domingo, 21 de abril de 2013

Contraponto 10.980 - "Mídia radicaliza contra Dilma, mas pode perder de novo"

Marco Damiani _247 - Dois símbolos da mídia tradicional cruzaram a linha da sombra. Um terceiro os empurrou e está junto. O jornal O Estado de S. Paulo, da família Mesquita, e a revista Época, dos Marinho, abondonaram de vez, no final de semana, a zona iluminada da crítica sobre ideias, procedimentos e posturas para fixarem-se no lado obscuro em que, com ares de superioridade, arrogância e prentensão em niveis irrespiráveis, se faz a crítica pessoal mais baixa dos últimos anos 60 anos, o vitupério gratuito, a provocação rasteiral. Foram para lá empurrados pela campanha semanal que a revista Veja instiga contra o governo.

Dirigindo-se a ninguém menos que a presidente da República e querendo dar ordens à legítima representante institucional pelas urnas e em sustentada, sólida e crescente alta nas pesquisas de popularidade, os dois veículos jogaram mais lixo de papel sobre a sociedade. O Estado de S. Paulo e a revista Época jogam no confronto covarde contra a presidente Dilma Rousseff da mesma forma como, em 1954, os donos da ex-grande imprensa atentaram contra o presidente Getúlio Vargas. Dez anos depois, houve 1964. Agora, com o mesmo tipo de ação, os Mesquita quebrados de polainas brancas cheias de manchas marrons e os Marinho que perdem força mas ficam cada vez mais endinheirados, com mais de US$ 20 bilhões na conta, aceleram na radicalização contra a presidente Dilma Rousseff. O movimento já começara com a revista Veja da semana passada, que marcou a estréia de Giancarlo Civita na presidência da Abril. Montar uma cena com a presidente pisando sobre um tomate foi o equivalente, em termos de grosseria editorial e marcação de posição, à capa com o ex-presidente Lula chutado pelas costas. Porque é pelas costas que essa turma age.

Neste final de semana, o jornal O Estado de S. Paulo questiona, em editorial, a capacidade da presidente de concatenar ideias. A revista Época, dos Marinho, usa tinta e papel de capa para fazer uma foto da presidente com o dedo nos lábios, indicando o seu silêncio para a chamada Menos Palavrório, Dilma.
Ali, também em editorial, Época faz um retrato mal acabado do que pode vir a acontecer. Mas não isso de a presidente calar a si própria, e sim a mídia tradicional vir a ter de ficar calada diante do sucesso de Dilma.

Lembremos. Os jogadores de futebol vaiados pelo público usam e abusam do gesto de trancafiar os lábios com o dedo indicador ao fazerem um gol. É a melhor forma que eles encontraram para dizer à torcida que, com a superação do adversário real, representado pelo gol, quem tem de ficar quieta em autocrítica é ela, torcida, e não o profissional que está em campo fazendo o seu trabalho.

A capa da revista Época, neste sentido, já é emblemática não pelo que quer dizer – para que Dilma se cale --, mas sim pelo que o público está dizendo à mídia tradicional, que só tem errado em suas avaliações. Foi assim, recentemente, na aposta em conjunto, de praticamente toda a ex-grande imprensa, no racionamento de energia. Perderam e não houve racionamento algum.

Vai sendo assim, igualmente, quanto aos largos espaços concedidos aos que defendem medidas como o desaquecimento do mercado de trabalho – traduza-se: desemprego --, inversamente proporcionais à falta de veiculação a artigos de economistas que enxergam coerência na política anti-cíclica executada com denodo pelo governo federal. Apesar da grita pelo freio ao crescimento, a economia brasileira segue singrando a crise internacional a pleno emprego, com inflação ainda dentro da meta e projeções de retomada de investimentos pesados nos próximos meses. A perda dessa aposta, pode-se também arriscar, é uma questão tempo.

Após colher uma vitória de Pirro no caso do chamado mensalão, uma vez que a sentença de prisão para a primeira geração de chefes do PT correspondeu ao humilhante desnudar das relações promíscuas entre um de seus redatores-chefes, Policarpo Jr., e o rematado bicheiro e contraventor Carlinhos Cachoeira, a revista Veja mantém-se onde sempre esteve. Esse lugar é, especialmente, a oposição ao ex-presidente Lula, com quem o ex-presidente do Grupo Abril, Roberto Civita (afastado do cargo por questões de saúde), se desentendeu. A partir do desencontro entre as duas personalidades, seguem-se, semana após semanas, pautas que cabem na editoria permanente do perseguir a Lula. Novidades que não têm novidades, como o espaço de capa dado esta semana à “rainha Rose”, a partir do qual Veja não conseguiu avançar muito sobre tudo o que já se sabe, a não ser na realização de uma caricatura.

Com a capa de Época, publicação da família Marinho, mas tocada, como toda a área editorial do grupo, pela mão de ferro do filho mais conservador do falecido Roberto Marinho, João Roberto, as Organizações Globo entram de cabeça na oposição pessoal à presidente. Afinal, mandar a democraticamente eleita Dilma Rousseff fechar a boca equivale a registrar que tudo o que a presidente diz não merece registro. Uma asnice do quilate do rasteiro editorial do Estadão. O Globo, por sinal, tem conseguido se posicionar até mesmo contra a política do governo no combate à seca do Nordeste!

O círculo de fogo que a mídia tradicional quer fechar em torno da presidente da presidente do Dilma e do ex-presidente Lula pode, ao sabor da direção do vento que tem soprado nas últimas três eleições, alastrar-se para queimar a própria mídia tradicional. Com falta de cabeças bem pensantes a serviço do conservadorismo, aquelas que sabem marcar posições mais à direita e/ou em confronto com governos, entidades e pessoas sem perder o necessário respeito, a desejável elegância e o fundamental espírito democrático, a mídia conservadora está se rebaixando à linguagem dos antigos jornais sensacionalistas – os que procuravam causar sensação a partir de fatos esdrúxulos, não representativos do todo e sem o peso necessário para serem de fato notícias importantes.

Registrando aumentos sucessivos em sua popularidade, a presidente demonstra que tem, sim, o apoio da população. Acelerando seus caminhões cheios de encalhes contra a figura pessoal de Dilma, o que se tem é que, mais do que uma coleção de divergências ideológicas e quanto ao modus operandi do governo, a mídia tradicional começa a fazer sua aposta no rompimento institucional. Isso já aconteceu em 1964 – e o lado da mídia tradicional, que apoiou o golpe militar de 1º de abril, levou a melhor no primeiro momento e nos 21 anos seguintes. Agora, com a nova aposta, cuja timidez pode ir sendo paulatinamente deixada de lado, os barões da mídia demonstram, a partir de sua posição de minoria em extinção, querer radicalizar outra vez.

Eles já estão querendo pagar para ver, mas ao povo esse jogo não interessa. Quanto a própria presidente, espera-se que a baixaria da mídia concentradora, vazia de apoio mas inflada de repercussão, a faça repensar sua posição sobre a importância de uma Lei de Meios para o Brasil.
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