domingo, 16 de setembro de 2018

Nº 24.969 - "Neofascistas atacam grupo “Mulheres contra Bolsonaro”, que vai dar resposta nas ruas, em 29 de setembro; leia a carta publicada antes do ataque"

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16/09/2018

DENÚNCIAS


Neofascistas atacam grupo “Mulheres contra Bolsonaro”, que vai dar resposta nas ruas, em 29 de setembro; leia a carta publicada antes do ataque


Do Viomundo - 16 de setembro de 2018 às 14h16


Meu celular ficou sem sinal nenhum. Pegaram meu número e puxaram a minha linha para outro telefone. Utilizaram meu Whatsapp e destrataram pessoas com quem eu trabalho, xingaram amigos meus durante toda a tarde de sábado. Consegui resgatá-lo, mas eles estão pegando nossos números de celulares. Isso também aconteceu com outra administradora. Maíra Motta, professora de filosofia, uma das nove administradoras do grupo.


Grupo “Mulheres contra Bolsonaro” no Facebook sofre ataque cibernético

Nome de mobilização foi trocado e página ficou fora do ar. Rede social diz que perfil foi restabelecido após investigação



O grupo “Mulheres Unidas contra Bolsonaro” no Facebook, que ganhou ampla repercussão nas últimas duas semanas por ter reunido milhares contra o candidato do PSL, é alvo de uma escalada de ataques cibernéticos, que vão desde a mudança do nome da mobilização, trocado para um de teor a favor do militar reformado de ultradireita, à ameaça direta às moderadoras.

Na madrugada deste domingo, 16, o grupo, que conta com um milhão de participantes e solicitações para participar e convites que alcançam 2 milhões de pessoas, ficou fora do ar, enquanto a campanha de Jair Bolsonaro no Twitter comemorava a mobilização de mulheres favoráveis a ele.

No início da tarde deste domingo, o Facebook informou que, após investigação, “o Grupo foi restaurado e devolvido às administradoras”.

Desde sexta-feira já havia sinais da ofensiva contra a mobilização. Neste dia, a administradora M.M. foi a principal afetada, e teve suas contas no Facebook e no WhatsApp invadidas.

De acordo com as organizadoras, os ataques começaram por volta das 14h na sexta. Antes disso, moderadoras e administradoras haviam recebido ameaças em suas contas no WhatsApp.

Os invasores exigiram que o grupo fosse extinto até às 24h de sexta-feira e tentaram intimidar as responsáveis pelo grupo ameaçando divulgar seus dados pessoais como como CPF, RG, Título de eleitor, nome da mãe, entre outros dados extremamente sensíveis.

Além disso, os responsáveis fizeram diversas postagens no grupo com teor ofensivo contra as participantes como as mensagens “esquerdistas de merda” e “Anonymous não quer esquerdista! Bando de mulher atoa q ao tem oq que fazer” (sic).

A imagem de capa do grupo também foi alterada com as assinaturas ‘Eduardo Shinok’ e ‘Felipe Shinok’, supostos autores da invasão.

Em seguida, um perfil alterou o nome do grupo para ‘Mulheres COM Bolsonaro’ e iniciou-se uma disputa pelo nome do grupo que criou confusão entre as participantes.

Algumas pessoas passaram a recomendar a saída do grupo, enquanto outras pediam calma e alertavam sobre o ataque.

Os ataques acontecem em um momento em que a rejeição do eleitorado feminino ao candidato Jair Bolsonaro (PSL) tenta passar de uma mobilização massiva no Facebook para um ato nas ruas.

O evento “Mulheres contra Bolsonaro”, agendado para 29 de setembro no Largo da Batata, em São Paulo, já conta com 53 mil confirmações e outras 187.000 pessoas interessadas.

Há outros eventos similares agendados para o mesmo dia em diferentes cidades pelo país.

Uma edição que convoca participantes a se reunirem na Redenção, em Porto Alegre (RS) conta com 12 mil confirmações e 29 mil pessoas interessadas.

No Rio de Janeiro, a convocatória para a Cinelândia conta com 26 mil confirmações e 58 mil pessoas interessadas. As manifestações também foram convocadas em diversas capitais como Florianópolis (SC), Belo Horizonte (MG) Fortaleza (CE), Belém (PA), Natal (RN), Recife (PE).

