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25/10/2015
EUA: por trás dos golpes, as garras, por Márcio Valley
Jornal GGN - 25/10/2015
do blog do Marcio Valley
John
Adams foi o primeiro vice-presidente dos Estados Unidos, tendo George
Washington como presidente, e seu segundo presidente, governando no
período de 1797 a 1801. Iluminista e republicano, está inserido num
contexto histórico que representa o início do fim de uma longa tradição,
cujo berço é Grécia clássica e seu filho dileto é o senado romano, na
qual o pensamento filosófico e a arte da oratória ainda eram fortes na
política. Tempos nos quais não havia esperança para um candidato a
político alienado da razão, das verdades e das condições históricas de
sua própria época, como hoje parece ser apanágio necessário de parcela
considerável dos políticos brasileiros.
Adams
disse uma obviedade que, proferida pela boca de um pensador que
experimentou o poder, ganha densidade: “Existem duas maneiras de
conquistar e escravizar uma nação. Uma é pela espada, a outra é pela
dívida.”
E
disse outra que merece profunda e necessária reflexão pelos
brasileiros, que estamos numa grave turbulência democrática: "Democracia
nunca dura muito e logo se desperdiça, exaure, e mata a si mesma. Nunca
houve até agora uma democracia que não tenha cometido suicídio."
As palavras chave aqui são espada, dívida e escravidão.
A
sociedade ocidental experimenta, como forma de organização política, a
democracia submetida ao estado de direito, entendida a democracia como o
direito do cidadão de participar do poder político, em oposição às
ditaduras e tiranias, e o estado de direito como o cabedal jurídico que
limita a atuação estatal ao garantir os direitos e liberdades
individuais, impedindo o despotismo e o esmagamento do cidadão pelo peso
do Estado.
Não
se pode discordar da afirmação de Churchill de que a democracia é o
pior dos regimes políticos, porém não existe nada melhor. De fato, a
democracia dá voz potencial a todos os cidadãos na escolha do próprio
destino, sendo que a participação nos rumos da coletividade é um dos
principais fatores de elevação da autoestima. Mesmo para quem advogue o
socialismo, a democracia deve ser considerada indispensável como meio de
alcançar a felicidade comum, caso contrário pode-se repetir a farsa que
foi a experiência soviética.
A
democracia, como forma de governo, encontrou um sistema econômico que
aparentemente com ela forma um par perfeito na direção dos negócios
públicos e privados: o capitalismo. Baseado na propriedade privada,
nenhuma pessoa que defenda o liberalismo, entendido como a liberdade de
autodeterminação da própria vida, pode ser contra o capitalismo sem
incorrer numa contradição em termos.
Ainda
assim, democracia e capitalismo parecem estar fracassando no objetivo
de estender à humanidade a qualidade de vida que deveria ser um efeito
necessário do desenvolvimento humano. Por quê?
A resposta parece ser: democracia e capitalismo degeneraram por excesso de liberdade deste último.
Praticamente
todas as ações humanas estão sujeitas a alguma restrição de liberdade
individual, pois tal restrição é absolutamente necessária à manutenção
da saúde do tecido social. Seria impossível viver numa sociedade que não
penalizasse o homicídio, a apropriação indevida do patrimônio alheio e a
violação da liberdade sexual, apenas para ficar nesses exemplos.
A
democracia e o capitalismo, como produtos da ação humana, não podem
ficar de fora dessa restrição nas respectivas atuações. E, na verdade,
estão de fato sujeitos a diversas restrições.
O problema é que o capitalismo consegue escapar dessas amarras e, livre, corrompe a democracia.
Enquanto
o capitalismo manteve-se essencialmente territorial, ainda era possível
exercer sobre ele algum pouco controle, ante a necessidade do capital, e
muitas vezes do próprio capitalista, de permanecer no local da
produção. Obrigado a estar no local, devia alguma submissão às leis
locais, ainda que mínima. Tal possibilidade de controle, ainda que
bastante rarefeita, não mais existe. Atualmente, desvinculado de
qualquer território específico, nenhum país é capaz de lhe restringir a
liberdade.
