quinta-feira, 24 de julho de 2014

Contraponto 14.276 - "A tentativa de retorno da velha direita brasileira"



 
MARILZA DE MELO FOUCHER 

Marilza De Melo FoucherExiste no Brasil uma estratégia muito bem articulada com os setores conservadores da sociedade que contam com o apoio da grande imprensa para preparar o retorno dos neoliberais ao poder. Entretanto, o discurso utilizado contra a Presidente Dilma Rousseff e seu partido - PT - parece não encontrar o eco necessário junto à maioria da população, hoje muito mais politizada e menos manipulável.

O desespero se ampara dos conservadores brasileiros que esperavam a derrota da seleção brasileira e apostavam no fracasso total do evento da Copa mundial de futebol. O movimento "Não Vai Ter Copa" saiu de campo com a bola furada! A campanha orquestrada no plano internacional para desacreditar o Brasil foi logo desmascarada. O principal motor do aquecimento da campanha presidencial da oposição falhou. Todavia, ela não desarmou sua fortaleza e tudo já está preparado para a guerra política. No momento que se aproxima a data da abertura oficial da campanha presidencial o debate político vai se intensificar, todavia, a tendência é de denegrir a política. Pelo visto, esta campanha se anuncia como a mais violenta da historia da política brasileira. Possuídos pelo sentimento de ódio, os representantes da direita, da elite conservadora, perderam a capacidade do raciocínio político. Dificilmente forjarão argumentos para entender por que perderam três eleições presidenciais. Dificilmente esta ala reacionária da direita entenderá por que um partido político como o PT chega ao poder liderado por um operário metalúrgico que sem maioria para governar, chega a compor com partidos ditos de direita e do centro e cria uma aliança estratégica com o poder econômico e financeiro simplesmente para salvar o país da bancarrota. Patriotismo econômico?

Diriam alguns... Como este pequeno operário e sua equipe conseguiram governar um país de dimensão continental dentro das normas republicanas, sem grandes conflitos que pudessem paralisar o funcionamento da democracia?

Como negar que o Brasil saiu da periferia para ser um ator influente na cena internacional graças aos governos de Lula e Dilma? Na certa, os artesãos de um mundo para todos estão conscientes do papel que o Brasil pode jogar diante de um mundo multipolar. Todos esses avanços perturbam a estratégia política dos conservadores de direita no Brasil. (Grifos em verde negritado são do ContrapontoPIG)


Dar respostas coerentes com instrumentos pertinentes de análises política e econômica será quase impossível para aqueles que não se renovaram politicamente. Isto é fácil de observar, tendo em vista que no plano ideológico o discurso dos adversários de direita é retrógrado e não corresponde mais à evolução do pensamento político face ao desafio de um mundo multipolar.

Talvez o melhor fosse dizer que existem hoje no Brasil velhas direitas e esquerdas inovadoras que buscam alternativas num modo de governar face à predominância do modelo neoliberal mundial.

Esse tipo de "esquerda tropical", por exemplo, a que governa o Brasil nesses últimos dez anos, foge de todos os critérios de enquadramento ideológico que lhe quer impor o campo da velha direita herdeira da Casa Grande e Senzala. Os reacionários desta direita rançosa que defendeu a ditadura no Brasil contra o perigo vermelho até hoje continua a promover um anticomunismo primário que integram suas mentes afetadas por uma visão simplista, reducionista que eles têm do Bem e do Mal.
A esquerda na América Latina, com rara exceção, é uma esquerda que renunciou a transformar a sociedade pela via revolucionária, preferindo transformá-la pela via democrática que incentiva a participação social. Ao mesmo tempo em que tenta conciliar um modelo de desenvolvimento mais igualitário respeitoso dos direitos humanos. Trata-se de uma esquerda que não é contra a economia de mercado, todavia, tenta criar uma economia mais solidária. Incentiva as empresas privadas a investir em obras públicas optando por parcerias com o Estado.