Na última semana, os apoiadores do militar empenharam esforços para tentar conter a onda, mas fracassaram em dar uma resposta feminina à altura.

Em resposta ao grupo “Mulheres unidas contra Bolsonaro”, os apoiadores do candidato do PSL criaram diversos grupos na tentativa de reunir as apoiadoras do ex-capitão do Exército.

O principal deles é o grupo “Mulheres Com Bolsonaro #17 (OFICIAL)”, que já conta com 403.945 perfis aprovados pela moderação, pouco mais de um terço do volume de perfis engajados contra o candidato.

A rede de moderação do grupo é composta por 85 moderadoras e 12 administradoras.

Outra tentativa foi o grupo “Mulheres unidas A FAVOR de Bolsonaro” reúne 48.346 membros aprovados e demanda dos participantes que curtam a página “Bolsonaro Heroi Nacional”.

A contramobilização a favor do militar reformado também conta com a página “Mulheres Unidas A FAVOR do Bolsonaro”, que desde que foi criada, em 11 de setembro, recebeu apenas 47.576 curtidas.

Em uma mensagem fixada no topo da página, os moderadores dão instruções às novas seguidoras pedindo que divulguem a página em comentários favoráveis ao candidato em páginas de jornais e grupos do Facebook: “Meninas, coloquem o link da página em todos os comentários femininos a favor do Bolsonaro. Pode ser em páginas de jornais ou grupos. VAMOS CRESCER” (sic).

A postagem também sugere um modelo de mensagem que pode ser copiado pelas mulheres que desejarem participar da campanha.

Apesar do resultado limitado, que não se converteu em um número expressivo de mulheres engajadas, o esforço dos apoiadores de Bolsonaro foi significativo.

Uma articulação de diversas páginas de apoio mais antigas e com maior volume de seguidores se dedicou a compartilhar intensamente os conteúdos publicados na “Mulheres Unidas A FAVOR do Bolsonaro”.

A estratégia tem como objetivo ampliar o alcance das mensagens publicadas no novo canal dedicado às mulheres por meio do compartilhamentos de suas postagens.

O aumento instantâneo do volume de interações faz com que os conteúdos da página sejam percebidos pelo algoritmo do Facebook como mais relevantes, de modo que as postagens passam a ser mostradas a um número cada vez maior de pessoas.

A página “Apoiamos a Operação Lava Jato- Juiz Sérgio Moro” foi a principal articuladora da campanha de divulgação deste canal.

Criada em 10 de março de 2016, a página conta com 1.081.928 curtidas e compartilhou 17 postagens da página “Mulheres unidas A FAVOR de Bolsonaro” entre os dias 10 e 12 de setembro no Facebook.

A página “Bolsonaro – Eu Apoio”, criada em 23 de fevereiro de 2018, também foi central para esta articulação.

Ela compartilhou 15 postagens da página dedicada às mulheres para que fossem exibidas para uma parcelas de seus 469.245 fãs.

Apesar de ser significativamente menor do que o canal dedicado a Sergio Moro, a página luta para crescer.

A página contratou o serviço de anúncios pagos do Facebook para turbinar seu número de seguidores.

O anúncio da página, que contém um vídeo do lutador de UFC Weslley Alves declarando apoio à Bolsonaro, não está devidamente identificado como propaganda, apesar de a legislação eleitoral proibir expressamente que terceiros façam anúncios de campanha em suas páginas de Facebook.

No último mês, o TSE apresentou uma ordem judicial ao Facebook para retirar do ar conteúdos turbinados a favor de Bolsonaro que foram veiculados pela página do empresário Luciano Hang, o dono da rede de lojas de departamento Havan.


CARTA PUBLICADA PELAS ADMINISTRADORAS DO GRUPO ANTES DO ATAQUE:

O Brasil vive um momento especialmente dramático de sua história.

Nas eleições mais conturbadas após o fim da Ditadura civil militar, assistimos à perigosa afirmação, por um dos candidatos à Presidência, de princípios antidemocráticos, expressos num discurso fundado no ódio, na intolerância e na violência.

