segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Contraponto 17.972 - "Quem é quem, o nós e eles da Lava Jato"

 

19/10/2015

Quem é quem, o nós e eles da Lava Jato


Jornal GGN - seg, 19/10/2015 - 12:24 - Atualizado em 19/10/2015 - 13:10

 

Luis Nassif

 
 Na pantomima da Lava Jato e do jogo político brasileiro, há certa dificuldade em situar os personagens e seus respectivos papéis políticos. É o que leva a essa visão de qualificar as informações da Suíça sobre Eduardo Cunha como sendo derrota do juiz Sérgio Moro e da Lava Jato.

A análise dos escritos de Sérgio Moro sobre a Operação Mãos Limpas mostra claramente um estrategista brilhante orientando os trabalhos.

Mais que uma estratégia jurídica, é uma estratégia militar, na qual não faltam protocolos de procedimento contra "inimigos" internos e externos. Delegados da Polícia Federal que ousaram apontar irregularidades na escuta colocada na cela do doleiro Alberto Yousseff, foram alvos de pesadas tentativas de assassinato de reputação, conduzidas tanto por delegados quanto por procuradores da Lava Jato.

Então, esqueça-se a história de que a operação é conduzida pelas descobertas levantadas de forma isenta nas delações. Dentro da estratégia desenhada, a Lava Jato define, antes, o que pode e o que deve ser descoberto, quem é do "nosso time", quem é o time adversário.

Eduardo Cunha, assim como Renan Calheiros, nunca frequentaram o time dos aliados da Lava Jato. Pelo contrário, ambos estavam na mira da Lava Jato desde o início, como base de apoio do governo e como beneficiários do esquema Petrobras.

Com o tempo, houve o rompimento de Cunha com Dilma e ele se tornou peça do jogo do impeachment. Mas, aí, o inquérito não estava mais com Moro e a Lava Jato, devido às prerrogativas de foro da Cunha. As informações apuradas pela justiça suíça são decorrência das providências tomadas pelo Ministério Público Federal assim que o STF aceitou a denúncia.

O mesmo teria ocorrido com Aécio Neves, caso o PGR tivesse encaminhado ao STF a recomendação de abertura de inquérito.

O "nosso time” da Lava Jato consiste no PGR, em Moro, no grupo de trabalho, associados aos grupos de mídia e ao PSDB. A Satiagraha foi anulada por ter investido contra grupos aliados da mídia.
Então, há que se pensar em novas estratégias.

Se por estratégia política ou por convicção partidária, pouco importa.

Na fase inicial, provavelmente por descuido da Lava Jato, escaparam da delação de Alberto Yousseff informações sobre o senador Aécio Neves. Janot corrigiu a tempo, recomendando ao STF (Supremo Tribunal Federal) a não aceitação da denúncia por não se referir à Petrobras.  Depois disso, a tropa foi devidamente alinhada, para não incluir nas delações nenhuma pergunta sobre governos tucanos.

A constante dos dois casos é o poder da mídia de pautar o Judiciário. E não o oposto: o poder da Lava Jato de pautar a mídia.

Umberto Eco a a Mãos LImpas

Na semana passada escrevi alguns posts sobre as questões geopolíticas envolvidas na Lava Jato e nos acordos de cooperação internacional.

O livro “Número Zero”, de Umberto Eco, trata dos acordos entre Mãos Limpas, imprensa italiana e geopolítica internacional:

“Craxi  teria  até  dito  que Chiesa  era  só  um  pilantra,  e  o  teria  liberado,  mas  o  que  o  leitor  de  18  de  fevereiro ainda  não  podia  saber  é  que  os  magistrados  continuariam  investigando,  e  estava emergindo  um  verdadeiro  mastim,  o  juiz  Di  Pietro,  que  agora  todos  sabem  quem  é, mas  de  quem  ninguém  tinha  ouvido  falar  na  época. 

Di  Pietro  deu  uma  prensa  em Chiesa, descobriu contas na Suíça e o fez confessar que não era um caso isolado, e aos poucos está pondo a nu uma rede de corrupção política que envolve todos os partidos, e  as  primeiras  consequências  foram  sentidas  exatamente  nos  dias  recentes,  os senhores viram que nas eleições a Democracia Cristã e o Partido Socialista perderam um  monte  de  votos,  e  quem  se  fortaleceu  foi  a  Liga,  que,  hostilizando  os  governos romanos, está tirando proveito do escândalo. Estão chovendo mandados de prisão, os partidos estão se desagregando aos poucos, e já há quem diga que, depois da queda do Muro  de  Berlim  e  do  desmantelamento  da  União  Soviética,  os  americanos  já  não precisam dos partidos que podiam manobrar e os deixaram nas mãos dos magistrados, ou talvez, poderíamos arriscar, os magistrados estão seguindo um roteiro escrito pelos serviços  secretos  americanos,  mas  por  enquanto  não  vamos  exagerar.  Essa  é  a situação hoje, mas em 18 de fevereiro ninguém podia imaginar o que aconteceria. O Amanhã,  porém,  vai  imaginar  e  fazer  uma  série  de  previsões.  E  esse  artigo  de hipóteses  e  insinuações  eu  confio  ao  senhor  Lucidi,  que  precisará  ser  hábil  para, dizendo  é  possível  e  talvez,  contar  de  fato  o  que  depois  de  fato  aconteceria. 

Com alguns  nomes  de  políticos,  bem  distribuídos  entre  os  vários  partidos,  ponha  as esquerdas  no  meio  também,  dê  a  entender  que  o  jornal  está  coletando  outros documentos, e diga isso de um modo que faça morrer de medo até aqueles que lerem o nosso  número  0/1  sabendo  muito  bem  o  que  aconteceu  nos  dois  meses  depois  de fevereiro, mas se perguntando o que poderia ser um número zero com a data de hoje...Entendido? Ao trabalho.

— Por que a mim a tarefa? — perguntou Lucidi.

Simei  o  olhou  de  um  modo  estranho,  como  se  ele  tivesse  de  entender  o  que  nós não entendíamos:

— Porque algo me diz que o senhor é muito bom em coletar rumores e transmiti-los a quem de direito.

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