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22/09/2015
O samba do rapaz folgado, em parceria com Gregorio Duvivier e Noel
por Fernando Brito
Não sei se foi o sono matinal, mas as duas primeiras leituras do dia se misturaram: a da coluna de Gregorio Duviver, sobre os “folgados” e a da reportagem da Folha sobre os bilhões pagos aos nossos ínclitos juízes (porque quase tudo é para eles, um nada para os servidores) a título de “benefícios”.
Diz Duvivier que o folgado sabe exatamente o que está fazendo, e não está nem aí: “folga porque acha que tem direitos”.
Suas excelências, certamente, sabem as condições em que vive o povo brasileiro e certamente acreditam que o Estado é perdulário, gasta demais e sustenta privilégios.
Mas não estão nem aí: salários polpudos, dois meses de férias, auxílio creche, escola, universidade, transporte, moradia, neonatal, funeral e o escambau.
Se ganham só para morar onde já moram, no que já é seu, recebem mais, muito mais, que um professor para enfrentar uma turminha de crianças ou adolescentes irrequietos, a quem o mundo da mídia não ensina senão a darem o mínimo de importância ao aprender, não importa.
Como o folgado, acha que tem direito.
Diz lá Duvivier que o que o define o folgado como ser humano “é a certeza de que a vida lhe deve mundos e fundos”.
Assim também os ilustres magistrados acham que, por terem passado em um concurso – difícil, ninguém nega – a sociedade lhe deve, vitaliciamente, mundos e fundos. Não ficará bem a sua excelência andar num carro popular, morar fora dos bairros mais nobres, tomar aquele vinho da promoção e apertar-se para pagar um escola para os filhos, porque pública só a universidade onde estudarão.
Não diz o Duvivier, mas digo que: para o folgado, a culpa sempre é do outro. Se o Estado não tem recursos, a culpa sempre será de sua ineficiência, da corrupção e, certamente, de alguns privilégios injustos que, com certeza, são de outros, não os deles.
No fundo, acha que os seis promotores do miserável Piauí que recusaram o auxílio-moradia por imoral, diante da pobreza do povo, são uns demagogos, populistas. O folgado não acha que eles são simplesmente “otários”, porque não se acham espertos: acham-se semideuses.
Duvivier lembra Noel: “Proponho ao povo civilizado/ não te chamar de malandro/ e sim de rapaz folgado”.
Modestamente, eu completo com Chico: “… o malandro pra valer/…trabalha/mora lá longe e chacoalha/num trem da Central”.
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