terça-feira, 21 de junho de 2016

Nº 19.690 - "O Partido da Imprensa (e outras considerações)"

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21/06/2016 

 

O Partido da Imprensa (e outras considerações)


  Palavra Livre - 21/06/2016 
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 Por Davis Sena Filho
 
 
“Obviamente, esses meios de comunicação estão fazendo de fato a posição oposicionista deste País, já que a oposição está profundamente fragilizada”. (Judith Brito, ex-presidente da Associação Nacional de Jornais/ANJ e executiva do Grupo Folha de São Paulo, em 18 de março de 2010)

“A imprensa brasileira sempre foi canalha. A televisão já nasceu pusilânime”. (Millôr Fernandes)

Há 35 anos lido com o jornalismo — a partir de 1981. Formei-me na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em meados da década de 1980. Naquele tempo eu via a imprensa, a chamada “grande” imprensa como um instrumento de proteção da sociedade, além de considerá-la, apesar de pertencer à iniciativa privada e comercial, entidade democrática disposta a defender as liberdades de pensamento, de expressão, com o propósito de apoiar, por exemplo, ações que efetivassem a distribuição de renda, de terras, enfim, das riquezas produzidas pelos trabalhadores e acumuladas pelos empresários deste imenso País injusto.

Eu era jovem, inexperiente e, além disso, era adolescente nos idos de 1970, sendo que os primeiros anos de minha vida adulta ocorreram no fim da principal década dos anos de chumbo. No País não existia liberdade democrática, havia a censura, agora imposta pelos empresários donos de jornais, seus empregados de confiança e não mais pelos generais. As pessoas não falavam de política no dia a dia, em seus trabalhos, escolas, lazeres e entretenimentos, o que dificultava ainda mais perceber e compreender os reais interesses da imprensa empresarial, bem como se movimentava politicamente o regime ditatorial. Era um silêncio só...

Como me formei na metade da década de 1980, cujo quinto presidente militar da República era o general João Figueiredo, via a imprensa naquele época como um segmento que lutava em favor de uma sociedade que se tornasse justa, democrática e livre, ou seja, civilizada. Processo este que somente acontece por intermédio da implementação constante de justiça social, igualdade de oportunidades e combate sistemático às desigualdades sociais e regionais, por intermédio de políticas públicas estruturalistas e desenvolvimentistas, no que concerne à infraestrutura do País, e distributivistas, no que é relativo ao lucro, às terras, enfim, aos meios de produção.

Naquele tempo, o Brasil vivia em um regime de força, que teve seu auge nos idos de 1968 a 1978, cuja imprensa, recém livre da censura, que “terminou”, oficialmente, em 1978 por determinação do general-presidente Ernesto Geisel, era vista por mim, jovem jornalista da década de 1980, como um instrumento de resistência aos que transformaram a República brasileira em uma ditadura militar, com a aquiescência e o apoio financeiro e logístico de influentes segmentos econômicos da sociedade civil, que viram na ascensão dos militares ao poder como uma forma também de aumentar seus lucros e ter seus interesses empresariais e políticos atendidos.

Envolvidos até a medula com o golpe armado, os coronéis midiáticos não pagaram o preço por serem golpistas, porque se livraram, em parte, de serem alvos de quaisquer questionamentos, já que havia a censura e a oposição partidária à ditadura se encontrava em um momento muito duro de perseguição e repressão política, sem voz ativa para ser ouvida, inclusive pela imprensa burguesa que, por ser comercial, bem como o braço ideológico das elites econômicas brasileiras, aliou-se aos novos donos do poder. Os magnatas bilionários de imprensa e de todas as mídias cruzadas e monopolizadas aderiram ao golpe desde a primeira ordem e hora.
    
