11/07/2014
MISTÉRIO ARGENTINO
Implicância com Seleção Argentina tem origem no complexo de vira-lata, que substituiu Fuleco como mascote da Copa
Falando com
clareza: uma das provas definitivas de subdesenvolvimento mental
consiste em torcer contra a Argentina na final de domingo.
Toda pessoa
tem seu gosto e sua preferência. Os povos têm sua identidade, sua
história e sua cultura, que uns podem admirar ou não.
É claro é legítimo torcer a favor da Alemanha, também.
Mas se é para procurar motivos para implicar com um país…
Eu me pergunto pela motivação interna, profunda, de quem diz que “não gosta dos argentinos.” Seria uma forma de racismo?
A
implicância de uma parte de brasileiros com a Argentina tem sua origem
num velho conhecido da Copa das Copas. Ele mesmo, o complexo de
vira-lata.
Deixando de
lado, por um minuto, o 7 a 1, o único fracasso da Copa das Copas de 2014
foi o mascote Fuleco. O verdadeiro bichinho de estimação é o vira-lata.
Embora o
Brasil tenha um PIB infinitamente maior do que o da Argentina, e ocupe
um lugar no Continente de liderança não mais questionada, etc, etc, etc,
os argentinos provocam um sentimento de insegurança e inferioridade
que acompanha muitos brasileiros.
Estes ficam
felizes quando o vizinho enfrenta dificuldades. Dizem bem-feito até para
a cobiça de fundos abutres que ameaçam derrubar a economia do país e
até atingir o Brasil e outras partes do mundo.
Vira-latas
têm raiva de espelhos que ajudam a mostrar algumas de suas verdades e
preferem olhar-se em imagens que confirmam seus enganos e confortos.
Estamos
falando de um vizinho que em certos aspectos ajuda a lembrar nosso
próprio atraso, o que poderia ser útil para debater a formação dos dois
países, mas nem sempre é agradável. Reformas sociais que o Brasil sequer
alcançou nos dias de hoje são uma conquista histórica dos argentinos.
Os índices de educação são infinitamente superiores. O país é menos
desigual.
Embora boa
parte de sua riqueza tenha sido dizimada por delírios liberais iniciados
na ditadura de 1976 e prolongados quando o governo Carlos Menén
estabeleceu relações carnais com o império americano, entrando numa fase
de regressão em vários setores, o país não deixou de acumular novidades
que mexem com a estima – já baixa – de quem precisa da desgraça alheia
para ter certeza de que tudo vai bem em casa.
Os
argentinos acumularam quatro Premios Nobel. Também fizeram um papa.
Brasil é zero nestes quesitos. Tem gente que se sente menor por isso.
Pode?
Claro que pode. Essa é a esperança de quem sonha em transformar uma vitória argentina, domingo, numa derrota brasileira.
Após a
derrota fora do campo, pela Copa das Copas, bem sucedida até para
investigar mafiosos dos ingressos, o que nunca se fez em nenhuma outra
Copa, nem na da Alemanha, o que se quer é estimular baixos intintos para
ganhar votos em outubro.
Honestamente…nem
o mais pessimista iria imaginar um programa de campanha tão rasteiro.
Enquanto se estimula de todas as formas uma rejeição contra os
argentinos, se torce secretamente pela vitória de Messi & seus
companheiros na esperança de prejudicar Dilma Rousseff.
É com este tipo de debate político que a oposição quer chegar ao Planalto? Deve ser.
Não custa
lembrar que a rivalidade entre brasileiros x argentinos ( e vice-versa)
tem origem externa. Interessados desde o século XIX em dividir para
reinar na América do Sul, Estados Unidos e Inglaterra sempre trabalharam
para estimular competições inúteis e conflitos desnecessários, jogando
uns contra os outros para que a melhor parte do butim ficasse com os
outros.
Um dos
ganhos da democratização ocorrida nas últimas décadas foi a descoberta
de que os dois maiores países da América do Sul só tem a ganhar quando
se aproximam. Suas economias se complementam, os mercados têm escala e
atraem investimentos. Muitos empregos brasileiros dependem de compras
feitas do outro lado da fronteira. A recíproca também é verdadeira.
Viajando ao país
por todos os meios a seu alcance, hospedando-se em todas as alternativas
de seu bolso, as centenas de milhares de argentinos ajudaram a escrever
algumas das mais belas páginas desta Copa que termina. E é preciso
muito – mas muito – complexo de vira-lata para não perceber a
importância de tudo isso.
Paulo Moreira Leite. Diretor da Sucursal da ISTOÉ em
Brasília, é autor de "A Outra História do Mensalão". Foi correspondente
em Paris e Washington e ocupou postos de direção na VEJA e na Época.
Também escreveu "A Mulher que Era o General da Casa".
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