A primeira vítima dessa liberdade é justamente a democracia.
A primeira vítima dessa liberdade é justamente a democracia.
Historicamente,
os ricos sempre foram senhores do Estado, num primeiro momento como
monarcas e, posteriormente, como eleitores privilegiados. Salvo poucas
exceções, ou os ricos estão no poder diretamente ou o poder é exercido
pelos escolhidos da riqueza. A estreiteza da relação riqueza-governo é
de tal ordem que se chega a justificar a existência do Estado como
instituição garantidora da propriedade, nada mais.
Democracia real, portanto, sempre foi e continua a ser uma utopia longínqua.
Mesmo
quando se fala em democracia clássica grega, isso guarda pouca relação
com o que se entende hoje por democracia popular. O comparecimento à
praça da Ágora era exclusividade de cidadãos homens nascidos de pais
atenienses, uma casta de privilegiados. Mulheres e estrangeiros
residentes eram excluídos da democracia. Além disso, havia servidão e
escravidão em Atenas, obviamente sem direito algum, o que por si
contraria o sentimento que temos hoje em relação aos fins e objetivos da
democracia.
Contudo,
num único e breve momento da história, que não chegou a cem anos, um
espirro histórico em quase cinco mil anos de civilização, uma parte da
própria elite, talvez entediada pela mesmice, inaugurou uma nova forma
de pensar que hoje designamos por Iluminismo.
Os
iluministas eram membros altamente intelectualizados da elite,
pensadores que puseram a razão acima dos temores mitológicos que até
então dominavam a humanidade. Durante esse período, Nietzche chegou a
decretar a morte de Deus. O filósofo só não previu que, tratando-se de
um ser todo-poderoso, no final do século seguinte, Ele ressuscitaria, e
com bastante disposição para angariar fundos, nas igrejas pentecostais.
Essa
facção diletante e aborrecida da elite europeia começou a pensar em
coisas como o abandono das barbaridades da Idade Média, do obscurantismo
religioso e das arbitrariedades do Estado. Iniciou um processo de
valorização do ser humano, visando à construção de uma nova sociedade,
fundada axiologicamente no altruísmo social e na dignidade da pessoa
humana. Havia um quê de utilitarismo no objetivo pretendido por essa
elite de intelecto entendiado que ousou desafiar as repugnâncias de sua
época. Não era, propriamente, o bem do indivíduo que se buscava, mas da
sociedade. Afinal, uma sociedade com uma carga menor de carências
individuais é certamente capaz de gerar um ambiente menos perigoso para
circular, possivelmente com um grau de felicidade geral maior e mais
cheirosa e bonita de se ver.
Embora
o ciclo do pensamento iluminista tenha durado pouco, encerrando-se no
despertar do século XIX, ecos dessa forma racionalista de pensar,
pressupondo a valorização do ser humano, persiste até os dias de hoje e
foi consagrada em instrumentos históricos notáveis, como a constituição
americana e a carta dos direitos humanos. Nossa constituição é recheada
de valores iluministas.
Esse
espirro histórico durante o qual uma fração da parcela rica da
sociedade foi confrontada com sua obrigação moral de cuidar dos
desvalidos veio a causar, tempos depois, reforçada pela influência de
outros eventos históricos importantes, como a ascensão das ideias de
Marx e as grandes guerras, um pequeno, mas significativo relaxamento na
sofreguidão pelo lucro.
Por um breve momento, repentinamente parecia que a sociedade humana tinha encontrado o caminho para o florescimento de grande parte dos indivíduos, um arranjo saudável entre a busca pelo lucro e a necessidade de excluir a experiência humana da miséria abjeta.
Durante esse piscar de olhos, nós parecíamos realmente ser a espécie mais inteligente do planeta.