O jornalista minimamente alfabetizado, experiente e informado, independente de sua formação cultural, política e ideológica, independente de sua influência profissional e de seu contracheque, sabe (ou finge não saber) que os proprietários da imprensa privada e de tradição golpista são megaempresários, inquilinos do pico da pirâmide social mundial e pontas de lanças dos interesses do grande capital. A imprensa burguesa censura a si mesma, quando considera que os interesses empresariais estão a ser contrariados.

E foi, indubitavelmente, que os empresários midiáticos e inquilinos influentes da casa grande fizeram: autocensuraram-se. Se você duvida, pergunte ao general Geisel, que certa vez comentou sobre esta conduta dos magnatas bilionários, que, mesmo na democracia, censuram seus adversários, como fizeram com as ações governamentais de Lula e Dilma, a jamais mostrar, porque censuradas, as conquistas econômicas, os avanços sociais, bem como ao que tange às construções de infraestrutura dos governos trabalhistas, a não ser para combatê-las e desqualificá-las, porque a intenção é ter vantagem política, assim como ajudar seus aliados, no caso da imprensa empresarial, os políticos do PSDB.

Efetivam tal procedimento político e ideológico de maneira rotineira, ordinária e expurgam de seus quadros aqueles que não se unem ao pensamento único do Partido da Imprensa, que é o de repercutir, disseminar, ou seja, propagar aos quatro cantos que não há salvação fora do mercado de ações, dos jogos bancários, da especulação imobiliária, financeira e da pasteurização das ideias, geralmente difundidas pelos doutores, mestres e professores das universidades e dos órgãos de supremacia e de espoliação internacional, como o BID, o Bird, o FED, a ONU, a OEA, a OTAN, o FMI, a OMC e a OMS, dentre outros, inclusive os de atuação nacional, a exemplo de Febraban, Fiesp, Firjan, CNA, CNI, CNC, dentre outros, que, a despeito de suas importâncias para a sociedade, são entidades, órgãos e instituições de supremacia social e econômica, de perfis conservadores e que tratam de cuidar do establishment para manter o status quo intacto perante a grande maioria da população brasileira e mundial.

Paralelamente, o Partido da Imprensa elege como adversários aqueles que contestam o sistema do capital como ele o é, ou seja, concentrador de renda, e exigem que ele se democratize no sentido de ele diminuir as diferenças entre as classes sociais e com isso efetivar uma equiparação, uma equanimidade entre os indivíduos que compõem o tecido social das nações que integram o planeta e são vítimas da geopolítica, que na verdade é a principal ferramenta do apartheid social e econômico entre os países. Os inimigos da imprensa burguesa geralmente são os políticos que têm uma visão soberana em relação ao país que administram e acreditam em idéias e ideais que qualifiquem os homens como iguais. 

São políticos que elaboram e adotam programas distributivistas. São políticos nacionalistas, como os presidentes estadunidenses, porém sem ser xenófobos, e que lutam pelo desenvolvimento do país, a fim de conquistar tecnologias e pesquisas científicas próprias, ter o controle das diferentes energias, além de acreditar em uma diplomacia não alinhada aos países hegemônicos, com o objetivo de efetivar uma relação de igual para igual e não subordinada e servil, como muitos jornalistas do Partido da Imprensa, a soldo de seus patrões, de forma inadvertida e irresponsável apregoam e desejam.
       
A imprensa comercial acusa e sentencia, difama e calunia, dissimula e desinforma e mente se preciso for e se julgar que determinado governante não vai ler por sua cartilha, que é a mesma dos grandes conglomerados e trustes internacionais. Porque, como disse anteriormente, a imprensa é ponta-de-lança dos interesses do sistema capitalista excludente, além de ser seu braço ideológico. Ela é a vitrine desse modelo expropriador, useiro e vezeiro em propiciar o infortúnio e a derrota daqueles que ousaram um dia colocar em prática e até mesmo somente defender a tese, por exemplo, de um Brasil forte, independente e soberano. 

