03/09/2015
Esconda o bico, FHC, por Jandira Feghali
Jornal GGN - qui, 03/09/2015 - 19:27
Enviado por Webster Franklin
Do Viomundo
Jandira Feghali, especial para o Viomundo
A família Ramphastidae, com mais de 33
tipos de tucanos, tem um hábito curioso. Dorme com o bico enorme
escondido sob as asas e a cauda dobrada sobre o dorso, cobrindo a
cabeça. Seus parentes na política não seguem a mesma conduta. Talvez a
falta de descompostura na arte de abrir tanto o bico para acusar os
tenha impedido de esconder seus bicos quando deveriam.
Talvez os golpistas da atualidade não se
recordem, mas uma longa lista de crimes dos governos tucanos ainda
pairam sob enormes dúvidas. Da pasta rosa ao Caso SIVAM, a mesma justiça
que hoje apura a Operação Lava-Jato, atravessou a década de 90 num
silêncio sepulcral para a maior parte dessas denúncias.
Comecemos pelo Caso SIVAM. No início do
primeiro mandato presidencial, FHC viu seu Governo afundado em denúncias
de tráfico de influência para contratação e execução de um misterioso
sistema de vigilância na Amazônia. O escândalo chegou a bater na porta
do Parlamento na tentativa de se instalar uma CPI para apurar o esquema
de corrupção, mas o ex-presidente tucano tratou de articular seu
bloqueio.
Teve uma boa ajuda do “Engavetador Geral
da República”, Geraldo Brindeiro, que recorrentemente arquivava
denúncias de corrupção contra o governo tucano – bem diferente do que é
feito atualmente por Rodrigo Janot. Quando explodiram denúncias de que
bancos públicos teriam financiado campanhas políticas de parlamentares
da base de FHC através de Caixa 2, o conhecido caso da “pasta rosa”,
Brindeiro varreu todas para debaixo do tapete.
Ainda houve a quebradeira nacional da
privataria tucana, registrada no livro de Amaury Ribeiro Júnior. FHC fez
“preço de banana” para entregar a Companhia Vale do Rio Doce, empresa
de patrimônio único, com gigantesca infraestrutura acumulada. A estatal
foi “vendida” ao capital internacional por meros R$ 3 bilhões, algo que a
companhia lucra atualmente a cada trimestre.
Também vale recordar a misteriosa venda
da extinta Telebrás. Vários grampos divulgados à época revelavam o
envolvimento de lobistas do setor de telefonia com autoridades do
partido do ex-presidente. Informações privilegiadas eram repassadas a
alguns grupos econômicos de forma que os beneficiasse no negócio. Outra
CPI impedida pelos tucanos.
A extinção da Sudene e Sudam, órgãos do
Governo mantidos para estimular o desenvolvimento do Nordeste e
Amazônia, respectivamente, também estão nessa lista. Depois de inúmeras
denúncias de fraude nas administrações, FHC resolveu extinguir as
superintendências em vez de realizar o que a presidenta Dilma tem feito
na Petrobras: criado transparência e facilitado as investigações.
Não se pode esquecer da compra de votos
para sua reeleição de 1998, onde parlamentares da base do Governo teriam
recebido dinheiro para votar a favor de uma emenda constitucional que
criaria esta regra na Constituição Federal. Dois deputados do ex-PFL,
hoje DEM, foram manchete dos jornais ao confirmar a informação. Ambos
foram punidos pelo partido e o caso arquivado, sepultando qualquer outro
tipo de apuração.
Os tucanos, como sua trajetória política
mostra, não possuem moral para dar à Dilma o conselho de renúncia
quando, na verdade, a História só tem mostrado que foi sob a gestão dela
que a Justiça e os órgãos de investigação tiveram fôlego, autonomia e
instrumentos para combater a corrupção tanto abafada na década de 90.
Como na natureza, os tucanos da política
poderiam tomar como referência os tão bonitos Ramphastidae. É hora de
esconder os bicos. O grupo político que lhe toma como símbolo, liderado
pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, não tem autoridade
política nos gorjeios para pedir a renúncia da presidenta Dilma
Rousseff.
Jandira Feghali é médica, deputada federal (RJ) e líder do PCdoB
.
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