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03/12/2015
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Dilma Rousseff, Presidenta do Brasil, país membro do BRICS, é próximo alvo de Washington
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Recadastraphoto - 3/12/2014
18/11/2014, [*] F. William Engdahl, NEO – New Eastern Outlook
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Traduzido por Renato Guimarães e distribuído p/ Vila Vudu
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O porquê do terceiro turno... . |
Para ganhar o segundo turno das eleições contra o candidato apoiado pelos Estados Unidos, Aécio Neves, em 26 outubro de 2014, a presidenta
recém-reeleita do Brasil, Dilma Rousseff, sobreviveu a uma campanha
maciça de desinformação do Departamento de Estado estadunidense. Não
obstante, já está claro que Washington abriu uma nova ofensiva contra um
dos líderes chave do BRICS, o grupo não alinhado de economias
emergentes – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Com a
campanha de guerra financeira total dos Estados Unidos para enfraquecer a
Rússia de Putin e uma série de desestabilizações visando a China,
inclusive, mais recentemente, a “Revolução dos Guarda-Chuvas” financiada
pelos Estados Unidos em Hong Kong, livrar-se da presidente socialmente
propensa do Brasil é uma prioridade máxima para deter o polo emergente
que se opõe ao bloco da Nova (des)Ordem Mundial de Washington.
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A
razão por que Washington quer se livrar de Rousseff é clara. Como
presidente, ela é uma das cinco cabeças do BRICS que assinaram a
formação do Banco de Desenvolvimento do BRICS, com capital inicial
autorizado de 100 bilhões de dólares e um fundo de reserva de outros 100
bilhões de dólares. Ela também apoia uma nova Moeda de Reserva
Internacional para complementar e eventualmente substituir o dólar. No
Brasil, ela é apoiada por milhões de brasileiros mais pobres, que foram
tirados da pobreza por seus vários programas, especialmente o Bolsa
Família, um programa de subsídio econômico para mães e famílias da baixa
renda. O Bolsa Família tirou uma população estimada de 36 milhões de
famílias da pobreza através das políticas econômicas de Rousseff e de
seu partido, algo que incita verdadeiras apoplexias em Wall Street e em Washington.
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Líderes dos países BRICS . |
Apoiado
pelos Estados Unidos, seu rival na campanha, Aécio Neves, do Partido da
Social Democracia Brasileira (PSDB), serve aos interesses dos magnatas e
de seus aliados de Washington.
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O
principal assessor econômico de Neves, que se tornaria Ministro da
Fazenda no caso de uma presidência de Neves, era Armínio Fraga Neto,
amigo íntimo e ex-sócio de Soros e seu fundo hedge Quantum. O
principal conselheiro de Neves, e provavelmente seu Ministro das
Relações Exteriores, tivesse ele ganhado as eleições, era Rubens Antônio
Barbosa, ex-embaixador em Washington e hoje Diretor da ASG em São
Paulo.
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A
ASG é o grupo de consultores de Madeleine Albright, ex-Secretária de
Estado norte-americana durante o bombardeio da Iugoslávia em 1999.
Albright, dirigente do principal grupo de reflexão dos Estados Unidos, o
Conselho sobre Relações Exteriores, também é presidente da primeira ONG
da “Revolução Colorida” financiada pelo governo dos Estados Unidos, o
Instituto Democrático Nacional (NDI). Não é de surpreender que Barbosa
tenha conclamado, numa campanha recente, o fortalecimento das relações
Brasil-Estados Unidos e a degradação dos fortes laços Brasil-China,
desenvolvidos por Rousseff na esteira das revelações sobre a espionagem
norte-americana da Agência Nacional de Segurança (NSA) contra Rousseff e
o seu governo.
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Surgimento de escândalo de corrupção
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Durante
a áspera campanha eleitoral entre Rousseff e Neves, a oposição de Neves
começou a espalhar rumores de que Rousseff, que até então jamais fora
ligada à corrupção tão comum na política brasileira, estaria implicada
num escândalo envolvendo a gigante estatal do petróleo, a Petrobras. Em
setembro, um ex-diretor da Petrobras alegou que membros do governo
Rousseff tinham recebido comissões em contratos assinados com a gigante
do petróleo, comissões estas que depois teriam sido empregadas para
comprar apoio congressional. Rousseff foi membro do conselho de
diretores da companhia até 2010.
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Agora,
em 2 de novembro de 2014, apenas alguns dias depois da vitória
arduamente conquistada por Rousseff, a maior firma de auditoria
financeira dos Estados Unidos, a Price Waterhouse Coopers se recusou a
assinar os demonstrativos financeiros do terceiro trimestre da
Petrobras. A PWC exigiu uma investigação mais ampla do escândalo
envolvendo a companhia petrolífera dirigida pelo Estado.
