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30/07/2013
Lula for president?
Da Carta Capital - 29/07/2013
Entende-se por que há quem imagine o retorno do
ex-presidente ao comando do Estado e do governo. Mas Dilma tem condições
por ora de superar as dificuldades do momento
Roberto Stuckert Filho/Presidência da Republica
Dilma e Lula. Há quem imagine o retorno do ex-presidente, mas Dilma pode superar as atuais dificuldades e se manter
Um velho amigo, sábio judeu, sempre me
lembra: “Os prognósticos eleitorais são como os perfumes: têm de ser
cheirados, nunca bebidos. No primeiro caso são muito bons, no segundo
podem criar efeitos devastadores!” Aplicar tal sentença às pesquisas
divulgadas recentemente sobre as intenções de voto dos brasileiros me
parece no mínimo oportuno. As mudanças de orientação nas escolhas
presidenciais por parte do eleitorado parecem muito volúveis para
acreditar cegamente nelas. Dito isso, é aconselhável enxergar as
tendências subjacentes ao processo democrático e tentar elaborar ideias
de fôlego.
Considerando-se o amplo consenso
popular conquistado pelo curso lulista da última década, não há dúvida
de que Dilma Rousseff, se confirmasse sua candidatura, estaria em
condição de reconquistar a Presidência em 2014. Graças também ao
fundamental apoio eleitoral de Lula ela teria força suficiente para
superar o impasse pelo qual está passando nos últimos tempos.
O maior interesse do povo
brasileiro nesta fase reside, no entanto, no automático segundo mandato
da honesta presidenta. Ou será que outras considerações estratégicas se
impõem diante do debate nacional que finalmente se desencadeou, em
consequência da efervescência social?
Os que afirmam que o Brasil teve
nos últimos dez anos um governo do PT erram por aproximação e criam um
equívoco político. O Partido dos Trabalhadores, mais simplesmente,
obteve a chefia do Estado e do governo sem nunca ter maioria homogênea
no Parlamento. Viu-se obrigado, portanto, aos compromissos deletérios
que conhecemos e, em relação a suas origens, sofreu inevitavelmente uma
parcial mutação genética. A ilusão de que chegar ao governo do País
fosse sinônimo de conquistar o “poder” foi breve e se chocou
inexoravelmente contra a resistência de estruturas estatais,
instituições e leis forjadas por décadas de autêntico domínio
oligárquico.
Em consequência, a
tentativa de democratizar profundamente a sociedade e resolver seus
graves desequilíbrios por meio do controle do Estado tem se revelado
efêmera: poderia ser um instrumento formidável de mudança, mas o Estado
continua preponderantemente nas mesmas mãos de sempre, e sua reforma com
intenção democratizante, sem uma maioria parlamentar coerente, é de
fato impossível. Por essa razão, resulta fundamental realizar a mãe de
todas as reformas, ou seja, a política, para conseguir a superação do sistema construído com base na Constituição de 1988.
Hoje é urgente não uma
reforma política indefinida ou de fachada, como enchem a boca os
tartufos de qualquer facção, e sim um novo pacto nacional entre os
integrantes amplamente majoritários da sociedade, cujos interesses
convergem: o povo e os trabalhadores de um lado e, de outro, a burguesia
e a classe média democráticas, ambos interessados em construir um país
mais equilibrado, competente e próspero. Esse novo pacto, através de
compromisso parlamentar e lutas sociais na próxima legislatura, poderia
abrir o caminho para uma Assembleia Constituinte exclusiva, única
possibilidade de realizar uma reforma política que atenda aos interesses
majoritários da Nação.
Politique d’abord!
(Política antes de qualquer coisa!), exclamam os franceses aludindo à
centralidade do pensamento e da ação política. E, no Brasil também, hoje
mais do que nunca, a política alta e nobre é a única resposta de valor.
Um modelo de sociedade e de política se exauriu: agora é preciso pensar
e realizar outro, mais avançado, para evitar o retrocesso das
conquistas sociais da última década.
Por essas razões, entende-se que
alguns analistas se abalem a imaginar a volta de Lula à Presidência.
Sustentam que o povo precisa da orientação e do carisma que só Lula
garante, para determinar o momento de ruptura do qual a democracia
brasileira precisa. Essa força popular, no parlamento e na sociedade,
seria crucial para forjar em paralelo novas alianças e o novo curso que a
Nação necessita.
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