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.23/05/2015
Médicos “fantasmas” são indiciados no Paraná. Nenhum é cubano
No Hospital das Clínicas da UFPR, CGU
e Polícia Federal identificam “doutores” que abandonam função pública
pela qual recebem, enquanto atendem em suas clínicas particulares;
o esquema incluía fraude nos cartões de ponto
A partir de auditoria da Controladoria Geral da União
(CGU), a Polícia Federal deflagrou na quinta-feira (21) a Operação São
Lucas, no Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Paraná
(UFPR), em Curitiba. Dez médicos serão indiciados pelos crimes de
estelionato qualificado, falsidade ideológica, prevaricação e abandono
da função pública. Os “doutores” ganham salários de até R$ 20 mil como
funcionários públicos concursados, mas pouco apareciam no trabalho, ou
apenas batiam o ponto e iam embora atender em consultórios ou clínicas
privadas, deixando desfalcado o atendimento na rede pública. O esquema
incluía fraude nos cartões de ponto e outras pessoas podem estar
envolvidas.
A CGU cruzou dados, identificou produtividade muito baixa
de alguns médicos, realizando poucos procedimentos e atendimentos,
incompatível com a jornada de trabalho, e constatou dez casos mais
graves que há muitos anos recebiam salários praticamente sem trabalhar,
segundo o delegado federal Maurício Todeschini.
Na auditoria foram constatadas injustificadas divergências
na folha de ponto, no Sistema de Informação Hospitalar e na catraca de
acesso. Na ocasião, a CGU recomendou a adoção de controles efetivos na
jornada de trabalho dos médicos. Nenhuma medida efetiva foi
implementada.
A investigação também constatou a existência de médicos
com baixa assiduidade, em alguns casos com índices inferiores a 7%. No
papel há uma grande quantidade de médicos, como 168 cirurgiões,
suficiente para prover um bom atendimento do hospital à população, mas
apenas 27 deles realizaram 61,41% das cirurgias. Mesmo entre os mais
assíduos, a média de dias de trabalho é baixa (15%). Com isso o
atendimento ficava precário com a fila de espera por uma cirurgia
cardíaca chegando a 1.354 dias no HC.
A operação recebeu o nome de São Lucas por ser o santo
padroeiro dos médicos e mobilizou 50 policiais federais e três
servidores da CGU. Cumpriu mandados de busca e apreensão no hospital e
interrogou servidores na Superintendência da Polícia Federal em
Curitiba. Na manhã da sexta-feira (22), diretores do Hospital prestaram
esclarecimentos à polícia federal.
A PF não divulgou os nomes dos indiciados nesta fase,
alegando que a investigação ainda está em curso, mas informou que os
indiciados são médicos renomados na cidade, alguns professores da UFPR.
Um deles é dono de um grande hospital privado de Curitiba. Atuavam na
ultrassonografia, radioterapia, clínica médica, transplante de medula,
nefrologia, cirurgia toráxica e cardiológica, serviços de reprodução
humana, radiologia e ginecologia.
Todeschini, afirmou que outros profissionais podem estar
envolvidos. “Continuaremos aprofundando a investigação já que a ausência
atrasava muito os atendimentos. O parecer da CGU mostra que pacientes
ficavam meses na fila e outros médicos acabavam ficando sobrecarregados,
principalmente os residentes”, disse.
Além do inquérito da PF, a CGU recomendou à Universidade a
instauração de procedimentos disciplinares e acompanhará as medidas
corretivas.
A reitoria da UFPR divulgou nota afirmando que determinou a
abertura de Processos Administrativos Disciplinares individuais contra
os funcionários citados e sindicância sobre os responsabilidade pelas
fraudes no controle do ponto, além da imediata imediata implantação do
controle biométrico de frequência a todos os 2.900 servidores no HC.
A direção do hospital também emitiu nota dizendo apoiar
“incondicionalmente os órgãos de controle em suas ações que visam a
apuração de quaisquer irregularidades”. Afirmou que que o registro
eletrônico de ponto está em curso, mas ainda não foi implantado em todos
os departamentos. Informou que as escalas de trabalho dos profissionais
de saúde do HC é publicizada por meio do seu site.
O Conselho Regional de Medicina do Paraná informa que pode
abrir sindicância sobre as denúncias e em caso de infrações éticas vai
encaminhar os fatos à Corregedoria para apuração. A Associação Médica do
Paraná informou que não vai se pronunciar sobre o caso neste momento.
A operação da Polícia Federal teve pouca cobertura
nacional pela imprensa oligopolista, mas o interesse público exige maior
divulgação, pois casos semelhantes não são raros em unidades de saúde
de todo o país. A ampla divulgação presta serviço à cidadania, sobretudo
a pacientes do SUS, e serve para dissuadir médicos de praticarem
malfeitos.
No ano passado, quando foi implantado o programa Mais
Médicos, o Ministério da Saúde precisou contratar médicos estrangeiros,
havendo disponibilidade em grande escala apenas de cubanos. Várias
entidades médicas brasileiras fizeram ferrenha oposição ao programa,
chegando às raias do preconceito e da xenofobia. Felizmente o episódio
foi superado. Espera-se dessas entidades proporcional indignação, além
de rigor com as más condutas de médicos – como constar da folha de
pagamento até aposentar, receber recursos públicos para atender
pacientes do SUS que não são atendidos por fraude no comparecimento ao
trabalho e pôr em risco as vidas de pessoas que esperam por um
procedimento.
(Foto: WikiCommons)
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PITACO DO ContrapontoPIG
Isso acontece no Brasil todo.
Médicos deste tipo são inteiramente contra o programa Mais Médicos. Para eles medicina é só negócio.
Agora imaginem as manchetes dos jornalões se houvesse pelo menos um médico cubano no meio da história...
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