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29/07/2013
Mentira grosseira para desviar atenção
Mário Augusto Jakobskind
Enquanto o Presidente da Colômbia, Juan
Manuel Santos, reconhecia a responsabilidade do Estado por violações dos
direitos humanos e infrações ao Direito Internacional Humanitário no
prolongado conflito armado naquele país, informação pouco divulgada por
aqui, no Rio de Janeiro ocorreu um fato extremamente grave.
Na edição da quarta-feira (25) do jornal O Globo, o repórter Antônio
Werneck assinava matéria mentirosa, com chamada de primeira página,
revelando que “agente da Abin foi preso em protesto” e com o complemento
de sustentação “vândalo chapa-branca”. O jornal da família Marinho,
numa demonstração de baixo jornalismo “informava” sobre a prisão do
geógrafo e agente da Abin Igor Pouchain Matela junto com a mulher, Carla
Hirt.
Mentira grosseira. Carla Hirt foi presa quando fugia da truculência
policial sendo agredida, depois de ser ferida por balas de borracha, não
tendo jogado pedras em lugar nenhum. O marido, que não estava com ela,
foi até a 14a. Delegacia Policial, no Leblon, ao ser avisado pela
própria mulher da prisão e agressão por parte de um tenente da PM.
Portanto, ai se esclarece a primeira mentira que tem por visível
objetivo induzir o leitor a incriminar a Abin, desviando a atenção do
principal, ou seja, de que a PM de Sergio Cabral infiltra agentes P2 nas
manifestações, não propriamente para observar, como alegam as
autoridades, mas para provocar tumulto. Vídeos postados nas redes
sociais não deixam dúvidas.
Carla foi acusada de formação de quadrilha e ter jogado pedras numa
agência bancária. Ela foi presa na rua Redentor e a PM notificou que a
prisão ocorreu na Visconde de Pirajá. Portanto, uma nova mentira, como
várias outras encontradas na matéria do repórter Antônio Werneck. A
indicação da Visconde de Pirajá foi para mostrar que ela estava no
centro dos acontecimentos no momento da prisão. Se fosse colocada a rua
exata ficaria demonstrado que Carla foi presa fora do local onde a PM
agia com truculência, por orientação do trio Sérgio Cabral, José Mariano
Beltrame e Coronel Enir Costa Filho, comandante da PM.
Que quadrilha os presos poderiam ter formado se nenhum deles se
conhecia? Antes da matéria ter sido divulgada, Carla Hirt deu entrada
com uma ação no Ministério Público informando ter sido vítima da
truculência policial, agredida e baleada, além de acusada falsamente de
formação de quadrilha.
Fonte não revelada - Mas o que também chama a atenção da
matéria é o fato dela ter sido divulgada uma semana após os
acontecimentos ocorridos na manifestação que começou nas imediações do
prédio onde reside o Governador Sérgio Cabral, no bairro do Leblon, dia
18 de julho. Aí que mora também o perigo. A fonte da informação sobre a
falsa prisão do agente da Abin, não citada pelo repórter de O Globo, foi
o ex-deputado Marcelo Itagiba, do PSDB.
Itagiba não é flor que se cheire, tendo sido citado numa Comissão
Parlamentar de Inquérito da Assembleia Legislativa fluminense sobre a
ação das milícias como elemento vinculado a esse grupo criminoso que
atua com ramificações no aparelho de Estado.
Uma pergunta que não quer
calar: quem informou Itagiba sobre a ocorrência na delegacia do Leblon? E
por que Antônio Werneck não revelou a fonte da sua mentirosa matéria e
fez questão de contatar o ex-deputado? Ele é fonte de O Globo?
Baixo jornalismo - Mas se os leitores imaginam que o baixo
jornalismo do jornal se limitou ao que foi mencionado até agora,
engana-se. Tem mais. A própria matéria desdiz a chamada de primeira
página ao revelar no meio do texto que o agente foi autuado por desacato
quando chegou à delegacia. Então, por que ter colocado com chamada de
primeira página a mentira de que o agente da Abin foi preso no protesto?
E por que dar ênfase ao “desacato” e relegar a plano secundário a
agressão sofrida por Carla Hirt e também colocá-la no texto como agente
da Abin?
Como Igor Matela havia mandado uma carta ao jornal O Globo negando o
desacato e informando que ele e Carla Hirt eram alunos do Instituto de
Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio
de Janeiro, o repórter Antônio Werneck procurou o professor Carlos
Wainer, titular do referido instituto, perguntando se “o senhor gostaria
de comentar o caso” e se ”conhecia o casal?”.
Vainer respondeu, mas o que disse não foi divulgado pelo jornal:
“Carla é geógrafa, professora, brilhante estudante de doutorado em
Planejamento Urbano e Regional. Digna e íntegra, como os milhões de
jovens que têm ido às ruas manifestar sua inconformidade com a situação
do país. Orgulho-me de ser seu professor, No Rio de Janeiro, o direito
de manifestação vem sendo violado por uma polícia inepta, brutal e, como
agora se sabe, capaz de forjar autuações fraudulentas para criminalizar
manifestantes. Sob pretexto de manter a ordem, a polícia instaura o
terror a cada nova manifestação pública. É necessário investigar e punir
policiais e autoridades que promovem ou acobertam essas violências.
Ouvir a mensagem das ruas, recomendou a Presidente Dilma, Querem, no
entanto, calá-la”.
Igor Matela garante também que em momento algum deu uma carteirada
como agente da Abin, como insinua O Globo. Ao ser enquadrado, a delegada
naquele momento, Flávia Monteiro, pediu seus documentos e que revelasse
a profissão. Mostrou então a carteira de motorista e disse ser
funcionário público. A delegada insistiu perguntando em que repartição,
mencionando então a Abin. Igor ingressou na Abin por concurso.
Em suma, como tem acontecido nos últimos tempos, O Globo deu mais
prova de baixo jornalismo, que precisa ser denunciado em todos os
fóruns, sobretudo nas escolas de comunicação onde são formados os
futuros repórteres que ocuparão as redações.
*Mário Augusto Jakobskind. É
correspondente no Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador
do Pasquim, repórter da Folha de São Paulo e editor internacional da
Tribuna da Imprensa. Integra o Conselho Editorial do seminário Brasil de
Fato. É autor, entre outros livros, de América que não está na mídia,
Dossiê Tim Lopes - Fantástico/IBOPE
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