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02/02/2017
Mais de dois anos de massacre
Não dá para dissociar o AVC de Marisa Letícia da Lava Jato. Por Kiko Nogueira
por Kiko Nogueira
Arrisca ser uma simplificação culpar diretamente o juiz Sérgio Moro pela morte da ex-primeira dama Marisa Letícia.
Mas como dissociar seu AVC da pressão a que estava sendo submetida?
Em 1997, o jornalista Elio Gaspari colocou o infarto de Paulo Francis na conta de Joel Rennó, ex-presidente da Petrobras que acionou Francis nos EUA.
Rennó, escreveu Elio, era um “estrategista vitorioso” porque “seu processo ocupou um espaço surpreendente na alma de Francis”.
Na quinta feira, dia 2, Lula e a família autorizaram a doação dos órgãos e agradeceram as “manifestações de carinho e solidariedade”.
Marisa passou mal no apartamento do casal em São Bernardo do Campo no dia 24 de janeiro. Chegou consciente ao hospital Sírio Libanês, em São Paulo, passou por cirurgia e foi conduzida à UTI.
Piorou paulatinamente.
Marisa estava fumando mais. Em 2007, o cardiologista Roberto Kalil Filho avisara que ela precisava de tratamento e que poderia ter um AVC. Nada foi feito.
A Lava Jato abriu cinco ações penais contra Lula, sendo que em três delas Marisa estava incluída entre os acusados. Foram mais de dois anos de massacre midiático diuturno, com direito a uma condução coercitiva do marido.
Os homens de Moro vazaram um áudio de um telefonema com seu filho Luís Cláudio. O papo, embora banal, continha um elemento explosivo.
Ela xingava os “coxinhas”. Dizia querer que essas pessoas “enfiassem as panelas no cu”.
Qual a intenção de tornar isso público, senão a de humilhar e constranger? Por que com ela? Onde estão as conversas das mulheres de outros réus?
A gravação está sendo usada pelos milhões de cidadãos de bem que agora festejam a tragédia de Marisa Letícia. Ela sabia de tudo, ela era cúmplice, ela era rica — e ela mandou os brasileiros honestos enfiarem suas panelas naquele lugar.
Para os fascistas que o golpe tirou do buraco, a boca suja teve o que mereceu.
A Lava Jato ocupou um espaço enorme na vida de Marisa Letícia. Migramos do país da impunidade para o país dos justiceiros — sem escalas. Vítimas fatais são inevitáveis.
É injusto afirmar que Moro matou Dona Marisa.
Mas a estratégia da Lava Jato previa a cabeça de Lula na parede. Ganhou a da mulher dele, da pior maneira possível.
Sobre o Autor
Kiko Nogueira. Diretor-adjunto do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.
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PITACO DO ContrapontoPIG
Não foi só o Marlboro.
O massacre do MauMoro foi decisivo na doença de D. Marisa
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