20/06/2016
Onde andam os indignados de junho de 2013?
Brasil 247 - 20/06/2016
Tereza Cruvinel
Há três anos, de repente, não mais que de repente, milhares de brasileiros foram às ruas protestar contra tudo e todos: a corrupção, a má qualidade dos serviços públicos e o descontentamento com a classe política. “Vocês não nos representam”, diziam os cartazes. No dia 20 de junho as manifestações assumiram seu caráter mais violento e político, com tentativa de invasão do Congresso e de incêndio contra o Itamaraty. O Brasil nunca mais foi o mesmo, mas hoje, com a presidente reeleita em 2014 afastada, o governo interino alvejado por denúncias de corrupção que derrubam ministros em série e alcançam o presidente interino, sem falar no derretimento moral do Congresso, com as políticas públicas, inclusive as de mobilidade urbana, sendo desmanchadas, por onde andam aqueles indignados?
Foram as manifestações de junho que produziram o primeiro sangramento de uma presidente da República até então muito popular. O Congresso, embora também contestado, através da oposição e da banda conservadora, apreciou. A popularidade de Dilma despencou, apesar das medidas que ela tomou para acelerar obras de mobilidade urbana.
Foi também naquele mês de junho que o mundo soube, através de Eduardo
Snowden, que a agência de segurança norte americana, a NSA, havia
bisbilhotado governantes de alguns países. No Brasil, foram monitorados a
Petrobrás, Dilma e altas autoridades do governo brasileiro.
As manifestações esfriaram mas voltaram a pipocar durante a Copa do Mundo, no ano seguinte, a pretexto do alto custo das arenas. Dilma foi vaiada em Brasília na Copa das Confederações. E depois em São Paulo, com palavrões. Um vírus novo circulava pelas veias sociais brasileiras, e ele causará surtos de intolerância, agressividade, grosseria, incivilidade.
Mas Dilma se reelegeria em 2014, num apertado segundo turno. No curso da campanha, a Operação Lava Jato ganhou músculos e começaram a ser vazadas as delações premiadas de Alberto Youssef e Paulo Roberto Costa. Até então, as revelações que vinham a público eram as que atingiam o PT. Estava inaugurada a prática do vazamento seletivo.
Menos de uma semana depois do resultado eleitoral, uns gatos pingados apareceram com cartazes de impeachment. O PSDB não engoliu a derrota, pediu recontagem, contestou o resultado no TSE. Ao acenar com um ajuste ortodoxo para o mercado, depois de escolher Levy para o ministério da Fazenda, ela perdeu também parte dos que a apoiaram na guerra do segundo turno, e que reconquistaria agora, na resistência ao golpe. Novamente os indignados vão para as ruas, agora pedir o impeachment, e agora liderados por movimentos até então desconhecidos, como MBL, Vem prá Rua e assemelhados. A direita ganhou cara e nomes.
Nesta passagem dos três anos da irrupção do vulcão, o Brasil está muito pior do que em 2013. Os indignados com a corrupção têm muito mais motivos para pedir que todos se mandem, mas estão recolhidos desde que o impeachment passou na Câmara. Afinal, o PT foi tirado do governo, embora o ministério de Temer esteja varejado por denúncias. Eduardo Cunha, depois de servir ao impeachment, foi afastado da presidência da Câmara mas não foi cassado nem preso. Ainda. E se o for, é porque já pode ser descartado.
Quem sai às ruas agora são os defensores da democracia, para combater o golpe que pode ser consumado em agosto.
Tal como o de 1964, o de agora ainda não tem suas origens, atores e ações devidamente conhecidas. Mas com certeza tudo começou em junho de 2013.
Tereza Cruninel. Colunista do 247, Tereza Cruvinel é uma das mais respeitadas jornalistas políticas do País
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