A
legislação trabalhista protetiva ganhou impulso, um patamar salarial
mínimo é garantido, estipula-se um máximo de horas para o trabalho, o
Estado passa a conceder assistência social aos desfavorecidos, o acesso a
uma educação fundamental é garantida, assim como o acesso à saúde
básica, além de outras iniciativas vocacionadas à eliminação da condição
de vida degradante.
Um
pouco depois disso, em meados do século XX, ao bem-estar da população
veio agregar-se uma outra concessão do capital: a redução da miséria
pelo incremento na renda. Foi a época dos baby boomers americanos e dos
Trinta Gloriosos da França. Nesse momento histórico também se inclui os
cinquenta anos em cinco de Juscelino, no Brasil.
Entretanto,
quando tudo indicava que a democracia e o capitalismo iriam cumprir o
desígnio para o qual estavam predestinados, de conduzir a humanidade ao
paraíso na Terra, salvar o planeta da miséria, eis que se inicia um
desagradável retrocesso e se reacende a fogueira quase apagada da
degradação da condição humana. Perdem-se totalmente ou são mitigadas as
conquistas históricas do desenvolvimento civilizatório iniciado a partir
do final do século XIX.
A
América Latina viu-se arrebatada por ditaduras, no Oriente Médio
inicia-se um processo de desestabilização política que ainda continua, a
Europa ser torna um fantasma do que chegou a ser do que poderia ainda
ser.
Quem é o culpado? Quem estragou a festa da civilização?
O
culpado mais provável é a ressurgência da ótica do poder absoluto que
dominava o cenário na época da barbárie humana, dos faraós, czares e
imperadores. Retorna a vontade do rico de usar o seu poder de forma
absoluta, inquestionável, acima do bem e do mal. Poder absoluto que,
hoje, se traduz na perspectiva do lucro a qualquer preço, pensamento
bárbaro similar à conquista total e da terra arrasada, que se colocou no
passado e se coloca no presente acima dos interesses da humanidade.
Esse espírito deletério é representado por algo que é celebrado e olhado
de forma positiva até por quem é sua vítima: a globalização da
economia.
A
globalização não é um movimento recente, as grandes navegações do
século XVI já representavam esse intuito, e tampouco é culpada pelo
problema, trata-se apenas de ferramenta extremamente útil para alcançar o
real objetivo: lucratividade desmedida, poder sem limites.
A
globalização é atualmente a maior responsável pela renovação da
escravidão em roupagens modernas. Hoje o senhor do escravo não precisa
mais construir senzalas e nem necessita morar na casa grande. Ele obtém o
trabalho gratuito pagando, por exemplo, cinquenta centavos de dólar por
uma camisa numa fábrica em Bangladesh, que emprega costureiras por 20
dólares mensais. A corporação fashion americana ou europeia pode
afirmar, assim, que não é ela a responsável por pagar esse salário
miserável a um trabalhador seu. Certamente.
Numa
sociedade saudável, a globalização seria ótima, desde que entendida
como a liberdade plena de deslocamento do ser humano no planeta, pessoas
e seus patrimônios. No despertar da humanidade, a globalização era um
fato, inexistiam fronteiras e impedimentos ao tráfego humano.
Nossa
sociedade, porém, está muito longe de ser saudável. Alguém já afirmou
que somente uma pessoa muito doente pode se dizer perfeitamente adaptada
a essa sociedade degenerada. Nesse sentido, a inquietação, o
inconformismo, é que seria sinônimo de inteligência e saúde mental.
A
globalização, vista sob seu aspecto meramente econômico, admite apenas a
liberdade de tráfego para o capital. Pessoas continuam locais e
impedidas de atravessar fronteiras, vide o exemplo trágico dos
refugiados, alvo da “piedade” europeia muitas vezes traduzida no
afundamento de seus barcos.
