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10/01/2014
Como as médicas cubanas lidam com a questão da língua: Diário de Melgaço, parte 3
Na terceira etapa de seu Diário de Melgaço, a documentarista Alice Riff relata uma visita a um senhor de 68 anos feita pelas duas médicas cubanas que chegaram recentemente à cidade. Como eles se comunicam? Alice viu e responde.
Choveu a noite toda. Acordamos cedinho para acompanhar a médica cubana Maribel Herrera nas visitas domiciliares.
Ainda chovia, e as ruas estavam alagadas e cheias de lama. Em dias de chuva, a cidade fica tomada por uns bichinhos pretos voadores que parecem cupim.
A primeira casa em que paramos era foi a de Francisco Souza da Silva, de 68 anos. Para chegar a ela é preciso subir uma escada de madeira com dois lances, sem corrimão.
As madeiras escorregavam por causa da chuva. Maribel precisou da ajuda de um agente de saúde para subir.
Na parte térrea a família guarda lenha para o fogão, algumas galinhas e muito lixo espalhado. Logo na entrada, há uma sala com cozinha, sem paredes, com uma rede, algumas cadeiras, e uma caixa d’água, aberta, cheia de água. A água é amarela, com muitos insetos e bichinhos mortos.
Francisco estava na rede. Ele está velhinho, e sentia tontura e fraqueza. Maribel mediu sua pressão e viu que estava alta.
As filhas e a mulher de Francisco mostraram para Maribel os remédios que ele tomava.
As filhas não estavam dando os remédios corretamente, com a regularidade certa. Maribel organizou tudo de novo com elas.
Observei toda a visita, que durou por volta de quarenta minutos. Maribel conversou com tranquilidade com o paciente e suas filhas e esposa. Ela fala devagar e alto, e o tempo todo se certifica se estão compreendendo. Faz perguntas e as pessoas respondem.
Não sei como era no começo, logo que elas chegaram. Mas agora, quatro meses já em Melgaco, sinto que a língua não é um problema.
Perguntei para o agente de saúde Manoel Mamed sobre a dificuldade da língua. Ele contou que no começo era mais complicado. Mas explicou que sempre as médicas nas visitas estão acompanhadas de um agente. Quando preciso, o agente faz traduções.
Perguntei para ele o que estava achando dos novos médicos em Melgaço. “Melhorou 100%. Antes não havia visita médica nas casas dos acamados. Eu e os outros agentes de saúde vínhamos, mas só orientávamos com relação a água e prevenção. As médicas checam a medicação, encaminham as coisas. É muito mais eficaz.”
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