Caro leitor, o que concorda ou não comigo, a imprensa é necessária e tem de ter liberdade para informar, mas não deve e não pode tomar partidos, defender grupos e tentar pautar as instituições republicanas. Ser jornalista não é sinônimo de ser intelectual, dono e juiz da verdade, infalível ou senhor do poder. Ser jornalista é ouvir e compreender, se for possível, o pensamento, as idéias, os ideais, as opiniões, as teses, os projetos, os programas, os propósitos, as atitudes, as ações e até mesmo as ideologias dos atores sociais, políticos e econômicos.

O jornalista é a ponte que une o ator social e a informação à população, ao povo, apenas isso e nada mais. Se o jornalista quer pautar a sociedade e as suas instituições ele já tomou partido, e, como o termo explicita, partidas serão suas opiniões. Portanto, o mais correto é se filiar a um partido político, conquanto que não seja, todavia, o Partido da Imprensa, que não disputa voto e, por ser ousado e não se olhar no espelho, quer fazer da República Federativa do Brasil seu feudo, conforme sua vontade, fato que foi provado, reiteradamente, em vários episódios da história do Brasil.

A exemplo das questões relativas à luta pela terra por parte do MST, nos casos concernentes às reivindicações trabalhistas e salariais dos trabalhadores dos setores público e privado, nas manifestações referentes às eleições para presidente, governadores e prefeitos e nas questões relativas às crises políticas que derrubaram presidentes como Getúlio Vargas e João Goulart, bem como no episódio que influenciou na derrota do candidato Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições presidenciais de 1989, bem como na tentativa de golpe contra o presidente Lula em 2005, além de a imprensa empresarial ter perseguido, incessantemente, políticos da envergadura de Juscelino Kubitschek, Leonel Brizola, Luís Carlos Prestes, Miguel Arraes e Ulysses Guimarães, este, o comandante da Constituinte, muito menos palatável ao Partido da Imprensa e aos militares do que Tancredo Neves.
    
O Partido da Imprensa combate tudo aquilo que possa dividir as riquezas deste País, no que tange à redistribuição de renda. Quase todos os programas sociais e econômicos apresentados no Brasil não tiveram o apoio da imprensa hegemônica. Além do mais, a imprensa combateu e combate ferozmente as políticas públicas independentes e desenvolvimentistas executadas por Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, João Goulart, Luiz Inácio Lula da Silva e agora, de maneira dura, o governo da presidenta Dilma Rousseff, que foi criminosamente deposta.

E isto é só o começo. Lembro que o Partido da Imprensa resolveu recrudescer seus ataques à Dilma quando ele desistiu, totalmente, de fingir apoio moderadíssimo à governante já nos idos de 2013, antes das manifestações de junho e das eleições de 2014 vencidas pela política do PT, para depois, evidentemente, voltar à carga total no que é relativo aos seus ataques ao Governo Trabalhista, ainda mais quando ficou claro que o candidato da direita, o tucano Aécio Neves, não reconheceu a vitória de Dilma e fez de sua derrota uma ferramenta do golpismo para desestabilizar a democracia e as instituições republicanas.
   
Para se ter ideia da desfaçatez e do poder de destruição do Partido da Imprensa, necessário se torna saber quem ele é e com quem a sociedade está a se meter: Tal consórcio midiático privado se transformou no estado dentro do estado, porque, dentre outras coisas, vive da captação do dinheiro público. É tão poderoso e nefasto que combateu a criação da Petrobras, da Vale do Rio Doce, da CSN e das leis trabalhistas — a CLT. Em compensação, apoiou as tentativas de golpe em 1932, em 1938 e em 1954/1955, além de participar dos golpes militares de 1945 (“golpe branco”) e de 1964.

A imprensa alienígena e golpista sempre se aliou aos partidos conservadores, notadamente com a UDN de Carlos Lacerda, Eduardo Gomes e Juarez Távora, partido moralista e elitista, que recebia o apoio dos empresários e de parte da classe média de perfil conservador. Posteriormente, a UDN mudou a sigla e passou a ser conhecida como Arena no governo militar, depois PDS para, anos depois, virar PFL que, em 2007, finalmente, passou a se chamar Democratas — o DEM.

