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27/05/2017
O fascismo sem máscaras, por Fábio de Oliveira Ribeiro
Do Jornal GGN - 27/05/2017
Foto Divulgação
FHC disse a Michel Temer que ele deveria ficar no poder, Tasso Jereissati aplaudiu a utilização de militares contra o povo brasileiro e Aloysio Nunes se recusa a deixar o governo do usurpador. Os três rejeitam a realização de eleições diretas. Na pior das hipóteses querem impor ao país um governante eleito pelo mesmo Congresso que foi quase todo comprado pela JBS.
Durante décadas estes três cidadãos se disseram politicamente liberais e adeptos do socialismo ou, no mínimo, da preservação e ampliação de uma rede de seguridade social que permitisse aos brasileiros sair da miséria absoluta. Neste exato momento eles apoiam a rápida, irresponsável e perversa destruição dos direitos sociais, trabalhistas e previdenciários dos brasileiros. O ideal que eles compartilham é o da exclusão. Para eles - apesar de todas as Convenções e Acordos internacionais que obrigam o Brasil a cuidar dos seres humanos em situação econômica fragilizada - o Estado só deve garantir os privilégios senhoriais de algumas castas de servidores eleitos e concursados.
As máscaras que FHC, Tasso Jeirissati e Aloysio Nunes usaram para granjear popularidade se desmancharam no ar. Para entender como isto ocorreu citarei Gaston Bachelard:
“Por más que las máscaras tengan una variedad infinita, parecería que la voluntad de enmascararse fuera muy simple y que, en consecuencia, al punto quedara hecha la psicología del ser que se enmascara. Al parecer, la máscara realiza de una vez por todas la disimulación. Atrincherado tras su máscara, el ser enmascarado está al abrigo de la indiscreción del psicólogo. Rápidamente ha encontrado la seguridad de un rostro que se cierra. Si el ser enmascarado quiere entrar en la vida, si quiere adoptar la vida de su propria máscara, fácilmente se atribuye la maestría de la mistificación. Termina por creer que el prójimo toma su máscara por un rostro. Cree simular activamente luego de disimular fácilmente. Así, la máscara es una síntesis ingenua de los opuestos muy cercanos: la disimulación y la simulación. Pero un engaño tan fácil, tan total, tan inmediato no podría ser sino objeto de una psicología limitada. Sin duda hay muchos modos de externder esa psicología. En particular, bastaría con acoger los inmuerables documentos de la etnografía para descubrir a la mascára como objeto de un verdadero instinto humano. Por ello, devería estudiarse toda una magia de la máscara. De esa magia también se encontrarían huellas en el folclor. Pero todas esas encuestas dispersarían la atención del psicólogo que quiere estudiar desde su origen la voluntad de disimulación. Una fenomenología de la disimulación debe remontarse a la raíz de la voluntad de ser alguien que no se es. Pero difícilmente se instruiría multiplicando las observaciones sobre las máscaras monstruosas, sobre las máscaras especializadas mediante mitos, costumbres y tradiciones. Una fenomenología de la disimulación debe entonces concentrar su examen en la mentalidad occidental.
Pero aunque la máscara sea para nosotros un rostro especialmente artificial, aunque las máscaras sean objetos como los demás objetos, aunque esos objetos en cierto modo hayan caído en desuso ?no es sorprendente que no se pueda desarrollar una psicología de la disimulación sin recurrir al concepto de máscara? La nócion de máscara actúa oscuramente en nuestro psiquismo. En cuanto queremos distinguir lo que se disimula atrás de un rostro, en cuanto queremos leer en una cara, tácitamente tomamos esa cara por una máscara.
Pero del rostro a la máscara y de la máscara al rostro hay un trayecto que la fenomenología debe recorrer. Durante ese trayecto se podrán distinguir los diversos elementos de la voluntad de disimulación. Un examen psicológico atento logra entonces matizar la noción de máscara, aprehender esa nócion en los distintos valores ontológicos. Afinada así, la noción de máscara nos entrega un verdadero conjunto de instrumentos para el estudio de la disimulación.” (El derecho de soñar, por Gaston Bachelard, Fondo de Cultura Económica México, 1985, p. 203/204)
Finda a ditadura, o PMDB se elevou à condição de partido de centro mais poderoso. Dentro dele, um grupo que outrora havia se abrigado sob o MDB (único partido de oposição admitido pelos militares) resolveram alçar voo. Para se diferenciar dos seus antigos correligionários adoraram um discurso social-democrata que encantou setores importantes da imprensa paulista. Mas a social democracia defendida pelo PSDB de FHC, Tasso Jereissati e Aloysio Nunes não era nenhum pouco semelhante àquela defendida pelos sindicalistas e intelectuais que se aglutinaram ao redor de Lula para criar o PT.
