07/03/2015
Há algo errado no método da Lista de Janot.
Amigos do Presidente - sábado, 7 de março de 2015
Por: Zé Augusto
Pedido de abertura de inquérito sequer é indiciamento. É apenas a necessária autorização do STF para o Ministério Público poder colher depoimentos de testemunhas, do próprio investigado com fôro privilegiado e fazer outras diligências em busca de provas que podem não aparecer e levar à extinção do inquérito.
Há inquéritos e inquéritos. Alguns políticos investigados na Lava Jato, por exemplo, estão enrolados até o pescoço com Alberto Youssef, tendo até helicóptero supostamente comprado pelo doleiro.
Sobre outros pairam apenas dúvidas sobre doações legais para campanha, que os próprios Procuradores da República podem chegar a conclusão que o então candidato recebeu de boa fé sem saber que o doador estava envolvido em algum ilícito, e o próprio Procurador Geral da República pode vir a pedir o arquivamento do inquérito após esclarecer os pontos em dúvida.
O caso do senador Humberto Costa (PT-PE), por exemplo, é este último. Não é a primeira vez que ele é acusado injustamente durante período eleitoral. Em 2006 ele caminhava para vencer as eleições para governador de Pernambuco quando "plantaram" seu nome como acusado na operação Vampiro.
O fato foi explorado na mídia pernambucana e nacional e pelos adversários, o que acabou fazendo ele ficar fora do segundo turno. Passadas as eleições, depois de investigado ele acabou inocentado. Agora o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa diz que teria ajudado Humberto a conseguir uma doação legal para a campanha de 2010. Ainda não foi divulgado as razões do Ministério Público para abertura de inquérito, mas doação legal não tem nada de errado. Doação de empreiteiras e bancos é a coisa mais comum do mundo, pois elas doam para praticamente todos, e tem muitos políticos que recebem doação e nunca foram desonestos. E, além disso, ninguém sabia que Paulo Roberto Costa era corrupto, a não ser quem participava do esquema. Tanto é verdade que o próprio Ministério Público nunca o investigou antes e ele só foi pego por acaso, em 2014.
O próprio senador Humberto Costa, tão logo surgiram notícias há alguns meses citando seu nome, ofereceu espontaneamente seus sigilos bancários, fiscal, telefônico e o que mais quisessem pedir, para provar sua inocência.
Misturar todos no mesmo pacotão leva à ideia errada de pré-condenação de todos, principalmente pelo noticiário sensacionalista em clima de inquisição que vem sendo praticado, primeiro com fins eleitorais e, passadas as eleições, com fins de envenenar o povo com versões falsas contra o governo Dilma.
Numa republica ideal seria muito mais lúcido ir abrindo inquéritos, um a um, à medida que os fatos pedissem, ainda que fosse apenas delação premiada, em vez de criar a estigmatizada "Lista de Janot".
Só duas razões me vem à cabeça para empacotar todas as denúncias em um embrulho só:
1) Síndrome do holofote: à semelhança da AP-470, vulgo mensalão, o objetivo teria sido criar volume para parecer o "maior escândalo de todos os tempos", valendo fazer a mais alta Côrte de Justiça do Brasil pagar o mico de julgar uma auxiliar administrativa "mequetrefe". Agora, na Lava Jato, inquéritos avulsos teriam menor impacto midiático do que um pacotão de inquéritos. Inclusive a "Lista de Janot" dá mais suspense e dá mais ibope no noticiário. Só que tumultua e prejudica o ato de fazer justiça com a racionalidade que um processo judicial pede.
2) Redução de pressões políticas e interferências que, em geral, se dão através da pressão da mídia alinhada com a oposição. Ao abrir inquérito sobre todos de uma vez, evita-se o bate-boca sobre seletivismo de denúncias, e todos denunciados reclamam ao mesmo tempo. Esta é uma explicação razoável e justificável, mas mostra fragilidade da instituição diante das pressões midiáticas.
Se a hipótese 2 for verdadeira, a instituição Ministério Público estaria reconhecendo a necessidade de neutralizar interferências midiáticas e políticas em seu trabalho e, neste caso, o próprio MP precisa fazer sua comunicação para que seus atos sejam bem compreendidos pela população com transparência.
Quando casos ganham repercussão pública e viram alvo de exploração política, a compreensão correta dos fatos é um direito da população como parte do ato de fazer justiça e da transparência dos atos do poder público.
Não se pode deixar a mídia, que tem lado partidário e interesses corporativistas próprios, julgar quais investigados tornam-se perseguidos e quais se tornam protegidos. Quais são "escolhidos" para serem linchados como culpados, e quais são esquecidos no noticiário, como já está esquecido o "mensalão" tucano.
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