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27/10/2015
O cerco a Lula e a guerra pela hegemonia
Tereza Cruvinel
O ex-presidente Lula faz 70 anos amanhã. Seu inferno zodiacal nunca deve ter sido tão devastador. O delator Fernando Baiano o aproximou da Operação Lava Jato e hoje a Operação Zelotes fez buscas e apreensões no escritório da empresa de seu filho Luis Claudio. Com isso os adversários avançaram muito na dupla estratégia de “pegar o Lula e derrubar a Dilma”, síntese da disputa pela hegemonia que vem castigando o Brasil.
Esta ventania política começou em 2005, sofisticou-se em 2013, com a fermentação das ruas (e fortes sinais de indução interna e externa) e chegou a seu paroxismo com a reeleição de Dilma. Por ser mais que uma simples crise política, não há hipótese de que termine em curto prazo. O que está em curso é uma guerra pela hegemonia e isso significa não apenas trocar um governo por outro (como no caso do impeachment de Collor). O que se busca é salgar a terra e indispor corações e mentes contra as forças políticas que conquistaram a hegemonia a partir de 2003. Com a eleição e a posse de Lula, teve início não apenas a hegemonia do PT na política mas a prevalência, em amplos setores do Estado e da sociedade civil, do discurso, das ideias e propostas da frente de esquerda que o PT liderava (composta ainda por PC do B, PSB e PDT). Trata-se de colocar um fim a este ciclo e para isso as forças que lutam para restaurar o ideário conservador precisam não apenas tirar Dilma do Planalto – seja com impeachment, com impugnação pelo TSE ou por qualquer meio com “aparência legal e democrática”. Elas precisam também de destruir o “mito Lula”, liquidar com a imagem do líder popular, para que ele não seja novamente candidato a presidente em 2018. Para isso, basta que seja processado e fique incurso na lei da Ficha Limpa.
Já a deposição de Dilma segue seu curso sinuoso, marcado pelas idas e vindas de Eduardo Cunha, dependendo essencialmente de que ele aceite o pedido da oposição, ainda que tal pedido careça de fundamentação jurídica. Dilma e Cunha podem chegar se arrastando a 2016 e essa agonia prolongada é péssima para o país. O governo até gostaria de “enfrentar logo” a batalha do impeachment, mas isso não está no seu controle. A hora será ditada por Eduardo Cunha.
Já o ataque a Lula vem sendo facilitado por uma combinação de fatores e circunstâncias. Ele sabe que nem Dilma nem seu ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso, controlam a Polícia Federal. E o descontrole da PF, assim como o engajamento político de setores do Ministério Público, faz parte desta anormalidade democrática que estamos vivendo. As revelações do delator Baiano – de que facilitou uma propina de R$ 2 milhões que seria destinada a uma nora do ex-presidente - vêm sendo contestadas pelo pecuarista Bumlai, mas o fato é que Baiano puxou Lula para a Lava-Jato, onde já era acusado de fazer lobby pela empreiteira Odebrecht – contra seu discurso de que ajudou, antes e durante sua presidência, todas as empresas brasileiras na busca de oportunidades internacionais.
A Operação Zelotes, curiosamente, só agora começou a fazer prisões e buscas e apreensões. Só agora, depois da identificação de um depósito para a empresa do filho de Lula, feito pela consultoria Marcondes e Mautoni, suspeita de ter ajudado a Anfavea a conseguir a reedição de uma MP que concedia incentivos fiscais às montadoras que se estabelecessem em estados do Norte, Nordestes e Centro-Oeste. O filho de Lula alega que prestou serviços de marketing esportivo. Antes do surgimento do nome dele nas investigações, os procuradores e delegados da Zelotes reclamavam de que todos os seus pedidos de prisão ou de busca e apreensão eram negados pelos juízes. A hora também chegou.
Nesta guerra pela hegemonia, a destruição tem que ser completa, por isso a crise não acabará tão cedo. Antigamente isso se resolvia com uma quartelada, como em 1964. Na democracia e nos tempos correntes é mais complicado e demorado. E são muitas as forças envolvidas, inclusive as forças econômicas internacionais.
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