Entretanto, apesar de muitos políticos tucanos terem raízes diferentes das do DEM, é o PSDB, sem sombra de dúvida, o herdeiro da direitista, reacionária e golpista UDN. Se  duvida, é simples, basta perguntar para o Aécio Neves e seus correligionários do PSDB, como o José Serra, o Geraldo Alckmin, o Neoliberal I -- o FHC --, o Carlos Sampaio, o Cássio Cunha Lima, o Aloysio Nunes Ferreira, o Antonio Anastasia, o Tasso Jereissati, o Álvaro Dias, todos golpistas de proa, que retiraram as suas já medíocres biografias das lixeiras para jogá-las diretamente no esgoto da História.

Alguns desses caras pegaram em armas no idos das décadas de 1960 e 1970 para enfrentar a ditadura, equivocados ou não. Este não é o mérito da questão. O mérito é como um homem de esquerda se transforma em um testa de ferro do grande capital e passa a ser o portador de um ódio ideológico e partidário sem limites, de caráter visceral, como é o caso de José Serra e principalmente de Aloysio Nunes Ferreira, que era militante ativo da Ação Libertadora Nacional (ALN), organização guerrilheira comandada por Carlos Marighella, que foi executado, em São Paulo, dentro de um fusca pelos agentes do DOPS, em ação coordenada pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury, de triste memória, porque um dos mais violentos e sanguinários torturadores da ditadura civil-militar.
     
Como a direita histórica brasileira tem no máximo 30% dos votos, tanto que sempre andou a reboque de partidos de centro e de centro esquerda, o DEM (PFL), por exemplo, aliou-se, em 1989, a Fernando Collor e a seu minúsculo PRN. Em 1994, teve de se aliar ao PSDB para chegar ao poder, com seu vice-presidente Marco Maciel, o que foi ratificado nas eleições de 1998. No período Lula, nos anos 2000, a agremiação conservadora continuou como vagão dos tucanos.

Antes, em 1960, o DEM, que é a UDN, apoiou Jânio Quadros, que foi eleito presidente pelo pequeno PDC. Todavia, os udenistas não confiavam em Jânio, considerado um político independente, porque transitava pelos espaços da direita e da esquerda, o que não agradava os direitistas, que desde 1930 sonhavam assumir novamente o poder, como nos tempos da República Café com Leite. Jânio, tal qual o Collor, não “dialogava” com o Congresso.
    
Como se percebe, o DEM nunca teve força política para chegar à Presidência da República como partido hegemônico. Enfim, chegou ao poder em 1964, por meio de um golpe militar que derrubou o presidente trabalhista João Goulart, eleito constitucionalmente pelo voto direto. Naquele tempo o vice-presidente era eleito separadamente. Não existia a chapa vinculada. Todos esses fatos tiveram o apoio do Partido da Imprensa, que é empresarial e apoia e sempre apoiou políticas econômicas artificiais como o é o neoliberalismo, que fracassou e hoje até o FMI, guardião desse fracasso, avisa aos maus navegantes, como ele, que vai modificar seu processo de ajuda, de coordenação e de fiscalização das políticas públicas, econômicas e financeiras receitado aos países pobres e em desenvolvimento.
     
No Brasil, na América Latina, na Ásia e na África as receitas econômicas e financeiras do Bird e do FMI causaram problemas sociais tão graves que mesmo os governantes neoliberais dos países dessas regiões perceberam que não dava para continuar o processo de espoliação desses povos, sem que seus governos caíssem ou fossem derrubados. Mesmo assim, os conservadores, os direitistas do mundo empresarial e político, no Brasil leia-se DEM, Fenaban, Fiesp, agronegócios e, principalmente, Partido da Imprensa, continuaram a apregoar o que não deu certo, o indefensável e o que causou dor aos mais pobres, aos mais fracos e aos que não podem se defender.
    