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Dilma Rousseff . |
A Price Waterhouse Coopers é uma das firmas de auditoria, consultoria tributária e societária e de negócios mais
eivadas de escândalos dos Estados Unidos. Ela foi implicada em 14 anos
de encobrimento de uma fraude no grupo de seguros AIG, o qual estava no
coração da crise financeira norte-americana de 2008. E a Câmara dos
Lordes britânica criticou a PWC por não chamar atenção para os riscos do
modelo de negócios adotado pelo banco Northern Rock, causador de um
desastre de grandes proporções na crise imobiliária de 2008 na
Grã-Bretanha, cliente que teve que ser resgatado pelo governo do Reino
Unido. Intensificam-se os ataques contra Rousseff, disto podemos ter
certeza.
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A estratégia global de Rousseff
Não
foi apenas a aliança de Rousseff com os países do BRICS que fez dela um
alvo principal da política de desestabilização de Washington. Sob seu
mandato, o Brasil está agindo com rapidez para baldar a vulnerabilidade à
vigilância eletrônica norte-americana da NSA .
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Dias
após a sua reeleição, a companhia estatal Telebras anunciou planos para
a construção de um cabo submarino de telecomunicações por fibra ótica
com Portugal através do Atlântico. O planejado cabo da Telebras se
estenderá por 5.600 quilômetros,
da cidade brasileira de Fortaleza até Portugal. Ele representa uma
ruptura maior no âmbito das comunicações transatlânticas sob domínio da
tecnologia norte-americana. Notadamente, o presidente da Telebras,
Francisco Ziober Filho, disse numa entrevista que o projeto do cabo será
desenvolvido e construído sem a participação de nenhuma companhia
estadunidense.
As
revelações de Snowden sobre a NSA em 2013 elucidaram, entre outras
coisas, os vínculos íntimos existentes entre empresas estratégicas chave
de tecnologia da informática, como a Cisco Systems, a Microsoft e
outras, e a comunidade norte-americana de inteligência. Ele declarou
que:
A questão da integridade e vulnerabilidade de dados é sempre uma preocupação para todas as companhias de telecomunicações.
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O
Brasil reagiu aos vazamentos da NSA periciando todos os equipamentos de
fabricação estrangeira em seu uso, a fim de obstar vulnerabilidades de
segurança e acelerar a evolução do país rumo à autossuficiência
tecnológica, segundo o dirigente da Telebras.
Até
agora, virtualmente todo tráfego transatlântico de TI encaminhado via
costa leste dos Estados Unidos para a Europa e a África representou uma
vantagem importante para espionagem de Washington.
Espionagem! |
Reagindo
aos vazamentos de Snowden, o governo Rousseff ordenou a extinção dos
contratos com a Microsoft para serviços de e-mail com Outlook. Rousseff
declarou na época que o gesto visava ajudar a “impedir possíveis
espionagens”. Em vez disso, o Brasil está se nacionalizando com o seu
próprio sistema de e-mail, denominado Expresso, desenvolvido pelo
Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), de propriedade do
Estado. O Expresso já é utilizado por 13 dos 39 ministérios do país. O
porta-voz do Serpro, Marcos Melo, declarou:
O Expresso está 100 por cento sob nosso controle.
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Se
verdadeiro ou ainda incerto, o fato é que sob Rousseff e de seu partido
o Brasil está trabalhando para fazer o que ela considera ser o melhor
para interesse nacional do Brasil.
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A geopolítica do petróleo também é chave
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O Brasil também está se livrando do domínio anglo-americano sobre sua exploração de petróleo e de gás. No final de 2007, a Petrobras
descobriu o que considerou ser uma nova e enorme bacia de petróleo de
alta qualidade na plataforma continental no mar territorial brasileiro
da Bacia de Santos. Desde então, a Petrobras perfurou 11 poços de
petróleo nesta bacia, todos bem-sucedidos. Somente em Tupi e em Iara, a
Petrobras estima que haja entre de 8 a 12
bilhões de barris de óleo recuperável, o que pode quase dobrar as
reservas brasileiras atuais de petróleo. No total, a plataforma
continental do Brasil pode conter mais de 100 bilhões de barris de
petróleo, transformando o país numa potência de petróleo e gás de
primeira grandeza, algo que a Exxon e a Chevron, as gigantes do petróleo
norte-americano, se esforçaram arduamente para controlar.
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Em 2009, segundo cabogramas diplomáticos norte-americanos vazados e publicados pelo Wikileaks,
a Exxon e a Chevron foram assinaladas pelo consulado estadunidense no
Rio de Janeiro por estarem tentando, em vão, alterar a lei proposta pelo
mentor e predecessor de Rousseff em seu Partido dos Trabalhadores, o
presidente Luís Inácio Lula da Silva, ou Lula, como ele é chamado.
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Esta
lei de 2009 tornava a estatal Petrobras operadora-chefe de todos os
blocos no mar territorial. Washington e as gigantes estadunidenses do
petróleo ficaram furiosos ao perderem controles-chave sobre a descoberta
da potencialmente maior jazida individual de petróleo em décadas.
