29/12/2015
O Globo: plataforma antecipa produção. Mas o pré-sal não era “patrimônio inútil”?
por Fernando Brito
Uma semana depois de ter deixado a Baía da Guanabara, no mesmo dia em que O Globo chamava o pré-sal de “patrimônio inútil”, o navio-plataforma Cidade de Maricá já está no Campo de Lula e, por ironia, é o próprio jornal dos Marinho que noticia que sua produção será antecipada em relação ao esperado:
A Petrobras conseguiu acelerar os
trabalhos e vai antecipar em três meses a entrada em produção do
navio-plataforma (FPSO) Cidade de Maricá no pré-sal na Bacia de
Santos. A companhia informou que a unidade já está sendo ancorada no
campo de Lula na (área de Lula Alto). O Cidade de Maricá deverá entrar
em produção no primeiro trimestre de 2016, antecipando a previsão
anterior que era até fins do primeiro semestre.
E entrar em produção plena, para Cidade de Maricá significa aumentar em mais de 5% a produção de petróleo no Brasil. Com o navio gêmeo Saquarema, que ocupou seu lugar na terminação no Estaleiro Brasa, em Niterói, como 12%, ao final de 2016.
Fica a pergunta intrigante: se, como diz o jornal, “alguns preços de referência de petróleo bateram US$ 37, acima do custo de produção no pré-sal, calculado em junho pela Petrobras entre US$ 40 e US$ 57”, por que a Petrobras estaria “antecipando a produção” do Cidade de Maricá.? Para “antecipar os prejuízos”?
Por uma razão muito simples. O custo de extração do petróleo no campo de Lula – e em boa parte do pré-sal – é de US$ 9 dólares o barril. Isso é o custo operacional. O custo de exploração, que envolve a amortização do investimento feito, os impostos, royalties ( Lula ainda não é um campo do sistema de partilha) e outras obrigações, talvez, seja o dobro.
Ainda assim, compensador.
O Globo agarra-se em números estimados no início da exploração do pré-sal, quando ainda não se tinha ideia do potencial daqueles campos e na ideia de que será eterna a depressão dos preços do petróleo.
E, sobretudo, quando não se podia dimensionar o que o aprendizado da Petrobras , operadora única do pré-sal, poderia gerar de redução de custos. Ali, no campo de Lula, a perfuração de poços no pré-sal nos campos de Lula durava 126 dias, em 2010; 60 dias em 2013 e, hoje, nem 50.
Como um poço custa, para ser perfurado, cerca de US$ 1 milhão por dia – só uma sonda de águas ultraprofundas tem um aluguel de US$ 500 mil diários – dá para ter uma ideia do que isso representa.
Como são várias centenas de poços, uma ideia mais avantajada ainda. US$ 70 bilhões na construção de poços exploratórios e de desenvolvimento da produção no Brasil, na segunda metade desta década.
A perfuração de poços é praticamente metade dos gastos da área de exploração e produção da empresa.
O Globo se embaralha nas próprias pernas. Tenta nos convencer que as uvas estão verdes.
Os vendilhões da pátria, há muitos anos, usam o mesmo discurso: o Brasil não vale nada…
Tanto vale que eles nunca o entregam para seu povo.
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