O Partido da Imprensa, com seus profissionais bem pagos e com a cabeça feita por Wall Street e pelo Consenso de Washington de 1989, prosseguiram, de forma ridícula, sem ao menos ponderar suas palavras levianas, pois manipuladoras, a apregoar um modelo econômico verdadeiramente contrário aos interesses da Nação até que, por intermédio de eleições, os defensores dessa política econômica burra e nefasta foram afastados do poder, tanto no Brasil quanto em muitos outros países.

Não se compreende, até hoje, o que leva algumas elites a fazer gol contra. Mas se compreende que, ao contrário do que afirmam os gurus do capitalismo de mercado que estabelecem regras somente para os mais pobres e os mais fracos e dizem se preocupar em assegurar a efetivação de um estado de bem-estar social, que dignifique a pessoa humana, sabemos que o que importa à grande imprensa e a direita política do planeta é perpetuar os privilégios daqueles que fazem parte de sua classe social — os ricos e os muito ricos.
     
Há uma espécie de seres humanos que dá pena. Acha que riqueza é genética, é biologia. Quando na verdade a riqueza é um processo que envolve milhões, quiçá bilhões de pessoas que a produz. Não é uma questão biológica. É uma questão econômica e financeira que precisa, deve e pode ser calculada e equacionada no sentido de distribuí-la. Se dinheiro e bens materiais fossem parte de nossa biologia nasceriam com a gente e seriam conosco levados ao caixão. Não consigo entender como alguns jornalistas que se alimentaram adequadamente, que estudaram em boas escolas, que têm capacidade de discernir se tornaram tão pusilânimes, cínicos, dissimulados, covardes e mentirosos. Eles são um contra-senso em toda sua essência e a burrice em toda sua plenitude. Somente alguns advogados atingem a tanta incongruência.
     
A imprensa é parcial. Sua voz e seus canais de comunicação pertencem aos que controlam e dominam o mercado de capitais e os meios de produção, pelo simples fato de a imprensa ser o próprio, o espelho que reflete a imagem do sistema. Ela traduz os valores e os princípios do modelo econômico hegemônico. Ela é o principal e o mais importante tentáculo do sistema capitalista. Ela é a sua alma e a sua voz. Não há poder pleno sem o apoio da imprensa, para o bem ou para o mal.

Seja qual for o poder, a imprensa não abre mão de manter os privilégios do segmento empresarial. Ela até compõe, mas ressalta seus interesses e resguarda os privilégios. Não há hegemonia de uma classe social sobre as outras sem o controle dos meios de comunicação. E é este processo, draconiano, que acontece no Brasil e na América Latina.
   
O acesso da maioria das populações ao crescimento social e ao desenvolvimento econômico acontece a conta-gotas, milenarmente. No caso do Brasil, secularmente. É como acontece em jogos de futebol, quando o time que está a ganhar passa tocar a bola, à espera de o tempo passar, à espera de o jogo terminar. Os barões da imprensa, como patrões seculares, querem o fim do jogo e para isso eles precisam pautar os poderes constituídos e, inclusive, não raramente, questionar cláusulas pétreas da Constituição, como, por exemplo, os capítulos voltados ao trabalho e aos meios de comunicação.

Meia dúzia de famílias quer o controle total e irrestrito dos meios de comunicação. Meia dúzia de famílias brasileiras, ao representar o grande empresariado nacional e internacional, quer a flexibilização das leis trabalhistas, constituídas pelo estadista Getúlio Vargas, que se matou em 1954 para não ser derrubado, mais uma vez, pela UDN, pelos militares, pelo empresariado e pela imprensa. Getúlio teve de se matar para adiar o golpe militar por dez anos, o que ocorreu em 1964.
     