Dilma Rousseff e Joe Biden |
Para
tornar as coisas piores aos olhos de Washington, Lula não apenas
afastou a Exxon Mobil e a Chevron de suas posições de controle em favor
da estatal Petrobras, como também abriu a exploração do petróleo
brasileiro aos chineses. Em dezembro de 2010, num dos seus últimos atos
como presidente, ele supervisionou a assinatura de um acordo entre a
companhia energética hispano-brasileira Repsol e a estatal chinesa
Sinopec. A Sinopec formou uma joint venture, a Repsol Sinopec
Brasil, investindo mais de 7,1 bilhões de dólares na Repsol Brasil. Já
em 2005, Lula havia aprovado a formação da Sinopec International
Petroleum Service of Brazil Ltd, como parte de uma nova aliança
estratégica entre a China e o Brasil, precursora da atual organização do
BRICS.
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Washington não gostou
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Em
2012, uma perfuração conjunta, Repsol Sinopec Brazil, Norway’s Stateoil
e Petrobras, fez uma descoberta de importância maior em Pão de Açúcar, a
terceira no bloco BM-C-33, o qual inclui Seat e Gávea, esta última uma
das 10 maiores descobertas do mundo em 2011. As maiores do petróleo
estadunidense e britânico absolutamente sequer estavam presentes.
Com
o aprofundamento das relações entre o governo Rousseff e a China, bem
como com a Rússia e com outros parceiros do BRICS, em maio de 2013, o
vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, veio ao Brasil com sua
agenda focada no desenvolvimento de gás e petróleo. Ele se encontrou com
a presidenta Dilma Rousseff, que havia sucedido ao seu mentor Lula em
2011. Biden também se encontrou com as principais companhias energéticas
no Brasil, inclusive a Petrobrás.
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Embora
pouca coisa tenha sido dita publicamente, Rousseff se recusou a
reverter a lei do petróleo de 2009 de maneira a adequá-la aos interesses
de Biden e de Washington. Dias depois da visita de Biden, surgiram as
revelações de Snowden sobre a NSA, de que os Estados Unidos também
estavam espionando Rousseff e os funcionários de alto escalão da
Petrobras. Ela ficou furiosa e, naquele mês de setembro, denunciou a
administração Obama diante da Assembleia Geral da ONU por violação da
lei internacional. Em protesto, ela cancelou uma visita programada a
Washington. Depois disso, as relações Estados Unidos-Brasil sofreram um
grave resfriamento.
Dilma e Lula |
Antes
da visita de Biden em maio de 2013, Dilma Rousseff tinha uma taxa de
popularidade de 70 por cento. Menos de duas semanas depois da visita de
Biden ao Brasil, protestos em escala nacional convocados por um grupo
bem organizado chamado Movimento Passe Livre, relativos a um aumento
nominal de 10 por cento nas passagens de ônibus, levaram o país
virtualmente a uma paralisação e se tornaram muito violentos. Os
protestos ostentavam a marca de uma típica “Revolução Colorida”, ou
desestabilização via Twitter, que parece seguir Biden por onde quer que
ele se apresente. Em semanas, a popularidade de Rousseff caiu para 30
por cento.
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Washington
enviara claramente um sinal de que Rousseff teria que mudar de curso ou
enfrentar sérios problemas. Agora que ela ganhou a reeleição e derrotou
os oligarcas bem financiados da direita e a oposição, está claro que
Washington vai lançar mão de uma energia renovada para tentar se livrar
de mais um líder do BRICS, numa tentativa cada vez mais desesperada de
manter o status quo. Parece que o mundo já não se põe mais em
prontidão como fez nas décadas passadas quando Washington dava suas
ordens de marcha. O ano de 2015 será uma aventura não só para o Brasil,
mas para todo o mundo.
[*] Frederick William Engdahl é jornalista, conferencista e consultor para riscos estratégicos. É graduado em política pela Princeton University; autor consagrado e especialista em questõesenergéticas e geopolítica da revista online New Eastern Outlook.
Nascido
em Minneapolis, Minnesota, Estados Unidos, é filho de F. William
Engdahl e Ruth Aalund (nascida Rishoff). F.W. Engdahl cresceu no Texas, e
depois de se formar em engenharia e jurisprudência naPrinceton University em 1966 (bacharelado), e pós-graduação em economia comparativa da University of Stockholm 1969-1970.
Trabalhou como economista e jornalista free-lance em Nova York e na
Europa. Começou a escrever sobre política do petróleo, com o primeiro
choque do petróleo na década de 1970. Tem sido colaborador de longa data
do movimento LaRouche.
Seu primeiro livro foi A Century of War: Anglo-American Oil Politics and the New World Order,
onde discute os papéis de Zbigniew Brzezinski, de George Ball e dos EUA
na derrubada do xá do Irã em 1979, que se destinava a manipular os
preços do petróleo e impedir a expansão soviética. Engdahl afirma que
Brzezinski e Ball usaram o modelo de balcanização do mundo islâmico
proposto por Bernard Lewis.Em 2007, completou seu livro Seeds of Destruction: The Hidden Agenda of Genetic Manipulation. Seu último livro foi: Gods of Money: Wall Street and the Death of the American Century (2010).
Engdahl é autor frequente do sítio do Centre for Research on Globalization. É casado desde 1987 e vive há mais de duas décadas perto de Frankfurt am Main, na Alemanha.
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