Atualmente,
o poder político real não está mais nas mãos dos presidentes das
nações. Voltamos à era dos faraós, dos reis, dos imperadores. A única
diferença é que, hoje, eles sentam em tronos incógnitos. Não se sabe
mais quem são os reis e onde estão os seus castelos, porque eles
perderam o ancestral orgulho de estar no comando. A nova onda do
imperador é não ser admirado, somente temido. A invocação da genealogia e
da heráldica tornaram-se anacrônicas e até perigosas para os soberanos
num mundo apertado por sete bilhões de pessoas, em grande parte faminta,
no qual matar milhares, em caso de convulsão, não é mais assim tão
glamouroso. Hoje, nossos novos monarcas se apetecem somente pelo poder e
pela riqueza. Alguns poucos, menos cerebrais, à isso acrescentam a
vontade da fama.
Os
novos reis não possuem um local definido, uma área geográfica, para a
ação imperial. No antigo modelo, cada nação representava um pedaço do
planeta dominado por seu próprio rei. O poder do rei estava adstrito ao
território da nação. Isso é passado. Na atual divisão do poder,
território nada mais significa. O comando não mais se divide entre
nações e seus territórios, mas entre corporações e seus ramos de
negócios. A economia está fatiada e cada uma das fatias representa um
reino específico comandado por poucos monarcas absolutos. Há quem
sustente que temos atualmente 147 reis, cada um deles comandando as
corporações que encabeçam e que, em desdobramento, dominam todas as
demais (http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=rede-c...).
O
poder dos novos reis emana, tanto das riquezas do passado, decorrentes
da acumulação primitiva, como das riquezas modernas, obtidas por
empreendedorismo e oportunismo.
Munidos da força dessas riquezas,
manipulam a política como meio de controlar os sistemas monetário e
financeiro, ou seja, a toda a economia. Não se trata de uma conspiração,
mas de orientação identitária a partir de uma ideia contida no senso
comum, de que a riqueza deve ser mantida nas mãos de quem as detém e
ampliada ao máximo, independentemente das consequências. Embora não seja
uma conspiração, em toda a plenitude da palavra, isso não significa que
não se reúnam ocasionalmente para traçar diretrizes comuns. Fazem isso
com frequência regular no Fórum Econômico de Davos, na reunião de
Bilderberg e em outros grupos menores, mas não menos importantes, como a
sociedade Skull & Bones, além de outros, alguns dos quais
talvez nem chegue ao conhecimento do público.
Como todo rei, eles precisam de um exército. Esse exército, atualmente, se chama Estados Unidos da América.
Os
Estados Unidos não são "o" império, como muitos pensam. São apenas o
soldado do imperador, a interface do poder, a máscara com a qual é
encenado o teatro farsesco da democracia e da liberdade. São também a
espada de que nos alertava John Adams, com a qual é imposta a vontade
absoluta dos reis a todos os países.
Os
Estados Unidos, como braço armado dos imperadores, submete a economia
mundial à vontade do poder de quatro modos distintos: (a) corrompendo os
governos nacionais, (b) mediante a concessão de empréstimos
condicionados a exigências futuras virtualmente impossíveis de cumprir,
concedidos por instituições como Banco Mundial e FMI, (c) assassinando
políticos de países estrangeiros que incomodem ou (d) pelo velho,
tradicional e eficaz método de invasão armada.
Independentemente
do método, o objetivo é o mesmo: fragilizar a nação-alvo e obrigá-la ao
cumprimento da agenda corporativa. Um interesse presente é a venda de
ativos do colonizado. A privataria tucana praticada durante o governo de
Fernando Henrique Cardoso não possui outra explicação. Um intuito
marcadamente presente é o controle de recursos naturais, principalmente o
petróleo. Outras vezes, o desejo é instalar bases militares americanas
no país. Enfim, a submissão das demais nações é interessante sempre e
pelos mais variados motivos, mas principalmente por interesse em
recursos minerais ou de proteção aos produtos das corporações
internacionais.