Para isso, os barões da imprensa contratam jornalistas de confiança. Os jornais criticam os cargos de confiança no âmbito governamental, mas não criticam seus cargos de confiança, pagos a soldos altos, para que certos profissionais façam o papel de defensores do status quo, do establishment, razão pela qual talvez tenhamos uma das elites mais cruéis e alienadas do mundo, totalmente divorciada dos interesses do povo brasileiro, há mais de cinco séculos. Tudo o que é feito em prol do povo, os homens e as mulheres de imprensa, os que ocupam cargos de mando, chamam de populismo. Mas tiveram a insensatez e a ignorância política em defender o neoliberalismo, que fracassou de forma inapelável e retumbante.

Até mesmo jornalistas considerados experientes como o Renato Machado e a Renata Vasconcellos, quando eram editores-chefes do “Bom Dia Brasil” da TV Globo, saudaram, da forma mais imprudente e capciosa possível, o golpe sofrido, em abril de 2002, pelo presidente constitucional da Venezuela, Hugo Chávez, que foi absurdamente sequestrado, com o apoio da CIA do governo de George Walker Bush, o presidente dos Estados Unidos que se antodenominava o senhor da guerra.
    
Meu comentário não visa constranger a Renata, que continua a fazer seu papel no Jornal Nacional, e o Renato Machado, até porque não o conheço. Citei apenas um fato real, de conhecimento público, notório e que ficou na memória e na retina de muitos brasileiros, porque a saudação ao golpe foi incrivelmente surreal, um despropósito. Renato Machado, como a Renata, tem um  perfil político conservador igual a tantos e outros jornalistas, apenas, talvez até automaticamente, comemorou a queda e o sequestro, mesmo através da violência, de um homem como Chávez constituído presidente, pois eleito pela vontade do povo. Machado simplesmente reflete o desprezo do Partido da Imprensa em relação aos interesses da sociedade, em relação às determinações e aos desejos da sociedade civil. Não há nenhuma surpresa. O Partido da Imprensa age assim, mostra-se assim, só que, muitas vezes, inversamente ao Machado e a Vasconcelos, apresenta-se de forma dissimulada.
    
Renato Machado no dia seguinte à sua comemoração em referência ao golpe contra o presidente venezuelano apareceu visivelmente constrangido. Acho que ele não tinha dimensionado sua atitude. Sua imagem, pálida e retraída, como se tivesse levado um grande susto ou uma bronca deveria ser gravada pelas pessoas alheias ao jornal matutino da TV Globo, com a finalidade de ser levada às escolas de comunicação para servir de exemplo aos futuros jornalistas como NÃO se deve proceder ou conduzir sua profissão. Foi realmente lamentável. Mas não foi uma surpresa.

O Partido da Imprensa trabalha assim. Saímos da ditadura militar para a ditadura da imprensa e do pensamento único. Igualmente os meios de comunicação hegemônicos apoiaram o golpe de estado em Honduras, sem vacilar, inclusive criticaram, com veemência, por intermédio de suas manchetes, de seus colunistas e comentaristas, a decisão do Governo brasileiro de receber em sua embaixada o presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya. Empresários e militares hondurenhos efetivaram o golpe, com apoio do governo dos Estados Unidos.

Depois apoiaram o golpe no Paraguai e a queda do presidente eleito Fernando Lugo. O Paraguai pagou caro. Está fora das decisões do Mercosul e da Unasul até que sejam efetivadas novas eleições no país guarani. O Partido da Imprensa aqui no Brasil ficou entusiasmado. Desconfio que até hoje os próceres da imprensa e seus empregados de confiança estão a brindar o golpe de estado. Devem sonhar, sobretudo, com o ano de 1964. Saudosamente... Só que agora o golpe de estado criminoso voltou a acontecer... E no Brasil! A sétima economia do mundo e País industrializado e poderoso, com um mercado gigantesco, que atrai os olhares de aves de rapina dos países desenvolvidos, porque o maior bem do Brasil é, sem dúvida, seu poderoso e rico mercado interno, com milhões de pessoas ávidas por consumir.

