27/05/2017
Temer comprou o silêncio de Rocha Loures
por ALEX SOLNIK
Se eu tivesse sido apanhado em flagrante pela Polícia Federal correndo por uma rua dos Jardins, em São Paulo, com uma mala de 500 mil reais provenientes de propina, no dia seguinte eu seria demitido pelo 247 por justa causa, ainda que seja uma empresa privada.
Minha permanência na empresa contaminaria todo o noticiário e todos os outros colunistas. Se minha credibilidade foi para o lixo, a do 247 iria para o lixo junto. Os próprios colegas tratariam de me pôr para fora – eu fui desleal com eles e não eles comigo.
Tal como ocorre com uma empresa de comunicação a credibilidade é o pilar principal a sustentar o Congresso Nacional. O flagrante do deputado Rodrigo Rocha Loures carregando a mala de Temer (segundo o diretor da JBS) não foi tratado pela Câmara, no entanto, com o rigor que se esperava.
Rocha Loures contaminou a credibilidade não só da Câmara, mas do Congresso. Nunca se viu uma cena que desmoralizou de tal maneira todos os parlamentares brasileiros. Nunca o decoro parlamentar foi quebrado de forma tão grotesca, desde o episódio em que um deputado posou de cueca samba-canção para a revista “O Cruzeiro”, nos anos 50.
A reação dos parlamentares, no entanto, é de paralisia total. O STF o afastou das atividades, mas nenhum deputado se lembrou, até agora, de encaminhar Rocha Loures para o Conselho de Ética. Mais escandaloso do que isso: Rodrigo Maia decidiu manter o salário, o auxílio-moradia e o plano de saúde do corrupto mais explícito da história do Congresso Nacional.
Em vez de ser demitido por justa causa, como aconteceria com qualquer funcionário de uma empresa privada ele foi agraciado com a bolsa-corrupção.
E a maioria da Câmara, a mesma que elegeu Cunha e derrubou Dilma, alheia ao vexame, tapa o nariz e pretende votar as reformas em meio a tantos cadáveres insepultos.
Como sabemos, Rodrigo Maia não tem vida própria, toda hora vai ao Palácio do Planalto receber instruções de Temer. Não há dúvida que a decisão de não deixar Rocha Loures ferido na estrada foi de Temer.
Não há provas de que Temer mandou comprar o silêncio de Cunha – mas recomendou a Joesley “manter isso” quando ele disse que estava resolvendo as “pendências com ele” – mas essa é uma prova eloquente de que Temer comprou o silêncio de Rocha Loures.
É evidente que, se falar a verdade, Rocha Loures pode ser mais letal que Cunha, pois seu episódio diz respeito ao atual mandato presidencial e não a malfeitos pretéritos.
Alex Solnik é jornalista. Já atuou em publicações como Jornal da Tarde, Istoé, Senhor, Careta, Interview e Manchete. É autor de treze livros, dentre os quais "Porque não deu certo", "O Cofre do Adhemar", "A guerra do apagão" e "O domador de sonhos"
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