Segundo a revista, uma conspiração
ameaçaria melar todo o caso. Ela consistiria numa investigação já em
curso na corregedoria da Polícia Federal, que estaria descobrindo o uso
de grampos clandestinos na regional paranaense da instituição. Prova
disso seriam grampos descobertos nas celas dos presos, para que eles
tivessem suas conversas registradas, mesmo presos – o que é ilegal.
As supostas ilegalidades já teriam
até sido denunciadas por um delegado, que chegou a integrar a
força-tarefa do Paraná. Algumas delas teriam sido feitas com
conhecimento do juiz Sergio Moro.
Veja argumenta que a investigação da
corregedoria faria parte de um esforço do governo para melar toda a
operação no momento em que as provas, supostamente, estariam se
aproximando do Palácio do Planalto.
Um delegado chega a afirmar na reportagem, em off, que o material seria suficiente para anular toda a operação.
O ponto, no entanto, é outro. Se
houve ilegalidades, devem ser investigadas; se não houve, Veja está
apenas enxergando fantasmas.
Leia, abaixo, um trecho da reportagem:
Grampos, intrigas e troca de acusações ameaçam a Operação Lava-Jato
Por Rodrigo Rangel e Hugo Marques
Um exército de advogados dos maiores
e mais conceituados escritórios do país há mais de um ano esquadrinha
os processos da Operação Lava-Jato em busca de algo que possa ser usado
na Justiça para tentar questionar a validade das investigações sobre o
maior escândalo de corrupção da história do país. É a única chance que
os advogados têm de livrar da punição exemplar seus clientes,
empreiteiros, políticos e funcionários públicos corruptos, que desviaram
mais de 6 bilhões de reais dos cofres da Petrobras. É também a última
esperança de proteger a identidade dos mentores e principais
beneficiários do esquema que usou o dinheiro dos brasileiros para
enriquecer e comprar o poder. Até hoje o Supremo Tribunal Federal e o
Superior Tribunal de Justiça rejeitaram todas as incursões nessa
direção. Na semana passada, o empresário Ricardo Pessoa, apontado como o
chefe do clube das empreiteiras envolvidas, assinou um acordo de
delação premiada, confessou sua participação no crime e se comprometeu a
contar o que sabe - e o que ele sabe implica no caso o ex-presidente
Lula, a campanha da presidente Dilma e alguns de seus principais
assessores. A colaboração de Pessoa levará os policiais e os
procuradores à derradeira fase da investigação, ao iluminar o caminho
completo trilhado pelo dinheiro roubado e permitir que se rastreie com
precisão a cadeia de comando. De onde menos se esperaria, surge agora
uma incursão que pretende pôr tudo isso a perder.
Com o conhecimento do ministro da
Justiça, José Eduardo Cardozo, o comando da Polícia Federal em Brasília
está investigando sigilosamente os delegados e agentes envolvidos na
Operação Lava-Jato. VEJA teve acesso a uma sindicância aberta pela
Corregedoria da PF e conversou com policiais que acompanham e participam
da apuração. É preocupante. Segundo os corregedores, o procedimento foi
instaurado para apurar "ilegalidades" praticadas pelos colegas do
Paraná, onde estão centralizadas as investigações do escândalo da
Petrobras. Que "ilegalidades" seriam essas? Os federais de Brasília
acusam os paranaenses de instalar escutas para captar clandestinamente
conversas de presos e dos próprios policiais. Uma dessas escutas foi
descoberta na cela do doleiro Alberto Youssef, uma das principais
testemunhas do esquema de corrupção. Em maio do ano passado, o doleiro
encontrou um transmissor de voz escondido sobre o forro do teto de sua
cela. Os corregedores acusam os delegados da Lava-Jato de ter colocado o
aparelho para obter provas por meio de métodos ilegais. Parece grave - e
é -, principalmente pelo que aparenta estar na gênese da investigação.
"Isso vai provocar a anulação de toda a Operação Lava-Jato", diz, sob a
condição de anonimato, um delegado de Brasília que participa da
apuração. "A situação vai ficar feia. Vai aparecer mais coisa",
advertiu. Essa entrevista foi feita na última quarta-feira à tarde.
Em privado, delegados próximos da
cúpula da Polícia Federal admitem que o objetivo da "operação paralela" é
carimbar a Lava-Jato com suspeitas de irregularidades - o que,
fatalmente, abriria caminho para questionamentos judiciais sobre a
operação e poderia resultar, em última análise, em sua anulação. Para o
ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Carlos Velloso, ainda que se
comprove a suspeita de que teria havido interceptação ilegal na
Lava-Jato, isso não seria suficiente para desqualificar toda a operação.
"Se essa prova paralela não representa o início da investigação, então
ela é declarada nula, sem prejudicar as demais provas", diz o
ex-ministro. Para o delegado Jorge Pontes, ex-diretor da Interpol, o
jogo está claro: "A minha suspeita é que haja um grupo de pessoas já
cooptadas para tentar minar e comprometer a Operação Lava-Jato. Neste
momento em que a sociedade brasileira tem uma expectativa histórica de o
país deixar de ser vítima de corrupção institucionalizada, isso aí é
uma tentativa da corrupção institucionalizada de criar no seio da
polícia uma contenda que tem a intenção de jogar alguma dúvida sobre
essa investigação".
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