Porém, o Brasil, vergonhosamente e provincianamente, tem uma "elite" bananeira e de índole e caráter escravagista, que envergonha de morte à totalidade da sociedade e nos obriga a ficar em uma condição de "Los macaquitos". Contudo, o golpe espúrio, sórdido, infame e efetivado por canalhas e cafajestes de toda ordem evidenciou e reiterou que os verdadeiros cucarachas são os integrantes da casa grande -- os ricos que vivem a pensar que dinheiro compra civilização e inteligência. Nossa!...

Como são baixos esses golpistas, além de portadores da cara, da alma e do espírito do Amigo da Onça, vulgo michel temer (o nome de tal traidor é sempre escrito em minúsculo por se tratar de um pigmeu moral, político e citadino), que, como um fantoche, está a "liderar" um governo que cai de poder, pois ocupado por bandidos que respondem por crimes na Justiça. Se temer cair, seu lugar de destino tem de ser a cadeia. Um golpe de estado como este em país civilizado seus autores, certamente, seriam presos.    

Dentre os muitos erros perpetrados pelos militares, um dos maiores foi a censura aos meios de comunicação. E por quê? Porque hoje, no regime democrático, a imprensa se recusa a ser regulamentada como acontece com outros setores da sociedade e, por que não, do mercado. Ela usa como argumento que criar, por exemplo, o Conselho Federal de Jornalismo é tentar censurar a imprensa, o que não é verdade. Criar o Conselho é regulamentar os meios de comunicação, que não podem deixar de ser fiscalizados, como o são os juízes, os médicos, os advogados, os professores, os arquitetos e engenheiros, os economistas, os contadores, os políticos etc. etc., por intermédio de seus órgãos de classe profissional.
    
Para evitar a criação do Conselho Federal de Jornalismo e de uma política que funcione como marco regulatório para os meios de comunicação, o Partido da Imprensa usa como argumento, há muito tempo surrado, que tentar regulamentar a imprensa é censurá-la, como ocorreu na ditadura militar. A verdade é que os barões da imprensa e seus jornalistas de confiança não querem a democratização dos meios de comunicação, porque não querem responder, como os outros profissionais, pelos seus erros, muitas vezes exemplificados em calúnias, difamações, omissões, distorções e manipulações das informações noticiosas, além da clara intromissão no processo político brasileiro, ao tomar partido de determinado candidato, geralmente de perfil conservador e elitista.
    
Além disso, extinguiram a Lei de Imprensa, sem, no entanto, criarem instrumentos que a regulamente, como, por exemplo, a Ley dos Medios aprovada na Argentina e nos países desenvolvidos. Absurdo dos absurdos é deixar a imprensa de mercado, uma mídia de passado golpista e mercantil sem um marco regulatório. A presidenta Dilma não pode e não deve deixar de regulamentar e criar regras para o setor dos meios de comunicação de perfil empresarial e comprometido com os interesses geopolíticos dos Estados Unidos e com o grande empresariado nacional e internacional.

Presidentes trabalhistas como o Lula e a Dilma jamais deveriam vacilar quanto à elaboração e aprovação de uma Ley dos Medios para o Brasil e o seu povo trabalhador. Trata-se de uma séria imprudência. Lembremo-nos de Getúlio Vargas, João Goulart, Leonel Brizola e do presidente Lula, todos perseguidos pela imprensa privada, de forma dura e desumana. Dilma sabe disso e também pagou por tal omissão e negligência. A mandatária injustamente afastada por um golpe bananeiro, mas violento, fez carreira política no berço do trabalhismo brasileiro, que é o Estado do Rio Grande do Sul, e viu o presidente Lula comer o pão que o diabo amassou durante oito anos.
    
