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20/07/2013
Aécio em terceiro lugar
Da ISTOÉ Independente - 20/07/2013
Paulo Moreira Leite
Mais uma vez, uma pesquisa eleitoral mostra as mudanças de cenário político depois dos protestos de junho.
Por motivos mais do que esperados, uma grande novidade tem sido evitada, pudicamente, por nossos comentaristas e observadores: pelos números de hoje, Aécio Neves está longe do segundo turno.
Claro que há muito chão pela frente e este ambiente pode mudar. Os
arquivos políticos estão abarrotados de profecias eleitorais
fracassadas, ainda mais aquelas anunciadas com tanta antecedência.
Mas este quatro é ilustrativo dos humores do eleitorado.
A candidatura de Aécio não só perdeu pontos – o único a enfrentar
um esvaziamento além de Dilma – mas encontra-se a uma distância cada vez
maior em relação a Marina Silva.
A novidade real das pesquisas é essa: se as eleições fossem hoje, Dilma e Marina iriam para o segundo turno.
Estes números dizem menos sobre méritos e defeitos do candidato do
que sobre o universo político que ele representa. A força de Aécio junto
ao eleitorado de Minas Gerais dificilmente pode ser colocada em
dúvida.
Mas, num país onde o PSDB levou a presidência no primeiro turno em
1994 e 1998, e chegou ao segundo turno em 2002, 2006 e 2010, os
protestos de rua ajudaram a criar uma nova polarização política. Tão
celebrada pela maioria dos observadores com bom espaço nos grandes
órgãos de comunicação, a herança tucana, nem de longe, parece suficiente
para ancorar uma candidatura de oposição a Dilma.
A dinâmica da nova situação política parece clara. Os decepcionados
com o PT não se transformam em nostálgicos do PSDB. Pelo contrário.
Até por uma coincidência do calendário da propaganda eleitoral,
Aécio deveria estar tinindo nas intenções de votos. Nas semanas
anteriores aos protestos o PSDB inundou a TV com seus filmes de
propaganda. Seria seu lançamento em escala nacional, preparado com
grande competência, aliás, por uma equipe de publicitários
recém-chegados da Venezuela, onde fizeram a campanha do principal
adversário do chavista Nicolás Maduro.
Deu para entender também qual era a campanha que esperavam fazer, certo?
As pesquisas trouxeram uma novidade tão grande que muitas pessoas
têm dificuldade de conviver com ela. Se os eleitores da oposição já
sabiam quem não queriam – Dilma – agora não sabem mais em quem precisam
votar para impedir uma quarta vitória consecutiva do PT.
O silêncio dos analistas sobre o ambiente geral da campanha é
revelador do tamanho do problema. Empregar os números de Lula numa
tentativa para desgastar Dilma é uma forma de evitar a questão real da
campanha, que é o naufrágio do PSDB.
Desde o retorno das eleições diretas, em 1989, o país assistiu a
uma mesma história em suas campanhas eleitorais. A disputa sempre foi
entre o candidato do PT, Lula, concorrente em cinco das seis disputas,
contra um adversário com apoio das forças mais conservadoras. Em cinco
eleições realizadas, tivemos PT contra o PSDB.
A pergunta, agora, é saber se o eleitorado que saiu aos protestos de junho recusa essa polarização.
Aécio perde intenções de voto para uma candidatura que se beneficia
de sua imagem de concorrente alternativa, que se apresenta como uma
candidata sem passado, sem passagem pelo senado nem pelo ministério do
governo Lula. Candidata presidencial pela segunda vez, Marina nunca foi a
segunda depois que a campanha de 2010 começou de verdade.
Para infelicidade de seu adversário direto, Marina conta com toda
benevolência possível dos meios de comunicação para esconder a imensa
simpatia que recebe da “velha” política, dos “velhos” interesses que
alimentam o “velho” Brasil, não é mesmo? Parece que ela é alternativa
desde criancinha, não é mesmo?
Ninguém pergunta quais são suas ideias econômicas para retomar o
crescimento e impedir um retorno a situação lamentável que se vivia no
início da década passada. Tampouco se avaliam as consequências de sua
reação amigável diante das barbaridades prometidas por Marco Feliciano
no congresso. Acionistas de um dos maiores bancos brasileiros estão
engajados até a medula em sua candidatura, numa aproximação que vai
muito além do apoio eleitoral – e poucos analistas de debruçaram sobre o
significado desse movimento.
Marina já declarou que não é de oposição nem da situação – mas
ninguém achou que a definição era tão repulsivamente oportunista como o
“não é de direita nem de esquerda” empregado por Gilberto Kassab para
falar sobre o PSD.
O ponto principal destes levantamentos é a perspectiva da multidão.
A rigor, os manifestantes não discordam do governo. Aceitam o que
foi feito em termos de distribuição de renda e demais melhorias
iniciadas em 2003. Não querem uma volta atrás.
Por isso, prestam atenção em Marina, que carrega, a cada passo, uma
história política com vários cruzamentos com Lula e o PT. No
imaginário do eleitorado, ela é muito menos adversária de Dilma do que
Aécio.
Em sua fotografia atual, as pesquisas indicam que uma parcela
grande eleitores tomou distância de Dilma e do governo, mas não se
reconcilia com o PSDB nem com os sinais escancarados da velha ordem.
Este é o ponto.
Paulo Moreira Leite. Diretor da Sucursal da ISTOÉ em
Brasília, é autor de "A Outra História do Mensalão". Foi correspondente
em Paris e Washington e ocupou postos de direção na VEJA e na Época.
Também escreveu "A Mulher que Era o Outro General da Casa".
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