domingo, 28 de maio de 2017

Nº 21.506 - " 'Semente' e 'quentinha': entenda a ameaça cifrada de Aécio a Perrella em grampo. Por Joaquim de Carvalho "


28/05/2017


“Semente” e “quentinha”: entenda a ameaça cifrada de Aécio a Perrella em grampo. Por Joaquim de Carvalho


Do Diário do Centro do Mundo -  27 de maio de 2017
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Por Joaquim de Carvalho
A conversa entre o senador afastado Aécio Neves, presidente licenciado do PSDB, e o senador Zezé Perrella é mais do que a revelação de um chefe que cobra fidelidade de um subordinado.
É um diálogo que remete à omertà, pedra de toque do código de honra dos mafiosos do sul da Itália.
Para quem conhece um pouco das relações entre os dois e as investigações que diretamente ou indiretamente os envolvem, existe ali uma ameaça. 
“A não ser, Zezé, que a sua campanha foi financiada na Lua, ou pela [empresa de] semente lá sua, ou pela quentinha do Alvimar. Nossa campanha foi a mesma, Zezé”, disse.
Truco.
Durante o governo de Aécio Neves e Antonio Anastasia em Minas Gerais, entre 2007 e 2011, uma das empresas da família de Zezé Perrella, a Limeira Agropecuária e Participações, foi contratada para fornecer sementes para um programa de combate à fome.
Mas, segundo o Ministério Público do Estado, não há comprovação de que tenham sido entregues.
O prejuízo é estimado em 19 milhões de reais.
O promotor Eduardo Nepomuceno, que investigou o caso, disse:
“Nós temos ausência de notas fiscais relativas a várias operações onde teria havido a compra e venda dessas sementes, houve o pagamento sem entrega efetiva da nota fiscal. O local indicado para entrega dessas sementes é um local absolutamente impróprio para o armazenamento. Isso gerou desconfiança. Seria o caso de entregar semente num escritório, totalmente inaplicável. Outra situação é ausência de comprovação de pagamento de frete. Então essa semente deveria ter sido transportada para o interior do estado através de carretas, caminhões e não existe nenhum documento demonstrando que o frete foi pago.”
Outra empresa da família de Zezé Perrella, a Stillus Alimentação, foi denunciada por fraudes no fornecimento de quentinhas para os presídios do Estado, em contratos assinados também na administração de Aécio Neves.
Além dos presídios, a Stillus fornecia merenda escolar para algumas prefeituras. O Ministério Público do Estado apurou prejuízo aos cofres públicos superior a 55 milhões de reais, em valores de 2012.
O dono da Stillus é Alvimar Oliveira Costa, irmão do senador Zezé Perrella e seu sucessor na presidência do Cruzeiro.
O caso da fraude nas quentinhas foi descoberto em outra investigação aberta pelo Ministério Público de Minas Gerais, esta para apurar fraude no contrato que deu a uma empresa da família de Zezé Perrella o direito de explorar o comércio de refeição na Cidade Administrativa, a obra faraônica de Aécio Neves, inaugurada no final de sua gestão, com a presença, inclusive, do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal.
Ao ouvir de Aécio a referência a quentinhas e sementes, Zezé Perrella engoliu seco, como mostra a gravação.
Tentou justificar a declaração que deu à rádio Itatiaia e irritou Aécio como uma defesa em relação ao caso do Helicoca.
O chefe, como ele se refere ao senador afastado, não aceitou.
“Somos amigos”, ele lembrou, no início da gravação.
E amigos se defendem ou, no caso de relações mafiosas, a deslealdade é paga com a morte – no caso, pode ser a morte da reputação.
Aécio disse a Zezé, em relação à lista de Fachin — que motivou Zezé a falar que existe um mar de lama no Brasil:
“Você tá fora. Ótimo. Acho maravilhoso”.
Mas não se esqueça, Zezé: tem as sementes e as quentinhas.
Aécio sabe muito e não só sobre Zezé.
*****
PS: Há alguns meses, antes que o mar de lama tragasse Aécio Neves, o promotor Eduardo Nepomuceno foi afastado da Promotoria do Patrimônio Público em Minas Gerais e, por conseguinte, das investigações que envolvem Zezé Perrella. O afastamento foi decidido pelo Conselho Nacional do Ministério Público, onde trabalha a procuradora Ana Luisa Zorzenon, mulher do procurador Ângelo Goulart Villela, preso por aceitar suborno para vazar informações sigilosas da Operação Lava Jato.

Joaquim de Carvalho
Jornalista, com passagem pela Veja, Jornal Nacional, entre outros. joaquimgilfilho@g

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