Aécio preferiu não lembrar que a
reeleição foi instituída pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso,
numa reforma política que o beneficiou diretamente, com a mudança das
regras do jogo em plena partida. Contando com intenso lobby midiático,
FHC conseguiu aprovar, em seu primeiro mandato, a emenda constitucional
que permitia a reeleição. Depois, este acabou sendo o maior escândalo de
sua gestão, quando se soube que cada parlamentar recebeu cerca de R$
200 mil para votar a favor da emenda (relembre o caso em texto de
Eduardo Guimarães).
A campanha à reeleição de FHC também
contou com farto caixa dois, segundo denúncias da própria revista Veja.
Um dos arrecadadores era ninguém menos que o atual vereador Andrea
Matarazzo, que teria levantado recursos junto à Alstom, empresa francesa
que, anos depois, se viu envolvida no escândalo do metrô de São Paulo
(saiba mais em
Propina da Alstom ajudou a bancar a reeleição de FHC). No
entanto, como os escândalos de corrupção da era FHC não eram
investigados, nem a compra da reeleição, nem a arrecadação de propinas
para a campanha presidencial de 1998 geraram punições.
Custo econômico pesado
A compra de votos e a arrecadação de
propinas compõem os custos da reeleição, mas o ônus para o Brasil foi
muito mais pesado. Instituído em 1994, o Plano Real utilizou como fator
de estabilização monetária a chamada "âncora cambial". Com o real
artificialmente valorizado, os preços eram contidos. No entanto, desde
1995, eram evidentes os impactos negativos no balanço de pagamentos.
Assim, a livre flutuação do real já vinha sendo cogitada desde 1995.
Naquele ano, o economista Persio
Arida deixou a presidência do Banco Central, depois de perder um embate
com o também economista Gustavo Franco, que o sucedeu. Persio pretendia
desvalorizar o real, mas perdeu a batalha. A livre flutuação do câmbio
voltou a ser discutida em 1997 e 1998, mas sempre acabou abortada em
razão do fator político – se o real flutuasse, dizia-se, FHC não seria
reeleito.
No entanto, para manter o real
forte, eram necessárias medidas extremas, como, por exemplo, uma taxa de
juros que chegou a superar 45% ao ano. Não por acaso, a era FHC
produziu uma explosão da dívida interna e um desemprego recorde na
economia brasileira. E nada disso foi suficiente para evitar que, em
fevereiro de 1999, menos de dois meses após a posse de FHC em seu
segundo mandato, o real fosse desvalorizado numa das manobras mais
atrapalhadas já vistas no setor público brasileiro.
Gustavo Franco se demitiu, a
operação foi assumida pelo economista Francisco Lopes e acabou gerando
os escândalos dos bancos Marka e Fonte-Cindam. Por ter traído o
eleitorado, que tinha a ilusão de que a política do real forte seria
mantida, FHC viu sua popularidade despencar nos meses iniciais do
segundo mandato. Mais grave ainda, como todas as reservas cambiais do
País haviam sido queimadas para defender o real, o Brasil se viu
forçado, mais uma vez, a se ajoelhar diante do Fundo Monetário
Internacional.
Portanto, se algum governo
desmoralizou a reeleição, foi o do ex-presidente FHC, que a instituiu.
Lula, por exemplo, teve um segundo mandato mais bem-sucedido do que o
primeiro. No caso da presidente Dilma, o começo da segunda gestão vem
sendo turbulento, mas ainda é cedo para avaliar qual será sua marca na
história.
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