Se a posição deste candidato era pública, tendo sido reiteradamente manifesta ao longo dos 27 anos em que vem atuando na Câmara Federal, causa perplexidade a adesão a tais princípios por parte significativa da sociedade brasileira.

O tratamento desrespeitoso dirigido às mulheres, aos negros, indígenas, homossexuais, o culto à violência, a agressão contra adversários, a defesa da tortura e de torturadores, constituem manifestações que devem ser combatidas por aqueles que acreditam nos princípios civilizatórios que possibilitam a existência de uma sociedade democrática e plural.

Neste contexto, nós, mulheres, vítimas de agressões e desqualificações por parte deste candidato, viemos à público expressar nosso mais veemente repúdio aos princípios por ele defendidos, conclamando a população brasileira a se unir na defesa da democracia, contra o fascismo e a barbárie.

Somos muitas, para além de UM MILHÃO que integra este grupo. Defendemos candidatos e candidatas distintas, dos mais diferentes matizes político-ideológicos.

Temos experiências e visões de mundo diversas, assim como são distintas nossas idades, orientação sexual, identidades étnico-raciais e de gênero, classe social, regiões do país em que vivemos, posições religiosas, escolaridade e atividade profissional.

Na verdade, nos constituímos como coletivo a partir de uma causa comum, expressa nesta carta: a rejeição à prática política do candidato e aos princípios que a regem.

Nos constituímos nas redes sociais, unidas numa corrente crescente e ativa, pela necessidade de tornar pública nossa posição no exercício da cidadania e participação, a partir da identidade feminina que nos congrega.

Nós, mulheres, historicamente inferiorizadas e marginalizadas, sujeitas a toda sorte de violência e desrespeito, recusamos hoje o silêncio e a submissão, herdeiras de uma luta há muito travada por mulheres que nos antecederam.

Somos aquelas que constituem a maioria do eleitorado brasileiro, ainda que sub-representadas na política partidária. Somos aquelas que, gestando e alimentado novas vidas, defendemos o direito de todos e todas a uma vida digna.

Somos aquelas que, temendo pelas nossas vidas, pelas vidas de nossos filhos, filhas, companheiros e companheiras, diante da violência que assola e corrói a sociedade brasileira, somos contra a liberação do porte de armas, que só irá piorar o já dramático quadro atual.

Somos aquelas que, recebendo salários inferiores, com menor chance de contratação e progressão nos espaços de trabalho, entendemos que cabe aos governantes, à semelhança do que já ocorre em muitos países, construir políticas de igualdade salarial entre homens e mulheres.

Somos aquelas que, vítimas de assédio, estupro, agressão e feminicídio, defendemos o direito à liberdade no exercício da vida afetiva e sexual, demandando do Estado proteção e punição aos crimes contra nós cometidos.

Somos aquelas que protestam contra a perseguição e violência contra a população LGBTQ, porque entendemos que cada ser humano tem direito a viver sua identidade de gênero e orientação sexual.

Somos aquelas que se insurgem contra todas as formas de racismo e xenofobia, que defendem um país social e racialmente mais justo e igualitário, que respeite as diferenças e valorize as ancestralidades.

Somos aquelas que combatem o falso moralismo e a censura às expressões artísticas, que defendem a livre manifestação estética, o acesso à cultura em suas múltiplas manifestações.

Somos aquelas que defendem o acesso à informação e a uma educação sexual responsável, através de livros, filmes e materiais que eduquem as crianças e jovens para o mundo contemporâneo.

Somos aquelas que defendem o diálogo e parceria com escolas, professores e professoras na educação de nossos filhos e filhas, sustentados na laicidade, no aprendizado da ética, da cidadania e dos direitos humanos.

Somos aquelas que querem um país com políticas sustentáveis, que respeitem e protejam o meio ambiente e os animais, que garanta o direito à terra pelas populações tradicionais que nela vivem e trabalham.

Somos muitas, somos milhões, somos:

#MULHERES UNIDAS CONTRA BOLSONARO
CONTRA O ÓDIO, A VIOLÊNCIA E A INTOLERÂNCIA

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