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31/07/2013
31/07/2013
Feitiço contra feiticeiros no STF
Da ISTOÉ Independente - 31/07/2013
Após quatro meses de espetáculo pela TV, a notícia é que alguns ministros do STF estão com medo de rever seus votos no julgamento do mensalão
Paul Moreira Leite

“(...) há ministros que se mostram ‘arrependidos de seus votos’ por
admitirem que algumas falhas apontadas pelos advogados de defesa fazem
sentido. O problema (...) é que esses mesmos ministros não veem nenhuma
brecha para um recuo neste momento. O dilema entre os que acham que
foram duros demais nas sentenças é encontrar um meio termo entre rever
parte do voto sem correr o risco de sofrer desgaste com a opinião
pública.”
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Pois é, meus amigos.
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Após quatro meses de espetáculo pela TV, a notícia é que alguns
ministros do STF estão com medo. Não sabem como “encontrar um meio termo
entre rever parte de seu voto sem correr o risco de sofrer desgaste com
a opinião pública.”
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É preocupante e escandaloso.
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Não faltam motivos muito razoáveis para um exame atento de
recursos. Sabe-se hoje que provas que poderiam ajudar os réus não foram
exibidas ao plenário em tempo certo.
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Alguns acusados foram condenados
pela nova lei de combate à corrupção, que sequer estava em vigor quando
os fatos ocorreram – o que é um despropósito jurídico.
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Em nome de uma
jurisprudência lançada à última hora num tribunal brasileiro,
considerou-se que era razoável “flexibilizar as provas” para confirmar
condenações, atropelando o direito à ampla defesa, indispensável em
Direito. Centenas de supressões realizadas pelos ministros no momento em
que colocavam seus votos no papel, longe das câmaras de TV, mostram que
há diferença entre o que se disse e o que se escreveu.
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O próprio Joaquim Barbosa suprimiu silenciosamente uma denúncia de
propina que formulou de viva voz, informação errada que ajudou a
reforçar a condenação de um dos réus, sendo acolhida e reapresentada por
outros ministros.
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Eu pergunto se é justo, razoável – e mesmo decente – sufocar esse debate. Claro que não é.
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É perigoso e antidemocrático, embora seja possível encher a boca e
dizer que tudo o que os réus pretendem é ganhar tempo, fazer chicana.
Numa palavra, garantir a própria impunidade.
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Na verdade estamos assistindo ao processo em que o feitiço se volta
contra o feiticeiro. E aí é preciso perguntar pelo papel daquelas
instituições responsáveis pela comunicação entre os poderes públicos e a
sociedade – os jornais, revistas, a TV.
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O tratamento parcial dos meios de comunicação, que jamais se deram
ao trabalho de fazer um exame isento de provas e argumentos da acusação e
da defesa, ajudou a criar um clima de agressividade e intolerância
contra toda dissidência e toda pergunta inconveniente.
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Os réus foram criminalizados previamente, como parte de uma
campanha geral para criminalizar o regime democrático depois que nos
últimos anos ele passou a ser utilizado pelos mais pobres, pelos
eternamente excluídos, pelos que pareciam danados pela Terra, para
conseguir alguns benefícios – modestos, mas reais -- que sempre foram
negados e eram vistos como utopia e sonho infantil.
(A prova de que se queria criminalizar o sistema, e não corrigir
seus defeitos, foi confirmada pelo esforço recente para sufocar toda
iniciativa de reforma política, vamos combinar.)
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No mundo inteiro, os tribunais de exceção consistem, justamente,
num espetáculo onde a mobilização é usada para condicionar a decisão dos
ministros.
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“Morte aos cães!”, berravam os promotores dos processos de Moscou,
empregados por Stalin para eliminar adversários e dissidentes.
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Em 1792, no Terror da Revolução Francesa, os acusados eram
condenados sumariamente e guilhotinados em seguida, abrindo uma etapa
histórica conhecida como Termidor, que levou à redução de direitos
democráticos e restauração da monarquia.
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No Brasil de 2013, a pergunta é se os ministros vão se render ao medo.
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Paulo Moreira Leite. Diretor da Sucursal da ISTOÉ em
Brasília, é autor de "A Outra História do Mensalão". Foi correspondente
em Paris e Washington e ocupou postos de direção na VEJA e na Época.
Também escreveu "A Mulher que Era o Outro General da Casa".
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PITACO DO ContrapontoPIG
Saberemos em breve se temos ministros dignos deste cargo ou se temos gusanos covardes na maior corte do país.
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Agora você veja: um poder que tem que ter independência, atrelado às opiniões de uma mídia que é visivelmente tucana ...
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