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10/12/2012
Os discípulos de Urubulino
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Rodolpho Motta Lima
No meu tempo de jovem, em plena ditadura, entre as correntes que,
clandestinamente, se opunham ao regime militar de exceção, um grupo
delas defendia a tese do “quanto pior melhor”, argumentando que o
endurecimento do regime militar acabaria por provocar reações cada vez
mais fortes dos brasileiros, tudo culminando, assim, com a derrubada dos
usurpadores do poder.
A tese era questionada, a meu ver corretamente,
por outros segmentos de contestação ao governo, que entendiam que esse
cenário apenas provocaria um número maior de mortes e torturas, sem a
imaginada contrapartida. Na verdade, em situações desse tipo, a corda
sempre costuma arrebentar do lado mais fraco...
Ironicamente, essa tese é hoje - sem grandes sutilezas, em contexto
totalmente diverso e com propósitos nem um pouco meritórios - defendida
pelo pessoal da direita, que torce por um aumento da crise mundial,
acreditando que esse será um caminho fértil para a retomada do poder que
perderam em nosso país. Basta prestarmos atenção às declarações dos
políticos representados por tucanos e outros bichos, e da mídia que os
amplifica.
É um tal de “a não ser que a crise aumente” e coisas do
gênero como indisfarçável condicionante sonhada de uma diminuição do
prestígio de Dilma, e sua consequente derrota eleitoral. Essa turma sabe
que os partidos fisiológicos – esses que, nem de direita nem de
esquerda , se atrelam ao poder pelo poder, qualquer que seja ele – estão
sempre dispostos a abandonar o barco se as tempestades econômicas
criarem indesejáveis turbulências.
Tendo como programa a defesa dos interesses de mercado e da
manutenção dos seculares privilégios de classe, a atual oposição , qual o
personagem Urubulino, criado por Chico Anysio, procura sempre enxergar o
lado ruim de qualquer situação positiva que aponte para uma melhora do
quadro social e diminuição das desigualdades. Urubulino era uma figura
soturna que, na profissão de papa-defuntos, disseminava o pessimismo,
alimentando-se dele. É isso que faz esse pessoal, com o uso sistemático
do “mas” como instrumento de desqualificação, como várias vezes já
fizemos menção neste espaço.
Recentemente, quando se comemorava o fato
de que o Brasil alcançava mínimos índices de desemprego, os menores
apurados no pais desde que se colhem tais dados, uma economista-ícone da
mídia global, não podendo deixar de reconhecer o fato, alertava para os
perigos de “se diminuírem os estoques de mão de obra”, assim mesmo, com
essa expressão que coisifica os trabalhadores, dentro do jargão
mercadológico.
Os falsos seguidores de Hardi Ha Ha, a hiena do Hanna Barbera que
vivia identificando o azar em todos os dias e que usava o bordão “Isso
não vai dar certo” , anseiam pelo aumento da crise, valendo-se de suas
posições de “especialistas” para plantar o negativo. Misturam
deliberadamente o cenário nacional com os problemas do capitalismo
mundial em sua atual versão comandada por especuladores desatinados e
irresponsáveis que levaram e continuam levando o planeta à beira do
abismo. Tentam levar os brasileiros mal informados a uma identificação
incorreta. Pensam em responsabilizar o governo Dilma se a crise chegar
ao nosso país.
Não é possível imaginar postura mais perversa do que a ostentada por
esses brasileiros , que não hesitam em procurar denegrir os avanços do
país e não têm qualquer pudor em aliar-se a interesses contrários aos do
povo. Não falo de um ufanismo vazio, mas de um crescimento da
sociedade, como um todo. Um exemplo recente dessa oposição sabotadora:
quando o Governo acena com a diminuição do valor das contas de luz, as
empresas ligadas aos tucanos – alegando a defesa de interesses restritos
de acionistas e insensíveis ás necessidades do cidadão comum -
recusam-se a participar...Penso que essa é uma postura emblemática do
liberalismo.
O fato é que eles anseiam pela carniça de que se alimentarão, se não
tivermos como escapar da crise tão decantada. Qualquer coisa vale para a
queda de Dilma, sua não reeleição.
E têm representantes fiéis na grande mídia e no grande judiciário...
Assim, esperam que a crise, se vier, não os atinja, confiantes, como
sempre, de que os que têm gordura para perder se darão melhor do que os
menos favorecidos (e não vai aqui nenhuma alusão ao milionário Ronaldo ,
no seu emagrecimento global)
Elitistas por vocação, almejam pela volta dos privilégios integrais,
que consideram foram encurtados com projetos como a bolsa-família, no
nível mais baixo, ou com o aumento do poder aquisitivo da nova classe
média, que ocupa sem reverência os corredores dos supermercados e os
espaços de condomínios e aeroportos...
Como tudo que essa turma tem defendido e feito ultimamente, pode ser
que estejam dando um novo tiro no pé. Se a crise vier e gerar o fim dos
sonhos de quem acreditou em um país mais justo, não sei se alguém poderá
comemorar. Pode ser que ela seja bem maior do que desejam os abutres
hipócritas. Mas, já que hoje estão defendendo o “quanto pior melhor”,
pode ser que ela provoque, pela retrocesso das conquistas sociais e pela
ausência de amortecedores , uma vigorosa reação daqueles que vierem a
ter podadas as esperanças e expectativas semeadas nos últimos anos...
Quem quiser, que pague para ver...
Rodolpho Motta Lima. Advogado
formado pela UFRJ-RJ (antiga Universidade de Brasil)
e professor de Língua Portuguesa do Rio de Janeiro, formado
pela UERJ , com atividade em diversas instituições do Rio de
Janeiro. Com militância política nos anos da ditadura, particularmente
no movimento estudantil. Funcionário aposentado do Banco do Brasil.
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