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20/10/2015
O pior emprego da imprensa brasileira. Por Paulo Nogueira
O pior emprego da imprensa no Brasil, hoje, é o da ombudsman da Folha, Vera Guimarães.
Vera é uma jornalista experiente e talentosa, como se vê a maior parte do tempo em suas colunas.
Ela acabou forçada a ver, de camarote, a transformação da Folha numa espécie de Veja diária.
Você pode dizer que eu estou exagerando. Mas atenção. A Veja não virou o panfleto indecente que é hoje numa única edição. Foi uma marcha, iniciada quando Lula assumiu.
A Folha está no meio dessa marcha.
E a ombudsman não pode fazer nada exceto registrar desabafos em sua coluna impotente.
Para ela, trata-se de preservar sua dignidade e sua reputação.
Nas duas últimas semanas, ela tratou de pontos vitais na cobertura desequilibrada da Folha.
Primeiro, foi o ridículo espaço concedido às denúncias contra Eduardo Cunha quando os fatos gritavam, à luz das denúncias espetaculares trazidas ao Brasil pelos suíços.
Demorou, e como demorou, para Cunha ser manchete.
Agora, é o mesmo tema mas pelo lado oposto. A ombudsman captou a compulsão do jornal em amplificar negativamente tudo que diga respeito a Lula.
Falar baixo com Cunha e berrar com Lula é a mesma coisa.
Vera rejeitou a manchete tardia da Folha segundo a qual um delator citara uma nora de Lula como destinatária de 2 milhões de reais em dinheiro sujo.
A trapalhada na mídia começara com o novo colunista do Globo, Lauro Jardim. Em sua “estreia triunfal” no jornal, Lauro dissera que Lulinha fora mencionado. Fantástico, exceto pelo fato de que não fora.
Foi citada, na mais completa vagueza, uma nora de Lula, sequer nomeada. Era o chamado diz-que-diz que, em situações normais, não é aceito pelos editores de jornais e revistas.
Mas, como contra Lula vale tudo, a denúncia acabou na manchete da Folha.
Vai ficando cada vez mais difícil para jornalistas sérios como Vera trabalhar nas redações das grandes empresas jornalísticas.
Porque já não se faz jornalismo, mas política, e um tipo de política que, a rigor, só interessa aos donos. Você é pago para defender os interesses da plutocracia.
A Veja foi plural durante anos. Lembro, em meus dias de Abril, de uma campanha da Veja que dizia mais ou menos o seguinte. “A direita nos detesta e a esquerda nos abomina. Isso mostra por que os leitores nos adoram.”
Para a Folha valia mais ou menos a mesma lógica. Era o tal do “saco de gatos”, colunistas de direita e esquerda misturados num jornal “sem rabo preso com ninguém”.
Não dá mais para a Folha sustentar a tese do rabo. Se existem alguns colunistas de esquerda, o noticiário em si – manchetes etc etc – é francamente enviesado.
Para os leitores progressistas, que durante os anos 1980 e 1990 amavam a Folha, hoje ela faz parte do que o jornalista Paulo Henrique Amorim chama de PIG.
O jornal a serviço do Brasil, para citar um slogan tão marcante, é hoje um jornal a serviço da plutocracia.
É a Veja amanhã, só que em edição diária.
As colunas da ombudsman Vera Gumarães são uma espécie de registro dessa mutação macabra.
Xico Sá não aguentou trabalhar na Folha como ela é hoje, e saiu com estardalhaço num caso simbólico.
A ombudsman talvez tenha o mesmo desejo. Mas tem contas a pagar e um contrato a respeitar.
E então ela produz desabafos patéticos aos domingos, naquele que é, para mim, o pior cargo da imprensa brasileira nestes tempos tão antijornalísticos.
(Acompanhe as publicações do DCM no Facebook. Curta aqui).
Vera é uma jornalista experiente e talentosa, como se vê a maior parte do tempo em suas colunas.
Você pode dizer que eu estou exagerando. Mas atenção. A Veja não virou o panfleto indecente que é hoje numa única edição. Foi uma marcha, iniciada quando Lula assumiu.
A Folha está no meio dessa marcha.
E a ombudsman não pode fazer nada exceto registrar desabafos em sua coluna impotente.
Para ela, trata-se de preservar sua dignidade e sua reputação.
Nas duas últimas semanas, ela tratou de pontos vitais na cobertura desequilibrada da Folha.
Primeiro, foi o ridículo espaço concedido às denúncias contra Eduardo Cunha quando os fatos gritavam, à luz das denúncias espetaculares trazidas ao Brasil pelos suíços.
Demorou, e como demorou, para Cunha ser manchete.
Agora, é o mesmo tema mas pelo lado oposto. A ombudsman captou a compulsão do jornal em amplificar negativamente tudo que diga respeito a Lula.
Falar baixo com Cunha e berrar com Lula é a mesma coisa.
Vera rejeitou a manchete tardia da Folha segundo a qual um delator citara uma nora de Lula como destinatária de 2 milhões de reais em dinheiro sujo.
A trapalhada na mídia começara com o novo colunista do Globo, Lauro Jardim. Em sua “estreia triunfal” no jornal, Lauro dissera que Lulinha fora mencionado. Fantástico, exceto pelo fato de que não fora.
Foi citada, na mais completa vagueza, uma nora de Lula, sequer nomeada. Era o chamado diz-que-diz que, em situações normais, não é aceito pelos editores de jornais e revistas.
Mas, como contra Lula vale tudo, a denúncia acabou na manchete da Folha.
Vai ficando cada vez mais difícil para jornalistas sérios como Vera trabalhar nas redações das grandes empresas jornalísticas.
Porque já não se faz jornalismo, mas política, e um tipo de política que, a rigor, só interessa aos donos. Você é pago para defender os interesses da plutocracia.
A Veja foi plural durante anos. Lembro, em meus dias de Abril, de uma campanha da Veja que dizia mais ou menos o seguinte. “A direita nos detesta e a esquerda nos abomina. Isso mostra por que os leitores nos adoram.”
Para a Folha valia mais ou menos a mesma lógica. Era o tal do “saco de gatos”, colunistas de direita e esquerda misturados num jornal “sem rabo preso com ninguém”.
Não dá mais para a Folha sustentar a tese do rabo. Se existem alguns colunistas de esquerda, o noticiário em si – manchetes etc etc – é francamente enviesado.
Para os leitores progressistas, que durante os anos 1980 e 1990 amavam a Folha, hoje ela faz parte do que o jornalista Paulo Henrique Amorim chama de PIG.
O jornal a serviço do Brasil, para citar um slogan tão marcante, é hoje um jornal a serviço da plutocracia.
É a Veja amanhã, só que em edição diária.
As colunas da ombudsman Vera Gumarães são uma espécie de registro dessa mutação macabra.
Xico Sá não aguentou trabalhar na Folha como ela é hoje, e saiu com estardalhaço num caso simbólico.
A ombudsman talvez tenha o mesmo desejo. Mas tem contas a pagar e um contrato a respeitar.
E então ela produz desabafos patéticos aos domingos, naquele que é, para mim, o pior cargo da imprensa brasileira nestes tempos tão antijornalísticos.
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