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Semana é decisiva para a retomada da agenda do governo no Congresso


Tereza CruvinelAté aqui, neste ano legislativo, o Senado e principalmente a Câmara tocaram uma agenda própria, de projetos de autoria parlamentar. Agora, o governo tenta retomar sua própria agenda, votando no plenário, esta semana, a MP 665, uma das medidas do ajuste fiscal, que trata de seguro desemprego e abono salarial. A outra MP, a 664, que trata de benefícios previdenciários, será votada na comissão especial. O toque de reunir será dado pelo vice-presidente e coordenador político Michel Temer numa reunião às 17 horas de hoje com o líder do governo, José Guimarães, e os líderes de todos os partidos aliados. A votação das MPs do ajuste fiscal será um divisor de águas para o governo Dilma em sua relação com o Congresso, em que, até aqui, neste segundo mandato, acumulou derrotas impostas pelos presidentes da Câmara e do Senado.

Michel tem trabalhado muito e falado pouco, como é de seu estilo, mas nos últimos dias tratou de reorganizar as forças do governo, identificando os que estão dispostos a votar com a coalizão e os que têm votado contra. Em paralelo, avançou nas negociações para as nomeações de cargos de segundo e terceiro escalão. Compartilhar cargos e funções é uma prática dos governos de coalizão em todo o mundo. Mas a contrapartida deve ser o voto e o apoio parlamentar dos partidos que integram o governo. No segundo governo Dilma, muitos querem ficar com o bônus mas evitando o onus de votar com o Planalto, atitude que o enfraquecimento político do governo explica, mas não justifica. Michel tem dito isso a seu modo, com suavidade mas com firmeza.

Seu estilo suave não pode ser confundido, com tibieza na condução política. No folclore parlamentar já esquecido dos anos FHC, houve um episódio engraçado e revelador. Numa reunião com o PMDB, o falecido ministro Sergio Motta, com seu estilo desabrido, dizia ao então líder Michel Temer que era preciso garantir os votos da bancada “colocando o pau na mesa”. Michel ficou rubro mas respondeu no ato.

– Ministro, não teríamos aprovado aqui a emenda da reeleição se eu não tivesse colocado o …membro na mesa!

É com este estilo que ele agora tentará enquadrar inclusive os rebeldes de seu partido, o PMDB.

As mudanças

Em relação à MP 665, o relator Paulo Rocha reduziu de  18 para 12 meses trabalhados o prazo para que o empregado possa requerer o seguro desemprego pela primeira vez.  Quando  o trabalhador estiver acessando o benefício pela segunda vez,  o prazo de carência não será mais de 12 meses, como o governo propõs, mas de 9 meses. E nos casos em que o acesso se der pela terceira vez, o trabalhador terá de provar que trabalhou pelo menos seis meses. Estas mudanças tornam o texto mais ameno e aceitável pela base.

Já em relação aos benefícios previdenciários, o relator da MP 664, deputado Ricardo Zaratini, mantém a exigência de dois anos de casamento ou união estável para a concessão de pensão por morte mas reduziu o tempo mínimo de contribuição do cônjuge falecido de 24 para 18 meses.

O tempo pelo qual a viúva ou viúvo  terão direito à pensão também foi modificado pelo relator. O governo previa um cálculo que levava em conta a expectativa de vida do cônjuge. O deputado propõe uma tabela progressiva que aumenta o tempo de direito à pensão de acordo com a idade. Assim, o tempo mínimo de pensão será de três anos, aplicável para os dependentes com menos de 21 anos. O máximo será de 20 anos, para dependentes a partir dos 44 anos. Zarattini também previu, no relatório, que nos  casos em que esses prazos não estejam completos, a família do trabalhador morto terá direito à pensão por quatro meses. E retirou a regra proposta pelo governo, segundo a qual a família teria direito a 50% do valor do benefício do segurado, mais 10% por dependente – até o máximo de 100% do benefício. Assim, a pensão será sempre completa, desde que obedecidos os critérios. A proposta alternativa, mais suave, será apreciada pela comissão especial esta semana, devendo ir a voto no plenário na semana que vem.

Este será, em princípio, o jogo mais importante para o governo na área política esta semana.

Tereza Cruvinel atua no jornalismo político desde 1980, com passagem por diferentes veículos. Entre 1986 e 2007, assinou a coluna “Panorama Político”, no Jornal O Globo, e foi comentarista da Globonews. Implantou a Empresa Brasil de Comunicação - EBC - e seu principal canal público, a TV Brasil, presidindo-a no período de 2007 a 2011. Encerrou o mandato e retornou ao colunismo político no Correio Braziliense (2012-2014). Atualmente, é comentarista da RedeTV e agora colunista associada ao Brasil 247. 
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