Por Roberto Bitencourt da Silva
Algumas comparações extremadas tendem a iluminar os problemas sociais e econômicos e as visões de mundo das pessoas e dos grupos sociais.
Assim, a respeito da grave crise econômica, administrativa e moral que assola o Rio de Janeiro, bem como por conta das gratuitas ofensas recebidas por Chico Buarque, na capital, talvez valhar assinalar as diferenças de atitudes e de visão, como também possibilidades de ação, a partir de personagens e experiências modelares:
1. O nacionalista e socialista Leonel Brizola, após longo exílio, foi governador do Rio, nos anos 1980, para o profundo desgosto da ditadura empresarial-militar e da Globo. Em seu governo, não recebia verbas federais para nada. Não havia Fundeb, royalties de petróleo e outras transferências "constitucionais", já que, a rigor, não havia Constituição, apenas arbítrio e boicote federal, primeiro com os milicos, depois com José Sarney. Ainda teve a dívida do Metrô, que era federal, transferida para o estado. Brizola governou em um período marcado pela crise da dívida externa do Terceiro Mundo, com repercussões muito negativas no país e no estado. Mesmo assim, privilegiou a educação, dotando cerca de 50% do orçamento no setor.
2. Cuba, no chamado "período especial", dos anos 1990, sem o apoio comercial da antiga Rússia Soviética e dos países do bloco socialista - que erodiram e adentraram o caminho do "choque de capitalismo" -, ficou praticamente isolada, convivendo com escassos recursos econômicos e materiais. O país sujeito a um intercâmbio internacional muito restrito, problema direta e igualmente associado ao bloqueio econômico e à sistemática sabotagem norte-americana. As coisas ficaram muito difíceis, mas a educação e a saúde foram mantidas de pé, privilegiadas pelo governo cubano, sob a firme liderança de Fidel Castro.
3. Por sua vez, o atual governador fluminense, Luiz Fernando Pezão (PMDB), tendo à disposição royalties do petróleo, inúmeras transferências federais etc., tem a capacidade de desmontar a saúde, a educação e demais serviços públicos, cortando ainda direitos básicos dos servidores. Mas, vai sediar Olimpíadas, com recursos públicos garantidos. O governador assegura volumosíssimos recursos orçamentários, ou que poderiam servir de receita para atender ao povo, para financiar grandes empresas, inclusive multinacionais e privatizadas concessionárias de serviços públicos. As escolas e universidades podem fechar, crianças e idosos podem morrer nas filas dos hospitais, a população encontra-se no momento em absoluto desespero sem atendimento médico-hospitalar, mas as prioridades são claras.
Em meio a uma cultura política em que a ruminação reacionária e anticomunista circula folgadamente, capaz de, absurdamente, hostilizar a um ícone da cultura nacional, como Chico Buarque, me parece que dá pra ver bem a diferença entre uma orientação política republicana e socialista e outra norteada pelo espírito do capitalismo. Inclusive, talvez especialmente, em momentos difíceis e dramáticos.
Roberto Bitencourt da Silva - historiador e cientista político.
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