Não é necessário ser um especialista em “assuntos de imprensa” para perceber que a mídia comercial e privada é um desastre em relação aos interesses da sociedade. Ditatorial, raivosa, vaidosa e mentirosa, não mede consequências para fazer do processo político brasileiro uma novela de má qualidade textual, cujo objetivo é somente a manchete, chamariz comercial para a imprensa vender e ganhar muito dinheiro, mesmo se for com o linchamento moral de terceiros, muitos deles, depois comprovado, sem culpa no cartório. Sua atuação é incompetente, porque, sistematicamente, não tem ouvido nenhuma das partes implicadas ou envolvidas em quaisquer fatos, mas sim ouvido a si mesma, por meio de suas deduções e de seu raciocínio ardiloso, intelectualmente desonesto, que visam confundir o público e assim garantir seus interesses. 
    
Por tudo isso, o Partido da Imprensa é contra qualquer criação de órgão que possa acompanhar seus passos, como o Conselho Federal de Jornalismo e o Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3). Além do mais, lembro mais uma vez, os barões da imprensa se recusaram a participar da Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), realizada em dezembro de 2009, que estabelece novo modelo para o setor, que atualmente é um monopólio de meia dúzia de famílias, que combatem a independência do Brasil, os avanços sociais do povo brasileiro, bem como sua total emancipação. Instrução e conhecimento significa liberdade. E liberdade é uma palavra que o status quo odeia.

O documento elaborado no decorrer do evento, ressalto novamente, até hoje está à espera para ser efetivado pelos poderes constituídos para depois se transformar em lei. Os empresários, proprietários da imprensa e das mídias comerciais, não querem debater e negociar nada. Lutam, diuturnamente, para que as coisas fiquem como estão, o que não será mais possível se Dilma Rousseff superar no Senado o golpe bananeiro que a derrubou do poder.

Além do mais, se Lula ou outro candidato do PT vencer as eleições de 2018, certamente que alguma coisa vai ter mudar no setor dos meios de comunicação, porque, aí sim, deixar como as coisas estão seria realmente uma imprudência que beira à burrice, porque já está mais do que comprovado que a parafernália montada pelos coronéis das mídias, além de manter a sociedade brasileira presa a correntes, também serve para depor presidentes trabalhistas, como ocorreu também com Getúlio Vargas e João Goulart.
    
A arrogância e a prepotência de meia dúzia de famílias que controlam os meios de comunicação no Brasil não favorecem a democratização da imprensa, o que impede que ela, de fato, trabalhe em benefício do desenvolvimento social do povo brasileiro, em vez de ficar a distorcer realidades ou criar fatos, muitos deles sem fundamento, mas, contudo, propositais, pois a finalidade é confundir a sociedade e, consequentemente, proteger ou concretizar seus interesses e do grande empresariado, geralmente financeiros e econômicos. Essas atitudes, sobremaneira, prejudicam as atividades daqueles que são incumbidos pelo povo para administrar os três poderes.
    
A imprensa quer falar pelo povo e representá-lo, mas não disputa eleições e não concorre a cargos públicos. Ela não tem voto. A imprensa é tão arrogante e ignorante que confunde opinião pública com opinião publicada. A imprensa publica e opina, por meio de matérias combinadas, de editoriais, de articulistas e de colunistas. Por isso, sua opinião é publicada. Ela paga a profissionais para publicar suas opiniões sobre determinado assunto.


Por sua vez, a opinião pública é feita, é realizada e é concretizada por intermédio do voto. Portanto, o voto é a opinião pública. Palavra e opinião de jornalista ou de quaisquer outras pessoas que atuam em outros segmentos é opinião publicada. Não confunda! Então, vamos ver se a imprensa e o leitor entenderam: 1) jornalista = opinião publicada, que, por sinal, tem valor. 2) povo = opinião pública = o voto, que, por sinal, tem muito mais valor, porque tem poder de decisão. Ponto. É isso aí.


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