Enquanto os petistas lutavam pela construção da inclusão social por própria sua base operária, os tucanos gostavam de simular a defesa do socialismo europeu enquanto iam conquistando e preservando parcelas cada vez maiores das estruturas estatais construídas para manter a hierarquia social e política. A máscara, contudo, funcionou. Afinal, a dissimulação dos tucanos, que além de sofisticados, articulados e bem relacionados (alguns deles muito ricos), foi legitimada pela imprensa. Pela mesma imprensa que desde sempre chamou os petistas de arruaceiros, baderneiros e vândalos.
Com o tempo, a máscara criada pelos tucanos e para os tucanos passou a ser percebida pela população como um rosto jovem, vigoroso e bonito, distinto do rosto envelhecido do PMDB (cujos líderes eram renomados corruptos) e da cara carrancuda do PT (partido aguerrido e irritantemente ligado às suas bases operárias).
O auge do processo de simulação política no momento em que FHC foi eleito presidente. As esperanças alimentadas pelo Plano Real, porém, foram se desfazendo. Os tucanos eram tão ou mais corruptos que os peemedebistas e governaram de maneira a enriquecer os ricos (especialmente os banqueiros e donos de empresas de comunicação) sem se preocupar se estavam ou não empobrecendo a população em geral. O surto de fome que matou milhares de pessoas no nordeste chocou o Brasil. FHC não fez o sucessor porque se tornou um líder político imprestável. O governo dele se caracterizou pela incompetência, inconsistência, intolerância para com as reivindicações operárias e desprezo pelo combate à corrupção.
“... la marcha de nuestra existencia no és, únicamente, obra propia: es el producto de los dos factores, a saber: la serie de acontecimientos y la serie de nuestras decisiones, que sin cesar se cruzan y modifican recíprocamente. Además nuestro horizonte, para ambos factores, es siempre muy limitado, supuesto que no podemos predecir nuestras deciciones muy anticipadamente y menos prever acontecimientos; en ambas series, sólo las del momento nos son bien conocidas. Por eso, mientras nuestro fin está aún distante, no podemos siquiera enderezar el rumbo hacia él, a lo más, podemos dirigirnos aproximadamente y por probabilidades: muchas veces debemos andar bordeando. En efecto, todo lo que está en nuestro poder es decidirnos cada vez con arreglo a las circunstancias presentes, con la esperanza de acertar con el fin principal. En este sentido, los acontecimientos y nuestras resoluciones importantes son comparables a dos fuerzas que obran en distintas direcciones y cuya diagonal representa la marcha de nuestra vida.” (Arte del buen vivir y otros ensayos, Arthur Schopenhauer, Biblioteca Edaf, Madrid, España, 1983, p. 248).
FHC escolheu ir à praia quando o Brasil perdia fortunas no mercado financeiro em razão de ataques coordenados por especuladores cambiais. Escolheu salvar banqueiros ao invés de alimentar os nordestinos famintos. A reputação que ele gozava em razão da máscara que construiu e que para ele foi construída deixou de existir principalmente por causa destas escolhas. Lula enfrentou situações semelhantes, mas em nenhum momento escolheu sacrificar o povo brasileiro. Isto explica porque ele é amado e FHC é intensamente odiado, especialmente no nordeste (onde o PSDB perdeu e perderá qualquer eleição direta presidencial que disputar).
Dentre as escolhas que FHC fez ainda se destacam duas: não combater ativamente a corrupção e transformar a Petrobras numa mina de dinheiro fácil para seus amigos tucanos e parceiros do PMDB. Foi o PSDB que criou, ampliou e se alimentou da corrupção na Petrobras. Mas a imprensa conseguiu jogar toda a culpa das escolhas de FHC nas costas do PT a partir do momento em que Dilma Rousseff resolveu começar a moralizar e sanear a gestão da nossa petrolífera. A falha de comunicação dos petistas, permitiu que os tucanos usar a crise para fazer o que sempre desejaram: acabar com o monopólio do petróleo e privatizar a Petrobras. O golpe era perfeito, mas havia uma pegadinha: Michel Temer.