Embora
na superfície se tratem de solicitações americanas, o interesse
subjacente, e principal, é das corporações. Apenas como exemplo, a
guerra do Iraque favoreceu empresas de construção e petrolíferas, tendo o
governo americano arcado com a totalidade do prejuízo. Na privatização
brasileira, foram corporações que se beneficiaram do sucateamento de
nossas estatais.
Constitui
fato histórico reconhecido que o governo dos Estados Unidos atuou para
desestabilizar governos de países soberanos, muitos deles pacíficos e
amigos dos americanos, inclusive através de assassinatos políticos.
Foi
assim em 1949, quando o governo americano auxiliou o golpe de estado
que conduziu Husni al-Za'im ao comando da Síria. Alçado ao poder, Za'im
implementou ações em benefício de corporações do petróleo.
Em
1953, os americanos, com apoio dos ingleses, derrubaram Mohammed
Mossadegh, que fora democraticamente eleito presidente do Irã. Mossadegh
ousou nacionalizar a indústria de petróleo iraniana, até então
controlada por uma corporação britânica, porque entendia que essa
riqueza mineral deveria beneficiar primeiramente o povo iraniano. Em seu
lugar, ascendeu Mohammad Reza Pahlavi, um tirano autoritário, porém
simpático ao poderio americano. Reza Pahlavi permaneceu no poder até
1979, quando uma revolução iraniana, liderada pelo Aiatolá Khomeini, o
depôs.
Como
agiram os americanos nesse episódio? Enviaram um emissário, munido de
milhões de dólares, para corromper os adversários políticos de
Mossadegh. Mossadegh, um democrata eleito, foi retratado pela imprensa
como um tirano, enquanto Reza Pahlavi, um monarca absolutista despótico,
era fantasiado de liberal.
Conduzido
pela desonestidade da imprensa e por políticos corruptos totalmente
desvinculados dos interesses do Irã, o povo aderiu ao golpe a auxiliou
na queda de Mossadegh. Tiro no próprio pé, movido pela ignorância e pela
fraude.
O
modelo utilizado no Irã, contra Mossadegh, torna-se padrão para a
derrubada discreta de governos incômodos: envio de poucos emissários
americanos, preferencialmente um homem só, com acesso ilimitado a
dinheiro, para corromper a imprensa e políticos locais.
O
modus operandi é relatado por John Perkins, no livro Confissões de um
Assassino Econômico, ele próprio tendo sido um desses agentes
infiltrados.
Em
1954, na Guatemala, o governo de Arbenz Guzmán, eleito democraticamente
presidente em 1951, desejava realizar uma ampla reforma agrária no
país, em benefício de seu povo. Isso, porém contrariava amplamente os
interesses de uma corporação americana do ramo de frutas. O governo dos
EUA enviou emissários para corromper os políticos da oposição.
Novamente
a imprensa mundial agiu, passando a imagem de que Arbenz era um agente
soviético. Arbenz foi deposto, sendo substituído por uma ditadura
militar que atendia aos interesses da corporação prejudicada. Esse é
considerado o primeiro dos vários golpes militares patrocinados pelos
americanos na América Latina, Brasil inclusive.
Em
1963, no Iraque, o general Abd al-Karim Qasim, que havia liderado um
golpe contra monarquia e proclamado a república, foi deposto e preso com
apoio dos americanos. Qasim era nacionalista, o que sempre desagrada as
corporações. De 1963 a 1968 há uma sucessão de golpes e assassinatos no
poder iraquiano, sempre com suspeitas de participação dos americanos,
até se estabilizar a presidência nas mãos de Ahmed Hassan al-Bakr do
Partido Baath, auxiliado por um jovem político, que se tornará seu
vice-presidente em 1979 e, finalmente, dez anos depois, passará a
comandar o país, Saddam Hussein.
Saddam se tornaria marionete dos EUA em suas tentativas de derrubar o governo do Irã, iniciadas em 1980, novamente por interesses no petróleo.
