Ditadura midiática
Em todo o mundo a imprensa é um dos principais pilares da democracia, defensora da Constituição e baluarte das liberdades. No Brasil é diferente. Aqui a grande mídia é a principal fomentadora do desrespeito à Constituição, incentivadora de golpes e defensora da excepcionalidade. E, ainda, apoiadora do fascismo, disseminadora de ódio, responsável pela criação de um clima de hostilidades que ameaça fazer vítimas fatais a qualquer momento. Graças ao terror que implantou no país, com matérias que, infelizmente, ainda conseguem influenciar brasileiros alienados, paralisou pelo medo o governo, o STF e o Congresso, entre outras instituições.
Como consequência, o Brasil passou a viver sob o jugo de uma ditadura midiática, que tem como executor de sua agenda o Poder Judiciário, através de alguns dos seus membros transformados por ela em celebridades. Não há limites para a ação desse mecanismo ditatorial, que vem criando enormes dificuldades à presidenta Dilma Rousseff em seu segundo mandato, ao mesmo tempo em que robustece a luta de oportunistas da oposição para apeá-la do Palácio do Planalto mediante um golpe mascarado com o nome de impeachment. Qualquer coisa é válida para tentar derrubar a Presidenta, inclusive a palavra de bandidos confessos em delações ditas "premiadas".
A grande mídia conseguiu, inclusive, com suas agressões diárias ao governo e aos petistas, estimular o desrespeito à Presidenta da República até de servidores públicos, na medida em que avaliza e divulga com destaque declarações afrontosas aos seus superiores hierárquicos. O diretor da Policia Federal, por exemplo, afrontou o seu superior hierárquico, o ministro da Justiça, ao afirmar que "a operação Lava-Jato vai continuar com ou sem o ministro José Eduardo Cardozo". O juiz Sergio Moro, por sua vez, respondeu, de forma desrespeitosa, declarações da presidenta Dilma Rousseff. O policial e o magistrado, para isso, certamente se sentem fortalecidos pelo apoio da mídia.
Embora com atraso, porém, já se percebe uma reação de todos os que tem sido vítimas de agressões, a começar pela própria Presidenta. Parece que acabou o jogo sem marcação, o que deverá inibir a ação, inclusive, do senador Aécio Cunha, que estava jogando solto com a sua língua afiada. O presidente nacional do PSDB, contorcendo-se de ódio aos brasileiros que elegeram Dilma, não consegue conformar-se com o resultado das urnas e busca chegar ao poder por processos antidemocráticos. Seu avô materno, o saudoso Tancredo Neves, deve estar se revirando no túmulo, decepcionado e envergonhado com o comportamento do neto, que dele só aproveitou o sobrenome para beneficiar-se do seu prestigio político. O nome dele, na verdade, é Aécio Neves da Cunha, mas não tem nada a ver com o presidente da Câmara dos Deputados. Cunha é o nome do pai, que ele preferiu esquecer para adotar o Neves do avô, de modo a facilitar sua trajetória política.
O fato é que a Presidenta e os partidos aliados, que há tempos estavam na defensiva, acuados pela campanha sistemática da grande mídia e as agressões de Aécio e companhia, resolveram reagir e partir também para o ataque, o que entonteceu a oposição, já habituada a bater sem nenhuma reação. Os sindicatos começaram a se alinhar na defesa do governo e personalidades nacionais de destaque igualmente assumiram publicamente posição em defesa da democracia e da legalidade e legitimidade do governo Dilma Rousseff. E o impeachment, até então considerado favas contadas, perdeu força, apesar de declarações inconsequentes como a do ex-ministro Ayres Brito.
A tentativa da "Folha" de alimentar as chamas do impeachment, mediante uma pesquisa de intenção de votos fora de época para dizer que Aécio só chegará ao Planalto se Dilma for derrubada agora, já não produzirá o efeito desejado por vários motivos: primeiro, a base aliada no Congresso já se mobilizou para brecar qualquer tentativa nesse sentido; segundo, o PSDB, principal partido defensor do impeachment, está dividido e Aécio está sendo isolado em sua cruzada obsessiva contra a Presidenta; e terceiro, as recentes declarações do Papa Francisco sobre o comportamento da mídia certamente irão acordar muita gente que, anestesiada pelo noticiário distorcido, perdeu a capacidade de pensar.
O Sumo Pontífice disse na Bolívia que "a concentração monopolista dos meios de comunicação social que pretende impor padrões alienantes de consumo e certa uniformidade cultural é uma forma de colonialismo. É o colonialismo ideológico". Ele pareceu estar falando sobre a imprensa brasileira quando disse que "sob o nobre disfarce da luta contra a corrupção, o narcotráfico ou o terrorismo – graves males dos nossos tempos que requerem uma ação internacional coordenada – vemos que se impõem aos Estados medidas que pouco têm a ver com a resolução de tais problemáticas e muitas vezes tornam as coisas piores". E finalizou: "Hoje o clima midiático tem suas formas de envenenamento. As pessoas sabem, percebem, mas infelizmente se acostumam a respirar da rádio e da televisão um ar sujo, que não faz bem. É preciso fazer circular um ar mais limpo. Para mim, os maiores pecados são aqueles que vão na estrada da mentira, e são três: a desinformação, a calúnia e a difamação". Ele disse tudo.
Ribamar Fonseca. Jornalista, membro da Academia Paraense de Jornalismo e da Academia Paraense de Letras; tem 16 livros publicados.
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