A união de esforços com Michel Temer e sua laia foi natural. Os tucanos se comprometeram a dar apoio e sustentação ao golpe em troca do vice-presidente aceitar a plataforma neoliberal e se comprometer com a interrupção do combate à corrupção que ameaçava vários líderes do PSDB (por exemplo Aécio Neves, o primeiro a ser comido segundo Romero Jucá). Os peemedebistas, amedrontados pelo combate à corrupção, só precisaram fazer duas coisas: abandonar o barco do PT e empurrar Dilma Rousseff para o abismo com ajuda dos deputados e senadores comprados pela JBS.
Todavia, Michel Temer foi rapidamente devorado pelas suas escolhas. A máscara dele demorou menos para cair do que a dos líderes do PSDB. Além disso, a Polícia Federal e o Ministério Público Federal ganharam musculatura e autonomia que nunca tiveram durante o governo FHC. O resultado aí está: FHC, Tasso Jeirissati e Aloysio Nunes se enterram politicamente junto com Michel Temer por falta de imaginação, de opção e, principalmente, por incapacidade de ganhar uma eleição presidencial direta.
O que restava da democracia brasileira foi finalmente estraçalhada no dia de 24/05/2017. Acuados pelas suas escolhas pretéritas e pela dissolução final de suas máscaras, os golpistas apelaram para a força bruta. As idéias social-democratas deram lugar às neoliberais e estas foram totalmente soterradas pelo desejo fascista de ficar no poder de qualquer maneira, confirmando o que disse H. J. Laski:
“La esencia del fascismo es la destrucción de las ideas e instituciones liberales en beneficio de los que poseen los instrumentos del poder económico. Sin duda las causas de su crecer son complicadas; pero es inequívoco el propósito de su acción. Lo que ha hecho, dondequiera que ha conseguido el poder, es, sobre todo, destruir las defensas características de la clase trabajadora; sus partidos políticos, sus sindicatos, sus sociedades cooperativas. Paralelo a esto ha sido la supresión de todos los partidos políticos, excepto el fascista, de la discusión libre y del derecho de huelga. Bien frecuentemente, los fascistas han proclamado, antes de su advenimento al poder, objetivos de sabor socialista. Pero resulta notable, primero, que hayan conseguido siempre el poder en concierto con el ejército y los grandes negocios, y que, depués de su logro, hayan dejado prácticamente intocada la propriedad de los medios de producción. El fascismo, en resumen, surge como una técnica institucional del capitalismo en su fase de contracción. Destruye el liberalismo que permitió la experiencia de la expansión con objeto de imponer a las masas esa disciplina social que crea las condiciones bajo las cuales esperan poder continuar obteniendo utilidades. Esto explica por qué en los países fascistas el patrón de vida de la clase trabajadora ha ido en continuo descenso desde la supresión de las ideas e instituciones liberales.” (El liberalismo europeo, por Harold J. Laski, Fondo de Cultura Económica México-Buenos Aies, 1961, p. 210/211)
No caso brasileiro a utilidade perseguida pelos fascistas do PMDB e do PSDB, ou seja, por FHC, Tasso Jeirissati, Aloysio Nunes e Michel Temer, não é apenas econômica. Ela é sobretudo criminal: se não reduzirem o padrão de vida dos trabalhadores brasileiros a força controlando o Estado sem disputar eleições diretas (se as disputarem eles perdem) eles mesmos e seus amigos - alguns deles do próprio Judiciário - acabarão sendo presos pelos crimes que cometeram.
O Exército cumpriu seu papel em 24/05/2017, mas os generais parecem estar indecisos. O ônus que os oficiais militares terão que carregar é grande demais. Além de corruptos, os líderes fascistas não tem qualquer projeto nacional. Muito pelo contrário, eles estão determinados a destruir o Brasil para não serem eles mesmos destruídos pelos crimes que cometeram. Além disso até a presente data eles não devem ter sido suficientemente generosos…
A máscara do nacionalismo dos militares brasileiros será a última cair. A queda dela não custará muito barato aos golpistas. Amaury Kruel recebeu algumas malas de dinheiro. Se realmente quiserem ficar no poder Michel Temer, FHC, Tasso Jeirissati e Aloysio Nunes terão que dividir a maioria dos malotes de dólares que guardaram no exterior se quiserem comprar o apoio da tropa.
Ao leitor uma última recomendação. Não desanime diante das longas citações em espanhol. Elas são fundamentais para compreender o que foi dito aqui.
http://jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/o-fascismo-sem-mascaras-por-fabio-de-oliveira-ribeiro
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