Saddam se tornaria marionete dos EUA em suas tentativas de derrubar o governo do Irã, iniciadas em 1980, novamente por interesses no petróleo.
Em
31 de março de 1964, João Goulart, democraticamente eleito
vice-presidente do país e que assumiu de forma constitucional a
presidência após a renúncia de Jânio Quadros, também sob a pecha de
agente soviético e que também pretendia realizar uma reforma agrária no
país, foi deposto por um golpe militar apoiado financeiramente pelo
governo dos Estados Unidos. Como sempre, em seu lugar assumiu uma
ditadura militar, que vigorou até 1984, vinte anos após.
Em
1981, Jaime Roldós, eleito democraticamente presidente do Equador em
1979, morreu num acidente de avião. Existem fortes suspeitas de que o
acidente tenha sido obra do governo americano. Roldós, assim como
Mossadegh no Irã, desejava, e estava adotando ações para esse fim, que o
petróleo equatoriano beneficiasse o povo do Equador, o que desagradou
as corporações do petróleo. Afirma-se que, não sendo possível
desinstalar Roldós pela corrupção, restou a opção de simular um acidente
de avião.
Hugo
Chavez, eleito democraticamente para presidente da Venezuela em 1998,
reelegendo-se em 2000 e novamente em 2006, foi duramente combatido pelo
governo americano, com apoio integral da imprensa venezuelana. O
discurso de Chavez era anti-neo-liberalismo e contrário à geopolítica
americana. Em sua primeira eleição, Chavez encerrou um ciclo de 43 anos
no poder de um conluio de políticos corruptos que englobava os três
maiores partidos venezuelanos. Chavez utilizou o imenso poderia da
Venezuela no petróleo como uma arma contra os americanos. Novamente um
político nacionalista pretendendo utilizar o petróleo para ajudar o
próprio povo. O percentual de venezuelanos classificados como pobres
despencou de quase metade da população, 49,4% no ano de 1999, para menos
de um terço, 27,8% no ano de 2010. A história revela que esse
comportamento não agrada às corporações. Por isso, em 2002, com a
imprensa totalmente contrária a Chavez, um golpe de estado o depôs, com
fortes indícios de participação ativa dos americanos, que imediatamente
reconheceram a legitimidade do governo golpista. Entretanto, ante a
reação mundial negativa, o golpe foi um fracasso e, três dias depois,
Chavez voltou ao poder.
Os
exemplos de intervenção americana direta e indireta poderia continuar
por longo tempo, como no golpe do Chile em 1973, na Argentina em 1976,
na morte de Omar Torrijos do Panamá em 1981, na tragédia do Afeganistão,
na invasão do Iraque em 2003, na Nicarágua e em El Salvador na década
de 1980, Camboja, Vietnã e etc e etc...
Brasil.
2002. Um partido criado pelos trabalhadores e com origem nitidamente
socialista elege o seu candidato para a presidência da república. O
político de origem sindicalista e sem formação acadêmica, Luis Inácio
Lula da Silva, após três tentativas infrutíferas, finalmente sobe a
rampa do Palácio do Planalto, não sem antes se comprometer formalmente a
não instalar um governo comunista no país, num documento denominado
Carta aos Brasileiros, nítida concessão às corporações.
Lula
surpreende os conservadores, pois sob seu governo a economia avança
admiravelmente. De fato, no período de 2003 a 2010, o PIB brasileiro
apresenta um aumento anual médio de 4% ao ano, enquanto o representante
da elite neoliberal, o acadêmico laureado Fernando Henrique Cardoso, nos
oito anos anteriores, obteve somente 2,3% ao ano. No último ano do
governo de Fernando Henrique Cardoso, em 2002, a taxa de desemprego era
de 10,5% da população economicamente ativa. Lula a reduz para 5,3%. A
arrecadação tributária bate recordes em cima de recordes, não por
aumento da tributação, mas como reflexo de um incrível incremento no
mercado interno. Lula liquida a dívida brasileira com o FMI e aumenta as
reservas de US$ 37,6 bilhões para US$ 288,5 bilhões . A taxa de juros
Selic cai de 25% ao ano para 8,75% ao ano. O Brasil atravessa sem
grandes danos a maior crise econômica desde 1929, que foi a crise de
2008. O salário mínimo, que teve redução real (descontada a inflação) no
governo FHC de cerca de 5%, consegue aumento real de cerca de 54% nos
oitos anos do governo petista.
