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22/10/2015
A estranha justiça de Bicudo e Reale Júnior, por Henrique Fontana
Da Carta Maior
A estranha justiça de Hélio Bicudo e Miguel Reale Júnior
Nesta estranha justiça, apresentaram seu
pedido de interrupção do mandato presidencial a Eduardo Cunha,
silenciando sobre as denúncias contra ele.
por Henrique Fontana, Deputado federal (PT/RS)
Esta semana, o ex-promotor Hélio
Bicudo e o jurista Miguel Reale Júnior entregaram na Câmara dos
Deputados mais um pedido de impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Já
é o terceiro remendo ao original, diga-se. Nele pedem o impedimento de
uma presidenta sob a qual não pesa nenhuma acusação de crime cometido,
ou mesmo denúncia de corrupção. O remendo atual, aos insustentáveis
pedidos anteriores, está apoiado na suposta reincidência do governo na
prática das pedaladas ficais no ano de 2015. Vejam: de um ano fiscal que
sequer terminou, sobre contas do governo que ainda não foram analisadas
por técnicos e ministros do Tribunal de Contas da União, e muito menos
votadas pelo Congresso Nacional, a quem cabe a última palavra. O
ex-promotor e o jurista inauguram assim uma nova modalidade no Direito
brasileiro: a “presunção de crime futuro”, que mais parece uma versão
nacional, torta, do famoso filme “Minority Report”.
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Nesta estranha justiça, apresentaram
seu pedido de interrupção do mandato presidencial ao presidente da
Câmara, Eduardo Cunha. Justamente sobre o qual recaem diversas denúncias
de corrupção e robustas provas da existência de contas no exterior
abastecidas com dinheiro provindo de propinas e corrupção que remontam a
década de 1990, conforme denúncia do Ministério Público Federal
acolhida pelo Supremo Tribunal Federal. Mas sobre isto silenciam.
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Parece ainda que não merece nenhuma
linha de indignação por parte de Bicudo e Reale as denúncias de mau uso
da máquina pública por Aécio Neves e seus mais de cem voos diretos
Minas-Rio, o Trensalão do PSDB paulista, o Mensalão tucano de Minas
Gerais, a operação Zelotes, ou as contas secretas no HSBC na Suíça.
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Movidos pela intolerância política, ou
cegos pelo ódio crescente expresso por certas camadas da sociedade e
parte da grande mídia, a quem pretendem representar, o certo é que esta
miopia ética embaça a visão do todo e foca apenas na parte. A que lhes
interessa, fique claro. A indignação seletiva esconde uma reação, quase
alérgica, a tudo que represente esquerda, movimentos sociais,
distribuição de renda, políticas públicas de inclusão social.
Instrumentaliza-se convenientemente o tema da corrupção, que deve ser
combatida diuturnamente, para apear do poder a presidenta da República e
tornar proscrito apenas um partido, criminalizando seus militantes e
simpatizantes indistintamente.
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Na perspectiva de Bicudo e Reale, o
respeito ao devido processo legal, à democracia e a legitimidade
conquistada nas urnas não representam nenhum impeditivo aos seus
ímpetos, e a ilegitimidade do atual presidente da Câmara acusado de
corrupção como condutor da insensata marcha do impeachment é apenas um
detalhe. Na ânsia de retirar do poder a presidenta Dilma, o ex-promotor e
o jurista promovem uma estranha noção de justiça – enviesada – que se
levada a termo produziria na verdade uma vingança política para a parte
litigante conservadora inconformada com o resultado das urnas de 2014.
*Henrique Fontana . Deputado federal (PT/RS)
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