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31/07/2013
Médicos playboys desconhecem a existência de Hipócrates
Juramento
de Hipócrates
“Prometo que, ao exercer a arte de curar, mostrar-me-ei
sempre fiel aos preceitos da honestidade, da caridade e da ciência. Penetrando
no interior dos lares, meus olhos serão cegos, minha língua calará os segredos
que me forem revelados, o que terei como preceito de honra. Nunca me servirei
da minha profissão para corromper os costumes ou favorecer o crime. Se eu
cumprir este juramento com fidelidade, goze eu para sempre a minha vida e a
minha arte com boa reputação entre os homens; se o infringir ou dele
afastar-me, suceda-me o contrário”.
por Davis Sena Filho
Todo mundo sabe, até os muito idosos, os
recém-nascidos e as crianças do jardim de infância que grande parte dos médicos
trabalha em vários empregos, bem como é dona de consultórios na iniciativa
privada. Muitos dos profissionais de saúde integram o serviço público, pois
sabem que a estabilidade no emprego é sempre um trunfo na vida, afinal sabemos
que viver é difícil. Enfim, a luta pela sobrevivência é para valer, razão pela
qual a maioria dos pais sempre quando pode aconselha os filhos a levar a vida a
sério, e, consequentemente, ter menos motivos para lamentar o que deixou de
fazer por causa das dificuldades que se apresentam no decorrer de suas
existências.
Acontece que todo mundo sabe que milhares de
médicos são também os responsáveis pela crise na saúde, porque não têm
compromisso com a sociedade e muito menos com o juramento de Hipócrates, que é
um ensinamento profundo e primordial sobre a profissão de médico, que tem de
ser exercida como um sacerdócio e não apenas como um meio para auferir lucros e
dividendos, como se observa no Brasil.
O nosso País se tornou um lugar onde os
doutores de medicina, inegavelmente, dedicam-se aos seus negócios privados,
prazeres, interesses econômicos e financeiros, ao ponto de largarem,
irresponsavelmente, os seus afazeres no serviço público, para irem direto aos
seus consultórios ganhar dinheiro e atender os privilegiados, que podem pagar
altos preços para ser atendidos por esses profissionais essencialmente
capitalistas e que servem como exemplo ou símbolo de um mundo globalizado
economicamente e, contraditoriamente, egoísta por ser exageradamente
consumista, pois é edificado em um individualismo que se contrapõe à essência
histórica da alma humana, que sempre se baseou durante milênios na
solidariedade, por motivos associativos, comunitários, e, principalmente, de
sobrevivência.
Eis que as patricinhas e os mauricinhos
vestidos de branco — os médicos playboys —, com o apoio dos Conselhos de
Medicina, tanto em âmbitos regionais quanto federal, saem às ruas com a
intenção, inequívoca, de impedir que o Governo Federal resolva uma das pautas
das manifestações de junho, que é fazer com que o atendimento médico chegue às
periferias, às comunidades mais humildes das grandes e médias cidades, onde
moram milhões de brasileiros, bem como as suas presenças passem a fazer parte
do panorama do Brasil profundo, os rincões brasileiros, cujos moradores têm
dificuldades para ter acesso ao serviço público de saúde, por falta de médicos.
Evidentemente, os governos Federal, estaduais
e municipais têm de dar as condições estruturais (equipamentos, ferramentas e
logística) para os médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem, além dos
profissionais dos setores administrativos das unidades hospitalares. Ponto.
Contudo, sem generalizar, sabemos também que a classe médica dá a impressão de
estar divorciada dos interesses e das necessidades do povo brasileiro e exerce a
profissão com uma postura classista arrogante, preconceituosa e elitista, como
bem demonstraram, sem resquício de dúvida, as declarações de certos
manifestantes e lideranças classistas aos meios de comunicação de negócios
privados.
A luta empreendida pelos médicos e
principalmente pelos representantes dessa classe, verdadeiros barões da
medicina, é lamentável. Os protestos contra o programa do Governo trabalhista
conhecido como "Mais Médicos" denota, sem sombra de dúvida, que
grande parte dos médicos brasileiros não está preocupada com a melhoria na área
de saúde, com estrutura ou atendimento. Os doutores demonstram o quanto são
descompromissados com a nação brasileira. As realidades atuais do setor de
saúde são boas e adequadas para essas pessoas e não para o povo. Os médicos
controlam e querem continuar a controlar o mercado de empregos, o dinheiro que
circula no segmento, além de se aliarem aos laboratórios multinacionais. Eles
estão encastelados nas unidades de saúde da iniciativa privada e têm como porta-vozes
da classe profissional os médicos que controlam o Conselho Federal de Medicina.