O Estado sob os governos de Lula e Dilma se definiu como um Estado regulador e promotor da inclusão social. Vale ressaltar que, apesar de a maioria de brasileiros ter dado preferência aos candidatos do PT nesses últimos anos, isto não quer dizer que as forças reacionárias e conservadoras tenham diminuído no Brasil. Ao contrário, a ala conservadora se revigora, surge hoje muito mais articulada e muito mais perigosa. Eles serão capazes de investir todos os meios necessários para impedir um novo mandato para a Presidente Dilma. Hoje a direita busca aliados até no campo da esquerda da esquerda, nos extremos. Uma direita que sem argumentos e sem proposta alternativa aposta no desgaste dos dez anos de governos do Partido dos Trabalhadores. Repetem em bloco que o PT e Dilma são responsáveis por tudo de mal que aconteceu no Brasil, inclusive do vírus da corrupção que contaminou todas as instâncias do poder e que persiste há séculos no Brasil!

Dotados de amnésia política, esquecem que eles estiveram ocupando todos os poderes durante várias décadas. Eles não somente compraram votos para a reeleição de FHC, mas assaltaram as riquezas nacionais vendendo as grandes empresas públicas, privatizando as riquezas do solo e subsolo a preços abaixo do mercado. Eles praticaram uma política de depreciação do patrimônio nacional. Se eles tivessem permanecido por mais um mandato, a Petrobras seria privatizada como foi a Vale do Rio Doce!

Apesar do bombardeamento mediático, vai ser difícil suprimir da memória de um povo a crise econômica, a agravação das desigualdades sociais, da miséria urbana e rural vivida por milhões de brasileiro nos períodos fastos da ideologia neoliberal defendida pelo PSDB e aliados.

Levar uma discussão a fundo sobre os resultados dos programas tanto econômico como social dos governos do PT e aliados é uma tarefa difícil para uma oposição rancorosa e movida pelo ódio.
A direita no Brasil tem um magro balanço, apesar de quase um século controlando as rédeas de todos os poderes no Brasil. Esta nunca se deu conta que uma sociedade desigual engendra violência e acumula problemas sociais. Daí o descaso que sempre tiveram no tratamento da exclusão social.

Basta ler e escutar o que diziam a respeito do Bolsa Família. Para eles, o Bolsa Família era a "Bolsa Esmola", era um programa puramente clientelista. Depois que a ONU considerou o programa como o melhor exemplo a ser seguido de política pública de distribuição de renda no mundo, eles passaram o formatar um novo discurso.

Nesse contexto, parece oportuno destacar a importância de políticas públicas voltadas ao combate à pobreza e às iniquidades durante os governos de Lula e Dilma. Apesar de todos os investimentos, o atraso acumulado durante séculos fazem que os índices de desigualdades no Brasil ainda continuam elevados. Sabe-se que as desigualdades geram uma sociedade enferma, sem auto-estima, inclusive depressiva. Um dos indicadores do sucesso dos programas de inclusão social realizados pelos governos de Lula e Dilma é justamente o aumento da auto-estima nas camadas pobres.

O dilema da velha direita será de argumentar com velhas receitas que o neoliberalismo continua sendo a melhor via para governar o Brasil.

A Presidente Dilma, mesmo sendo criticada pela oposição de esquerda, talvez tenha mais capacidade para propor mudanças para seu segundo mandato do que a velha direita e seus aliados. Estes conservadores têm um passado e um presente comprometido com a filosofia e ideologia neoliberal.
Para os adeptos do neoliberalismo o Estado deveria ser privatizado perdendo seu papel de regulador econômico e social. Como denunciar a falta de serviços públicos quando eles sempre defenderam a privatização?

O que está em jogo hoje é um projeto de sociedade baseado numa nova concepção de desenvolvimento que leve em conta a dimensão humana e os desafios ambientais. A crise econômica re-legitimou o papel do estado, todavia, urge agora uma redefinição no modo de intervir no desenvolvimento territorial brasileiro levando em conta o potencial sócio-econômico-cultural e a diversidade de nossos ecossistemas. A referência "desenvolvimentista" baseada numa concepção puramente economicista não é suficiente para reduzir os desequilíbrios regionais, diminuir as desigualdades no meio rural ou melhorar as condições de vida em nossas cidades.

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