domingo, 21 de julho de 2013

Contraponto 11.747 - "O grito da classe média"

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 21/07/2013

O grito da classe média


Jornal O Povo - 21/04/2013


Valton Miranda Leitão 
 
O movimento que percorreu o país teve como personagens principais os filhos da classe média que abandonaram os shoppings e condomínios para protestar nas ruas. Isso naturalmente foi respaldado pelos seus pais que, após longo bombardeio midiático com o espantalho da inflação e do desemprego e começando um processo de endividamento, dirigiu sua hostilidade contra os gastos na Copa.

O estopim desse movimento errático e sem comando foi o MPL de São Paulo, que sempre teve o comando da esquerda, agregando vários partidos. A onda ao crescer alvejou raivosamente tanto a mídia quanto os partidos políticos em geral, mas o sistema comunicacional empresarial brasileiro procurou dar uma direção à direita ao processo.

É necessário examinar historicamente tal dispositivo espontaneísta de massas que condena a política como inerentemente corrupta e os partidos sendo seus instrumentos principais no processo de degradação. A complexidade dos objetivos, incluindo saúde, educação, transporte e segurança entre outros (privatizados no governo FHC), me leva a colocar a questão no foco político, pois nenhuma mudança existe sem vida política.

Essa contradição só pode decorrer da demonização feita pela mídia, que pretende ocupar o lugar social da política e da ética. O absurdo disso é assimilado pela despolitização da classe média que assume sem o saber a bandeira moralista que foi no passado a base do nazismo, e no Brasil contemporâneo deu nascimento ao fenômeno Collor de Melo, o caçador de marajás.

O esquema publicitário era exatamente o mesmo na perspectiva desse foco, ou seja, considerava a vida política essencialmente depravada, sendo os partidos representantes dos marajás. Por essa razão, Collor não tinha partido e se autoproclamava portador do princípio ético. Sabemos no que deu a aventura do artilheiro anti-inflação!

Naturalmente não quero dizer que os atuais partidos são a expressão da participação popular, pois na verdade sua origem está na ditadura militar de 1964. Os partidos se perderam no eleitoralismo e abandonaram o debate político que é o caminho para transformar uma massa em povo. Além disso, a necessidade de garantir a governabilidade, fazendo absurdas alianças levou ao descrédito programático e ideológico, que muitos intelectuais vêm denunciando nos últimos anos.

As privatizações sem critério feitas ao longo dos últimos 20 anos, sob a influência do neoliberalismo político e econômico, determinaram a desestruturação de setores fundamentais do Estado para os quais a massa reclama conserto. O protesto que teve como palanque a Copa ganhou uma dimensão que justifica o clamor das ruas. A presidente Dilma levou isso em conta e convocou governadores e prefeitos para um pacto federativo. Isso, entretanto, somente se viabiliza através de uma verdadeira reforma política, e tal transformação deve ser feita de baixo para cima, ou seja, usando o instrumento do plebiscito.

A expansão do movimento é positiva desde que ingresse no verdadeiro debate político.

 
Valton Miranda Leitão 
valtonmiranda@gmail.com
Psicanalista 
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