terça-feira, 25 de setembro de 2018

Nº 25.006 - "Tempos de defender a democracia"

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25/09/2018


Tempos de defender a democracia

Do Jornal O Povo - CE  23/09/2018

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por Valdemar Menezes

Valdemar MenezesDaqui a duas semanas o Brasil vai às urnas na tentativa de salvar a democracia fortemente ameaçada desde que certos segmentos da elite nacional (alentados por interesses externos), voltaram mais uma vez a tumultuar o jogo democrático, como tem sido constante na história do País. Embora haja sinais concretos (reconhecidos no Exterior) de que vivemos um processo eleitoral anormal, não há outro caminho senão insistir no único jogo possível: o de tentar assegurar a livre expressão da vontade popular nas urnas para recuperar e assegurar a plenitude democrática. O regime vem demonstrando pouco apreço a essa vontade do povo, visto que viciou o jogo eleitoral impedindo de modo totalmente contestável (no Brasil e no Exterior) a candidatura Lula desejada pela maioria social, segundo os institutos de opinião. Suas manobras para produzir um resultado favorável a seus planos (candidatura Alckmin) não deram certo, até agora, graças à resistência do povo brasileiro que começa a sufragar cada vez mais o substituto do líder natural.


O jogo irresponsável dos velhos feiticeiros abriu a porta para o fascismo, através da figura de um ex-capitão, identificado como uma espécie de 4º cavaleiro do Apocalipse e seu séquito de obscurantismo, violência e barbárie. Desenha-se um cenário em que segmentos da elite estão dispostos a abraçá-lo, em última instância, como opção a um governo progressista, tal como o fez a elite alemã com Hitler. Como é muito desgastante essa alternativa (basta ver as advertências da revista The Economist sobre o dano que isso acarretaria para o futuro do Brasil e da América Latina), promovem agora um lance de desespero, tentando atrair Ciro Gomes - a quem detestam - para sua órbita. Isso a despeito de o ex-ministro não dar nenhuma sinalização de que se subordinará à artimanha.


Até 7 de outubro, há um chamamento às forças democráticas para que estejam alertas e vigilantes a qualquer tipo de armadilha que possa comprometer as eleições ou tirar do páreo as forças populares. É preciso não ceder a provocações de qualquer ordem e garantir um pleito pacífico: única maneira de resolver civilizadamente o atual impasse político. Teme-se pelo futuro da democracia em vista da movimentação de certos segmentos militares nos bastidores políticos. Nenhuma democracia aceita isso. No entanto, os militares brasileiros têm um histórico nesse sentido, a última vez foi em 1964.


O Brasil, depois do golpe militar de 1889, que pôs fim à Monarquia Parlamentarista, viveu sobressaltado por sublevações militares até 1930. Depois veio 1937, 1945, 1954, 1955, 1956, 1961, 1964. Será que não basta? Foi por causa dessas intervenções militares que os brasileiros tiveram sua educação política democrática prejudicada por tantas interrupções. Isso impediu o desenvolvimento de uma madura consciência de cidadania. A cada golpe, os partidos existentes são desorganizados ou extintos. A cultura partidária e o exercício da política se perdem, tendo de recomeçar a cada fugaz redemocratização.


Na Monarquia Parlamentarista brasileira existiam dois partidos bem enraizados o Conservador e o Liberal. Mais tarde surgiu o Partido Republicano. O regime político vigente era democrático, dentro das condições da época (havia escravidão, mas esta existia também na república norte-americana). A referência maior era a monarquia parlamentar britânica: parlamento eletivo, liberdade de imprensa e todas as demais liberdades democráticas. Os militares viviam submetidos ao poder civil. Se as coisas tivessem evoluído, sem intervenções indevidas, provavelmente o sistema parlamentarista teria alcançado a plenitude, o Poder Moderador teria sido eliminado e a Federação teria sido adotada pela monarquia. Se esta viesse a ser substituída pela República (possivelmente não) teria sido por uma exigência da sociedade. Não por um golpe. Não é duvidoso que hoje tivéssemos um partido progressista no poder, sob uma monarquia, como acontece na Suécia, na Dinamarca, na Holanda, na Noruega, onde os trabalhadores alcançaram através de suas lutas e de seus partidos operários o máximo de conquistas sociais dentro do capitalismo. Os militares brasileiros botaram tudo a perder com suas intervenções recorrentes que desestruturaram a vida política, social, institucional e cultural do País. Estamos ameaçados de nos transformarmos, definitivamente, em uma grande banana republic, se intervierem mais uma vez.


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