17/12/2015
Nas ruas contra Dilma, mas a favor de quem?
Hélio Doyle
Mas talvez os analistas não estejam considerando algumas circunstâncias que podem ter levado ao esvaziamento das manifestações a favor do impeachment. É indiscutível que a maioria da população desaprova a gestão de Dilma Rousseff, e que quase todos esses que a rejeitam querem vê-la afastada do governo. Aí entra a questão: não querem Dilma, mas também não querem Michel Temer. O vice-presidente é do PMDB, partido que não inspira confiança pelo elevadíssimo número de membros envolvidos em atos de corrupção. Temer, para boa parcela dos que se opõem a Dilma, é Eduardo Cunha, Renan Calheiros, Romero Jucá, José Sarney, Eliseu Padilha (sobrenome que, no governo de Fernando Henrique, permitia um apelido que rima). Ir às ruas, num domingo, para colocar Temer na presidência?
Há outro fator. Não se pense que os que rejeitam Dilma são todos tucanos ou simpatizam com algum dos partidos que pedem o afastamento da presidente. E não se despreze a ideia de que grande parte dos opositores da presidente rejeita não só o PSDB e seus aliados, mas os partidos políticos, de modo geral. Sabem que a corrupção não é exclusividade do atual governo, do PT e do PMDB, mas que está entranhada no sistema político e eleitoral em vigor. Envolve também o PSDB, o DEM, o Solidariedade e outros. Ir às ruas, num domingo, para atender ao chamado dos tucanos e esses aliados e ainda fortalecê-los?
Muitos dos que querem Dilma fora não querem, também, se identificar com a direita raivosa que prega um golpe militar e a volta da ditadura, com suas consequências nocivas às práticas democráticas e aos direitos humanos. Essa direita poderá prejudicar as manifestações contra Dilma tanto como os radicais violentos prejudicaram a adesão às manifestações de junho de 2013 e seguintes. Ir às ruas, num domingo, para pregar a volta dos militares?
Às ruas, no domingo, foram os mais fanáticos contra o governo, o PT, Dilma e Lula, os movimentos organizados de direita e os defensores de uma intervenção militar. Na quarta, militantes partidários, sindicais e de movimentos populares. Os primeiros não serão suficientes para levar a maioria do Congresso a decretar o impeachment, os outros não garantem, por enquanto, a permanência de Dilma. Mas muita coisa ainda vai acontecer até o final do processo.
Hélio Doyle é jornalista, foi professor da Universidade de Brasília e secretário da Casa Civil do governo do Distrito Federal
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