. É de surpreender, realmente, a competência, a disposição e a dedicação de servidores públicos para salvar e atender os Huck, que não foram levados para hospitais particulares, a apresentar seus cartões de saúde privada.
Não. Não ocorreu este fato. Quem os atendeu foi a Santa Casa de Campo Grande, financiada, em grande parte de sua logística e pronto atendimento pelo dinheiro do Sistema Único de Saúde (SUS), ou seja, do Estado, do povo brasileiro. A tradicional unidade de saúde é referência no atendimento e socorro de politraumatizados no Mato Grosso do Sul, terra de brasileiros trabalhadores, notadamente nas áreas de pecuária, agricultura e turismo, por causa do Pantanal.
Importante Estado da Federação, um dos celeiros do Brasil, País que ruma para sua independência e emancipação, apesar dos percalços, dificuldades e daqueles que não acreditam no poderoso País de língua portuguesa. É inoxerável o destino do Brasil, escolhido por seu povo, rumo ao desenvolvimento e ao bem-estar social.
Entretanto, não foram apenas os profissionais de Saúde da Santa Casa financiada pelo SUS que socorreram a família Huck. Anteriormente, ainda nos campos de uma fazenda onde o piloto do avião realizou um pouso forçado e perigoso, militares da Aeronáutica, por intermédio de um helicóptero, regataram as celebridades milionárias, que sempre emprestaram suas imagens para defender ou valorizar o capitalismo selvagem que se pratica no Brasil, principalmente após as privatizações dos governos do ex-presidente tucano, Fernando Henrique Cardoso — o Neoliberal I.
Ao chegar em Campo Grande de helicóptero, Luciano e Angélica Huck, além de seus filhos, foram transportados por ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que lhes fizeram os primeiros socorros e os levaram, prontamente, para a Santa Casa, que os atendeu com seus serviços médicos e de enfermagem.
Todavia, nem tudo reflete o profissionalismo e a competência demonstrados pelos profissionais de atendimento e socorro, a exemplo dos militares da FAB, do pessoal do Samu e dos médicos e enfermeiros. Após os ricos e famosos apresentadores da Globo serem atendidos, com ferimentos leves, mas agora portadores para sempre de um baita susto, porque o voo apresentou ao casal a possibilidade da morte, único destino real da frágil condição humana, o coordenador do Samu, em Campo Grande, acusou a Santa Casa de esconder leitos de UTI.
Eduardo Cury disse à imprensa de negócios privados, que, por sua vez não deu destaque às suas declarações, que desde quando os apresentadores de televisão chegaram à Santa Casa o hospital passou a negar atendimento ao alegar falta de vagas. O coordenador do Samu afirmou ainda que a unidade de saúde negou leitos a seis pacientes, além de fechar a UTI cardíaca, porque a intenção era receber Luciano e Angélica Huck, mesmo a ter enfermos entubados e ventilados pelas mãos de servidores por mais de 12 horas, à espera de atendimento.
Se é verdade, e for comprovada tamanha irresponsabilidade, vai se tornar imperativo punir a quem afrontou os enfermos em prol de atender pessoas que não estavam a correr risco de vida e que tem condições financeiras para serem atendidas em hospitais privados, tão prezados pela classe média coxinha, bem como pelos ricos deste País desigual, injusto, violento e que ainda comporta gente que combate, diuturnamente, a distribuição de renda e de riqueza ao povo brasileiro.
Enquanto isso, o ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega é vaiado pela segunda vez este ano em público por coxinhas fascistas, que teimam em reagir contra a inclusão social da forma mais covarde e infame possível. A mesma coisa aconteceu com o ex-ministro da Saúde, Alexandre Padilha, que administrou sua Pasta de forma republicana e foi vítima de um advogado babaca, que se levantou da cadeira, bateu em seu copo com o talher e desrespeitou o cidadão, que foi autoridade, por não concordar com os governos petistas. O energúmeno falou um monte de asneiras, típicas de uma coxinha mequetrefe e analfabeto político, apesar de ter diploma universitário. Aliás, analfabeto político com diploma é nos tempos de hoje o mais usual e corriqueiro.
Por sua vez, Guido Mantega, em visita a um amigo, já tinha sido ofendido em lanchonete de hospital por médicos coxinhas, que tratam a medicina mercantilmente, meramente como um negócio e se sentem inconformados e revoltados com a presença de médicos cubanos, que exercem a medicina nos bairros e nas cidades onde tais médicos brasileiros e elitistas se recusam a ir para trabalhar.