Os cartazes, as faixas e as palavras de ordem
dos médicos que estão a marchar nas ruas de todo o Brasil são preenchidos com
dizeres autoritários, intolerantes, preconceituosos e arrivistas. São seres
niilistas em toda a sua essência, porque eles, tais quais os filhos da classe
média, ferozes e de direita, que inundaram as ruas em junho, também se
autodenominam "apartidários" e "apoliticos". Entretanto, os
de branco não abrem mão de seus privilégios e por causa deles lutam para
mantê-los intactos, porque o que está em jogo é o controle do grande negócio
que é a medicina e do qual se locupletam.
Os médicos playboys se recusam a trabalhar dois anos no SUS, mas o estado pagou seus estudos. |
Por isto e por causa disto se recusam a ir
para o interior ou para as periferias, ao tempo que boicotam e sabotam o
programa "Mais Médicos" e dão uma de "joão-sem-braço" ao
afirmarem que apenas faltam estrutura e logística, quando a verdade é que
faltam médicos também. Os médicos playboys querem ganhar de todos os lados, por
intermédio da iniciativa privada, bem como do setor público. Só que para lucrar
no segmento particular tem de bater o ponto nas unidades de atendimento
pertencentes à saúde pública. E o fazem, de forma corriqueira, ordinária e
recorrente.
Simplesmente eles batem o ponto, e vão
embora, com o objetivo de atender pacientes em seus consultórios particulares
ou unidades hospitalares da iniciativa privada, que, por sinal, cobram muito
caro e atendem muito mal. A resumir: muitos médicos concursados ou
terceirizados que atendem na rede hospitalar pública abandonam solenemente os
seus postos de trabalho e vão ganhar dinheiro no setor privado. No fim do mês,
eles recebem em suas contas correntes o salário pago pelo povo contribuinte
brasileiro. Essa conduta é "normal" no meio, inclusive, muitas vezes,
com a conveniência dos próprios diretores e administradores das unidades de
saúde pública onde os médicos playboys trabalham.
É o arrivismo em toda a sua plenitude, a
apresentar, indelevelmente, toda a sua natureza sórdida e infame, com o apoio
da imprensa golpista, pois essencialmente de mercado. Hoje no "Mau Dia
Brasil", da Rede Globo, os apresentadores Renata Vasconcellos e Chico
Pinheiro cantaram loas e boas aos protestos mequetrefes dos médicos playboys.
Não satisfeitos, os jornalistas de tal concessionária pública de comunicação
"entrevistaram" um paciente que se disse satisfeito com o atendimento
médico, bem como "entrevistaram" também um pedestre ou transeunte,
que afirmou ao repórter, que estava a praticar o verdadeiro jornalismo de
esgoto, que apoiava as manifestações dos médicos.
E por que o repórter deu voz a uma pessoa
"satisfeita" com o SUS ao tempo que outro cidadão disse que "apoia"
os protestos dos médicos? Respondo: são casos de pirotecnia e de contorcionismo
jornalístico. A imprensa alienígena e corporativa faz oposição ao governo
trabalhista; e qualquer movimento social que possa favorecer a oposição, a
imprensa o abraça e rapidamente digere a contestação em prol de seus interesses,
que geralmente visam às eleições, bem como ajudam a desconstruir os governantes
trabalhistas que assumiram o poder da República a partir de 2003.
É a primeira vez, em anos, que eu fui
surpreendido pelos empregados da família Marinho a "elogiar", por
meio de um paciente, o atendimento do SUS. Também fiquei igualmente
surpreendido com o apoio de um cidadão comum às passeatas dos médicos playboys,
que não querem ir para a periferia e o interior, mas mesmo assim, de forma
prepotente e arrogante, querem impedir a contratação de médicos estrangeiros e
dar fim ao programa "Mais Médicos" do Governo trabalhista, além de se
recusarem a trabalhar dois anos para SUS ao fim de seus cursos, pois para os “mauricinhos”
e as “patricinhas” de branco trabalhar ainda jovem na saúde pública é “escravidão”,
o que, certamente, não concordam os colegas médicos mais velhos, porque eles
batem o ponto no serviço público e minutos depois saem do trabalho para atender
os seus pacientes particulares.
A verdade é a seguinte: o Mau Dia Brasil e os
seus "âncoras" apoiam a desfaçatez e a insensatez dos médicos. Para
dar satisfação ao público, o telejornal matutino precisou amenizar a ausência
de milhares de profissionais de saúde de seus postos de trabalho, e rapidamente
trataram de elogiar o que jamais elogiaram: o atendimento do Sistema Único de
Saúde, por intermédio de um paciente que disse que estava até surpreso com o
bom atendimento. Algo assim: os médicos playboys faltam e vão às ruas
protestar, mas nem por isso o atendimento ficou pior. Pelo contrário, até
melhorou. Durma-se com um barulho desse. Os médicos playboys desconhecem a
existência de Hipócrates. É isso aí.
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