.
29/05/2015
A dobradinha Gilmar Mendes-Eduardo Cunha
Um retardou o julgamento no STF; outro manobrou para a Câmara aprová-lo: para ambos o financiamento empresarial de campanha era questão de honra.
Maria Inês Nassif
Se for definitivamente aprovada
pelo Congresso a emenda constitucional que vai condenar o país a uma
convivência forçada e duradoura com o financiamento empresarial de
campanhas eleitorais, será graças a manobras de duas personalidades com
grande dificuldade de conviver com o contraditório: o presidente da
Câmara, Eduardo Cunha, e o ministro Gilmar Mendes, do STF.
No STF, Mendes interrompeu com um pedido de vistas, em 2 de abril, o julgamento de uma ação direta de inconstitucionalidade (Adin) de autoria da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) que argui a constitucionalidade da doação empresarial de campanha. O ministro botou o julgamento de seus pares na sua gaveta e tem esperado. Aguardou tempo suficiente para Cunha tirar de outra gaveta, a da Câmara, uma proposta de emenda constitucional que, se aprovada, vai tornar muito complicado ao STF declarar a inconstitucionalidade da Adin.
Uma vez que o Congresso defina como direito constitucional dos políticos e partidos receberem doação de empresas, o STF vai arrumar uma encrenca brava com o Congresso se disser o contrário.
No STF, Mendes interrompeu com um pedido de vistas, em 2 de abril, o julgamento de uma ação direta de inconstitucionalidade (Adin) de autoria da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) que argui a constitucionalidade da doação empresarial de campanha. O ministro botou o julgamento de seus pares na sua gaveta e tem esperado. Aguardou tempo suficiente para Cunha tirar de outra gaveta, a da Câmara, uma proposta de emenda constitucional que, se aprovada, vai tornar muito complicado ao STF declarar a inconstitucionalidade da Adin.
Uma vez que o Congresso defina como direito constitucional dos políticos e partidos receberem doação de empresas, o STF vai arrumar uma encrenca brava com o Congresso se disser o contrário.
Essa
era uma intenção explícita de Mendes. Pressionado a desengavetar o
julgamento da Adin, ele afirmou: “Temos que saber antes, e o Congresso
está discutindo, qual o modelo eleitoral, para saber qual o modelo de
financiamento adequado.” Indagado se essa não era uma posição contrária à
maioria do STF, Mendes afirmou: “Isso é provisório, o resultado de seis
a um é quando se dá a votação. Depois mudam-se os votos.”
Mendes,
portanto, sabia que iria ser voto vencido no julgamento da Adin– o
placar de votação já estava em seis votos contra a permissão de
financiamento empresarial e apenas um a favor – e passou por cima da
decisão de seus pares. Não deu para ganhar no voto, foi no grito.
Se
a Câmara confirmar a aprovação do financiamento empresarial, e se o
Senado, em dois turnos, entender dessa forma, Mendes terá feito
prevalecer a sua opinião minoritária sobre a de todos os outros
ministros do STF que entenderam não ser constitucional uma empresa
financiar campanha, porque empresa não é eleitor.
Do
lado de lá da Praça dos Três Poderes, no Congresso, o presidente da
Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), armou para aprovar, em primeiro turno, a
emenda constitucional que torna legítima a doação empresarial de
campanha. Foi uma vacina contra uma futura decisão do STF, retardada
pelo pedido de vistas de Mendes. A permissão para doação existe na lei
que, se declarada inconstitucional, deixaria de valer. Tornando-se uma
emenda constitucional, fica mais difícil ao STF manter esse
entendimento.
Para
garantir a aprovação do dispositivo, o presidente da Câmara amarrou uma
série de compromissos, pressões e chantagens sobre as bancadas – em
especial as dos parlamentares eleitos com forte financiamento
empresarial e as dos pequenos partidos, que têm muito a perder se outros
itens, como cláusula de barreira e fim das coligações, forem aprovados
dentro dessa reforma constitucional de Cunha, que é a antítese de tudo o
que se discutiu, entre entidades da sociedade civil, como mudança
necessária para “democratizar a democracia” brasileira e reduzir o poder
do dinheiro na política.
Na
madrugada de quarta-feira, esse era um assunto praticamente encerrado,
pois o artigo da reforma política que constitucionaliza o financiamento
empresarial de campanha não teve número suficiente de votos no plenário.
Como o regimento do Congresso impede que um assunto derrotado em
plenário seja recolocado à votação no mesmo ano, esse seria um risco
encerrado para seus opositores. Não foi o que entendeu Cunha. Passando
por cima de regimento, o presidente da Câmara recolocou o assunto em
pauta, não no mesmo ano, mas na mesma votação. E ganhou.
Até
agora, a vitória de Cunha foi ter mantido na reforma política que ele
quer fazer o financiamento empresarial de campanha. Ainda faltam uma
votação na Câmara e duas no Senado para que isso vire norma
constitucional. O que essa semana traz de assustador, contudo, é a
desenvoltura com que que o império da vontade de duas únicas
personalidades da República se impõe a todos os demais.
A
rejeição do dinheiro de empresas em campanhas eleitorais tem tantas
razões éticas que aparentemente é incompreensível uma mobilização tão
grande de personalidades, forças e chantagens políticas para mantê-lo. O
entendimento de que a democracia é mais democrática se todas as pessoas
tiverem as mesmas condições de influenciar uma decisão pública não é
uma questão ideológica, é um fato, uma obviedade. Cunha e Mendes,
todavia, tomaram a permissão do financiamento empresarial de campanha
como uma questão de honra e, para revesti-la de alguma nobreza,
colocaram-na no rol de brigas a serem vencidas nas disputas frequentes
com o governo, que rendem a simpatia da elite brasileira e dos meios de
comunicação. Isso, todavia, é apenas uma tentativa de vender a decisão
favorável à doação empresarial como um bom princípio. Mas não é. Suas
manobras se prestam unicamente a manter o status quo de um sistema
político em que valem os interesses dos eleitores mais poderosos,
aqueles que detêm dinheiro suficiente para financiar políticos.
________________________________
PITACO DO ContrapontoPIG
Retrato duplicado da picaretagem descarada contra o País.
_________________________________
.
Nenhum comentário :
Postar um comentário
Veja aqui o que não aparece no PIG - Partido da Imprensa Golpista