Enfim,
Lula surpreendeu positivamente durante os oito anos de seu mandato.
Contudo, somente obteve paz no primeiro mandato, de 2003 a 2006. A
partir do final do primeiro mandato, todavia, passou a ser alvo de
crítica feroz da grande imprensa e dos políticos de oposição,
principalmente do próprio PSDB.
O que mudou?
Muitas
coisas podem ter provocado essa mudança de atitude. Uma delas, talvez a
mais relevante, foi o anúncio da descoberta de imensas jazidas de
petróleo na camada do pré-sal, ocorrida justamente em 2006. Segue-se à
descoberta o anúncio do governo petista de que essas jazidas de petróleo
seriam resguardadas para o interesse nacional, inclusive com a
possibilidade de criação de uma estatal específica para elas, a
Petrosal, o que desagrada às grandes corporações de petróleo do mundo.
Petróleo, nacionalismo, interesses corporativos, ação desestabilizadora. A história se repete.
Um
governo cujo sucesso, até então, e embora com um certo ar blasé, era
reconhecido pela imprensa, numa reviravolta passa a ser alvo de uma
campanha difamatória impiedosa dessa mesma imprensa. Ilícitos que,
quando comprovados em governos passados, sequer mereciam manchetes,
passaram a ser estampados na capa de jornais e revistas por meras
suspeitas.
Adotou-se a prática da escandalização do banal, da manipulação dos fatos e da culpabilidade por dedução lógica.
O
escândalo do mensalão transforma uma prática corriqueira em todos os
partidos, incorreta, porém usual, de utilização das sobras do caixa 2 de
campanhas para a conquista de apoio político, é manejado para parecer
compra de votos. Se foi comprovada a compra de votos para votar a emenda
da reeleição da Fernando Henrique Cardoso, obviamente interessado nessa
emenda, e nada respingou na reputação de FHC, no mensalão afirma-se a
compra de votos para aprovação de leis de interesse público, como leis
da previdência e outras, sem que se pare para pensar porque um partido
iria adotar tal prática para aprovação de projetos de interesse
nacional. E ainda que se comprovasse o pagamento, e isso não foi
provado, o erro estaria no partido que compra ou no político que precisa
ser comprado para aprovar tais leis?
Sem
conseguir evitar a reeleição de Dilma pelo PT, mesmo com o mensalão, a
escandalização avança, provocando dissensões no próprio tecido social.
Amigos deixam de se falar, parentes se dividem, pessoas brigam nas ruas
por conta de opiniões contrárias, cadeirantes são agredidos por se
manifestarem a favor do PT, velórios são vilipendiados pelo ódio
político, pessoas públicas são agredidas em restaurantes em função de
exercerem cargo no governo, sair à rua com uma estrelinha do PT aos
poucos vai se transformando numa aventura mortal.
Nada
impede a imprensa e um setor menos intelectualizado do PSDB de
prosseguir nessa sanha acusatória. O governo se vê envolvido numa trama
que envolve a grande mídia, um partido (PSDB) que representa os
interesses neoliberais desejado pelas corporações, parcela do Ministério
Público Federal e do judiciário federal simpáticos ao PSDB, com alguns
de seus componentes inclusive tendo sido nomeados pelo próprio Fernando
Henrique Cardoso.
A
corrupção sistêmica, que Fernando Henrique Cardoso, recentemente,
reconheceu existir desde o seu governo, e que soube e que nada fez pois
sabia que isso seria mexer num vespeiro incontrolável, é atribuída ao
único partido político que em toda a história brasileira agiu de forma
republicana e deixou as instituições funcionarem no combate à corrupção.
