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21/10/2015
Porque não houve uma Lava Jato para FHC
Jornal GGN - ter, 20/10/2015 - 23:24 Atualizado em 21/10/2015 - 13:35
Existem dois
FHC. Um que fala para os iletrados - classe média, empresários pouco
politizados, leitores da mídia - e outro que ambiciona falar para os
historiadores.
O primeiro se
vale de um moralismo rasteiro, primário e de uma falsa indignação. O
segundo tenta se mostrar o homem de Estado, frio e calculista, dominando
as regras da real politik.
Pelos trechos
até agora divulgados, as memórias de governo de Fernando Henrique
Cardoso - frutos de gravações que fez durante sua gestão - visam a
história. Dê-se o devido desconto para algumas passagens repletas de
indagações hamletianas sobre dar e receber. Essas cenas FHC
provavelmente gravou olhando-se no espelho e fazendo pose. Nas demais,
emerge o político esperto, o homem de Estado cujo maior papel foi ter
garantido a governabilidade para que seus economistas implantassem o
modelo neoliberal.
Acomodado,
pouco ambicioso na implantação de políticas de corte, com baixíssima
capacidade de entender os fenômenos do desenvolvimento ou da
massificação das políticas sociais, FHC cumpriu competentemente o papel
que lhe caiu no colo, de viabilização política de um modelo neoliberal
de economia.
Ele admite,
então, que em 1996 foi alertado por Benjamin Steinbruch, dono da CSN
(Companhia Siderúrgica Nacional) sobre a corrupção na Petrobras, então
presidida pelo notório Joel Rennó. Havia a necessidade de intervenção na
empresa mas, apesar da gravidade dos fatos, ele nada fez. Segundo ele,
não queria mexer no vespeiro antes da aprovação da lei do petróleo.
Em relação ao presidencialismo de coalizão, tem a honestidade de admitir que, sem as concessões, não se governa.
É curioso
analisar o discurso atual de FHC, enfático contra o loteamento político,
e suas alegações na época, enfáticas na defesa do loteamento político.
“A
responsabilidade é minha, a decisão é minha, mas não vou fazer um
ministério sem levar em consideração a realidade política. Com a
experiência dos últimos anos sei que, se não existe base de apoio
político, é muito difícil o governo fazer as modificações de que o
Brasil necessita”.
"Não
estou loteando nada. Estou simplesmente fazendo o que disse que faria:
buscaria o apoio dos partidos políticos, das forças políticas da
sociedade, e o faria para poder governar tendo em vista a competência
técnica”, relatou.
É o mesmo presidente que loteou a Petrobras para o grupo de Joel Rennó e admitiu que nada faria para mudar a situação.
É igualmente
curiosa sua indignação contra uma CPI dos Bancos, preparada por José
Sarney e Jader Barbalho para investigar as jogadas com o Econômico e o
Nacional. Taxou a CPI de "falta de juízo absoluto (...) Foi uma manobra
para abalar meu poder, para me limitar politicamente, me atingir
indiretamente".
É retrato de
outros tempos, a maneira como enfrentou as denúncias da Pasta Rosa - com
documentos comprovando o financiamento de campanha de vários políticos
pelo Banco Econômico. A Polícia Federal intimou o presidente da Câmara,
Luiz Eduardo , filho do senador Antônio Carlos Magalhaes. A
reação de FHC foi imediata: "A Polícia Federal foi além dos limites
desse tipo de mesquinharia (...) Em todo caso, o procurador Brindeiro
colocou um ponto final nisso".
Por tudo
isso, não se tenha dúvida que, em um ponto ele foi nitidamente superior a
Lula: na capacidade de entender o jogo dos demais poderes de Estado -
Polícia Federal, Ministério Público, Justiça - e saber conservá-los sob
redea curta.
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