Agora Mantega, um político e economista republicano, reconhecido pela comunidade internacional como um dos principais responsáveis pelos avanços do Brasil e pelas conquistas do povo brasileiro nos últimos 12 anos, é vaiado em restaurante por um bando de seres alienígenas de classe média, de perfil fascista, que não conhece as realidades brasileiras e reage a qualquer coisa que o faça se sentir ameaçado. A classe média não quer mudanças, desenvolvimento e se comporta como o abutre da mitologia que todo dia bicava o fígado de Prometeu, neste caso, o Brasil.
Em contraponto à Fazenda, o ex-ministro da Saúde, Alexandre Padilha, que cooperou efetivamente para aperfeiçoar o SUS, também é alvo de patifarias e falta de educação. O sistema público de saúde deste País é reconhecido pelo Banco Mundial (Bird). Muitos países desenvolvidos não tem um igual, a exemplo dos Estados Unidos, ao ponto de o presidente Barack Obama enfrentar todo o tipo de boicote, sabotagem e críticas dos setores conservadores dos EUA, que lutam contra a efetivação de um sistema público de saúde para atender a maioria do povo estadunidense. Até hoje, Obama ainda não conseguiu transformar em universal o sistema de saúde daquele poderoso País.
O Bird reconheceu no livro “20 anos de Construção do SUS no Brasil”: O Sistema Único de Saúde do Brasil – conhecido como SUS – lançou os alicerces de um sistema de saúde melhor para o país, contribuindo para o bem-estar social e a melhoria da qualidade de vida da população. (...) Com base nessa experiência e apesar de todas as dificuldades inerentes a um País em desenvolvimento, o Brasil é hoje referência internacional na área de saúde pública e exemplo para outros países, que buscam sistemas mais igualitários de saúde.
A verdade é que o SUS fez do Brasil um dos primeiros e poucos países a definir como direito, em sua legislação, o acesso universal à saúde por parte da população. Certamente, o caminho para que o SUS transforme todas as suas áreas em atividades de excelência é longo, cheio de obstáculos e requer muito dinheiro, trabalho e dedicação. Por seu turno, tal sistema é referência em inúmeros setores de atendimento médico-hospitalar e, com efeito, financia também grande parte da rede de saúde privada. É fato. Ponto.
A verdade é que o SUS fez do Brasil um dos primeiros e poucos países a definir como direito, em sua legislação, o acesso universal à saúde por parte da população. Certamente, o caminho para que o SUS transforme todas as suas áreas em atividades de excelência é longo, cheio de obstáculos e requer muito dinheiro, trabalho e dedicação. Por seu turno, tal sistema é referência em inúmeros setores de atendimento médico-hospitalar e, com efeito, financia também grande parte da rede de saúde privada. É fato. Ponto.
As vaias aos ex-ministros o são de conotações fascistas e tentam intimidar políticos que cooperaram, sem sombra de dúvida, para o Brasil deixar de ser a 15ª economia do mundo e passar a ser a sétima, o que não é pouco, porque essa realidade foi conquistada em menos de dez anos. Por sua vez, enquanto a burguesia esteve no poder, estagnou economicamente o País e vendeu, irresponsavelmente, mais de cem estatais, sendo que algumas, a exemplo da Vale do Rio Doce e da Telebras, o são de enorme interesse estratégico para o Brasil. Até hoje...
Luciano Huck e Angélica não sabem disso. Não conhecem a história de luta para se ter o SUS e mantê-lo, mesmo com seus defeitos, falhas e negligências de alguns profissionais de saúde e principalmente de administradores. Depois desse grande susto, eles deveriam agradecer a Deus, ao piloto, que foi de uma competência e de um estado de espírito incomuns, ao povo brasileiro que financia o SUS e a políticos que se dedicaram, de forma honrada, para que o Brasil avance em seus desejos e esperanças de dias melhores.
Existem políticos honrados e fora da política não há solução, a não ser a opção pelas ditaduras, fato este que seria uma lástima, burrice extrema e falta de compreensão da história do Brasil e da América Latina. Temos uma Casa Grande da pior qualidade moral e completamente antissolidária. Parte dela se doeu com a quase tragédia da família Huck e percebeu que os ricos e famosos também são frágeis mortais perante a morte. A realidade não é o quadro “Lata Velha” e muito menos o programa “Estrelas”. O SUS deu uma lição. Os Huck, involuntariamente, também. É isso aí.
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