Como se diz, o PT torna-se vítima de seu próprio republicanismo.
O
povo, conduzido como massa de manobra, não percebe as discrepâncias no
discurso oposicionista da moralidade seletiva e se agita contra o
partido que forneceu as melhores condições jamais experimentadas pelos
trabalhadores e pela parcela menos desfavorecida do país.
Contudo,
por mais insana que se apresente a conduta da oposição tucana e da
imprensa, não parece provável que assumiriam a possibilidade de causar
uma ruptura social no país se não houvessem interesses ocultos muito
mais sólidos.
A
imprensa parece estar cavando a própria sepultura, ao enterrar sua
credibilidade em toneladas de lama desveladas rapidamente pela internet.
Um ato de suicídio dessa magnitude não pode representar um mero
interesse em se livrar de um partido incômodo. Deve existir algo mais.
Quais são os verdadeiros interesses ocultos por trás desse movimento de desestabilização do governo brasileiro?
A
equação possui governo de tendência socialista, petróleo, nacionalismo,
escandalização pela imprensa e um partido político que atua de forma
contrária aos interesses do próprio país.
Todas
as vezes em que esses elementos estiveram presentes na mesma equação,
os Estados Unidos da América atuaram em desfavor do governo nacional
rebelde aos interesses das corporações.
Não há motivo algum para supor que agora fariam diferente.
Na
eleição americana do ano 2000, Al Gore foi nitidamente alvo de uma
fraude eleitoral que conduziu Bush filho ao poder. Poderia ter iniciado
uma disputa jurídica acirrada para obtenção de recontagem.
Republicanamente, porém, abdicou dessa disputa em nome da paz política
dos Estados Unidos.
No
Brasil, Aécio Neves, coloca a própria ambição política acima de um
resultado político justo, honesto e reconhecido pelo seu próprio partido
após realizar dispendioso e inútil esmiuçamento nas urnas eleitorais.
Isso, todavia, não impede Aécio de assumir essa insanidade vexatória num
comportamento que o fez ser apelidado corretamente por Jânio de Freitas
de “taradinho do impeachment”.
Aécio
Neves, cuja riqueza pessoal em grande parte é devida à ação política
oligárquica de sua família e à sua própria atuação política, pois está
envolvido na política desde antes de se formar na faculdade, se vende
como um paladino da moralidade e da ética para maquiar o que é somente
mera ambição política, egolatria e mania de grandeza. Se acha no direito
de desestabilizar a nação em nome desses vícios de caráter, sendo
ombreado nesse propósito por pessoa vaidosa que pensa incorporar a
figura de estadista e de sábio político, Fernando Henrique Cardoso, mas
que não revela a grandeza de impedir a luta fratricida que está se
iniciando no Brasil.
Todavia,
não se vê uma defesa contundente da democracia pelo “parceiro amigo” do
Brasil, os EUA, que seriam capazes de adotar ações através das próprias
corporações donas dos meios de comunicação brasileiros.
O
silêncio dos americanos em relação a assuntos internos de outros países
que com potencial de atingi-los, mesmo superficialmente, é revelador,
pois sempre foi indicativo, não de neutralidade, mas de incitação, apoio
material ou, no mínimo, posição favorável aos revoltosos.
O
Brasil sempre foi um empecilho às corporações por sua inclinação a um
alinhamento com os países sul-americanos e com outras nações menos
privilegiadas.
Isso, por si só, já constitui uma ofensa ao imperialismo corporativo.
A gota d'água foi a política protecionista do pré-sal.
É
muito possível, pelo que se extrai dos relatos históricos, que a
tentativa de desestabilização do governo do PT, acentuado no governo da
Dilma, possua garras de águia habilmente escondidas.
Garras que manipulam marionetes brasileiras.
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